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Com amor, dona Carmem!


Imagine uma pessoa sorridente a plantar sementes de girassol na terra fofinha e regando pacientemente, até que virem lindas flores. Agora aplique essa teoria à educação e perceba como são similares. Foco e comprometimento sempre foram duas de suas qualidades mais admiradas. Em tudo que faz coloca boas doses de emoção e amor. Afirma com todas as letras e muito bom humor: “Eu gosto de gente!” e assim confirmamos que mesmo depois de algum tempo ensinar continua sendo a menina dos olhos de Carmem Maria Biscaro Verona. 

Semear o conhecimento não é uma tarefa fácil, é papel para aqueles que sabem misturar e ministrar muito bem a coragem, a determinação o amor e boas doses de bom humor. Ah a educação! Assunto difícil para alguns, paixão para outros. Ao falar de seus 42 saudosos anos de carreira trabalhando com a educação, os olhos de Carmem Maria Biscaro Verona de 70 anos, ainda brilham.

Sendo a mais velha de uma família de nove irmãos, aprendeu desde cedo a partilhar conhecimento. Aos 17 anos iniciou sua carreira como professora em Salto Veloso. Pela falta de professores na comunidade escolar, após concluir o Curso Normal Regional foi convidada pela Diretora da época, Irmã Iolanda Jacobi para trabalhar em cargo temporário com uma turma de segundo ano. Fez estágio e logo ingressou na Escola Isolada da Linha Congonhas. No começo  já teve um grande desafio. 60 alunos em dois turnos de 1º a 4º ano. Fez magistério em Joaçaba em período de férias e logo conseguiu transferência para atuar no Grupo Escolar como Orientadora de Atividades Complementares, Centro Cívico, Jornal Escolar, Pelotão de Saúde e outros. Depois disso trabalhou por vários anos em séries inicias e em 1981 passou a atuar como Orientadora Educacional. Em 1985 houve eleição para a função de diretor, foi eleita e ficou por três anos. Em 1990 voltou à direção onde permaneceu por 13 anos. Trabalhou também por vários anos na Escola Cenecista no Ensino Médio Noturno. Ao todo ela soma 42 anos dedicados à Educação de Salto Veloso. 37 anos de Escola Estadual e mais cinco de Escola Municipal. 

Hoje professora aposentada, com formação em Pedagogia, especialização em Orientação Educacional, Pós-Graduação em Gestão Escolar, mãe e avó lembra alguns dos seus maiores desafios como educadora. Logo no início de carreira trabalhar em escola multiseriada e com escassez de materiais serviu como estímulo. Assumir a direção de uma escola com muitos alunos, quadro reduzido de professores e serventes e apenas uma secretária para auxiliar na direção. Incorporação do Ensino Médio na escola no período noturno, sem infraestrutura adequada, com carência de professores em algumas disciplinas e falta de materiais. Ter que estudar, trabalhar e cuidar da família ao mesmo tempo. No começo foi muito difícil, mas com persistência e dedicação deu tudo certo ao final. 

Fala com muito amor sobre o apoio que recebeu das companheira de trabalho e verdadeiras amigas, as freiras que administravam a escola e conta sobre lições valiosas que aprendeu com elas e que fazem parte da sua personalidade até hoje: “Em tudo o que fizer coloque 50% de razão e 50% de coração, porque só a razão é fria e às vezes cruel e o coração se reveste de amor e compreensão. Ao repreender um aluno ou conversar com seus pais, não condene o aluno e sim sua atitude e se coloque a disposição para ajudar na solução do problema, pois a maneira de conduzir e corrigir conta muito. E por fim nunca pare de buscar conhecimento, acompanhar a evolução sem esquecer as raízes, além de permanecer na ativa”. 

Nas escolas tudo se vive intensamente e as lembranças boas são o que mantém o coração quentinho. Fala com saudade sobre as grandes festas juninas organizadas pela escola e que tinha intensa participação da comunidade, assim como os desfiles em homenagem ao Dia da Pátria ou do Município, com fanfarra e participação de todos os alunos e demais segmentos da sociedade sempre trabalhando temas históricos, com significados bonitos de se ver. Conta com orgulho sobre a implantação do sistema 5 Ss na escola em parceria com a Perdigão, contando com o envolvimento de toda a comunidade, foi um desafio que resultou em grande aprendizado e nova vida à escola. Relembra a mudança de nome da Escola, que se tornou: Escola de Educação Básica Cecília Vivan em homenagem a primeira professora de Salto Veloso, evento que resgatou e deu maior sentido a história. Assim como o Prêmio  em âmbito estadual conquistado em 2001 como Escola Referência, mostrando o resultado do trabalho em equipe e a dedicação e esforço de toda comunidade escolar. Em 2014 recebeu o Prêmio Sal da Terra em Salto Veloso e assim pôde reviver sua trajetória. 

Com um grande sorriso diz que se hoje precisasse escolher uma profissão, escolheria ser educadora. Acrescenta: “Não digo que faria tudo igual, até porquê cada época tem suas características, mas minha consciência está tranquila, dei o melhor de mim. Minha missão foi cumprida com muito amor à profissão, aos alunos e à escola. Amor a nossa terra e nossa gente”. 

Realiza trabalho voluntário e é um membro atuante na comunidade. Fala com orgulho: “O trabalho voluntário faz parte da minha vida. Se viemos para servir, então mãos à obra! Ainda tenho muita disposição e vontade de ser útil. Gosto de gente!”, hoje é catequista, pois encantou-se com a Iniciação à Vida Cristã e com o novo jeito de ser Igreja. Atua há anos na diretoria da Associação Desportiva e Recreativa Sertaneja, faz parte da Câmara Técnica de Infraestrutura do Conselho de Desenvolvimento Local, assim como outros trabalhos beneficentes quando convidada.

Fala com gratidão de suas equipes de trabalho e como foi uma honra trabalhar com tantas pessoas entusiastas e que fizeram com ela a busca pelo conhecimento algo engrandecedor. É conhecida dentro da comunidade velosense como Dona Carmem e conta que sente saudade quando pensa no passado e lembra das crianças que ensinou, conviveu e amou. Hoje adultos, nas mais variadas profissões, com famílias formadas e que contam histórias das quais ela nem se recorda mais.“Eles me contam as histórias com carinho e saudade também. É gratificante ouvir alguém te chamar de professora mesmo depois de tantos anos e perceber o reconhecimento das famílias e ex-alunos que agradecem pelas aulas, palestras e muitas conversas. Ainda ouço: Isto eu aprendi com a Dona Carmem e nunca mais esqueci! Eu fico feliz em ter podido ajudar” . Conta Carmem.

Ela frisa que nem tudo foi um mar de rosas e que errou muitas vezes, mas que conseguiu aprender com seus erros. “Há quem diga que a Dona Carmem era enérgica, mas eu precisava ser. Uma escola grande e sem disciplina dificultaria muito o trabalho. Fazia parte da disciplina o respeito mútuo. E o amor era muito maior do que tudo!” finaliza Carmem. 


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