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A fuga da realidade


Você é viciado em que? Pare e reflita. Qual a única coisa que tem “tapado”, seus buracos internos e suas frustrações? Como seres humanos precisamos aprender a lidar com nossas frustrações de maneira consciente e aprender a acolher as pessoas e compreende-las como seres bio-psico-sócio-espirituais e que possuem inúmeras particularidades e maneiras de entender o mundo a partir da maneira como foram criados. Você compreende os vícios? E o mais importante você sabe como auxiliar alguém que precisa sair de um vício? 

No final do mês passado em meio a uma semana de fechamento, meu celular que já estava com a tela toda despedaçada, decidiu que após mais uma queda, não iria mais funcionar. Eu fiquei tão desesperada e nervosa com o fato, afinal eu tinha tantas coisas para fazer, eu trabalho com meu aparelho de telefone. Depois de alguns dias sem, eu já estava neurótica, não conseguia mais checar minhas redes sociais e não tinha um modo prático de conversar com meus amigos, familiares e clientes. Parei e refleti. É mesmo uma necessidade ou é mais um vício? A palavra vício ficou gritando na minha cabeça. Me senti culpada por ter feito tamanho alarde, quando poderia ter resolvido a questão com mais discernimento. Nos tornamos dependentes de algo e não conseguimos nos virar um dia sequer sem ter aquilo para preencher nossos vazios e nossos silêncios. 

Dentro dos vícios temos uma centena deles e se você é um ser humano as chances de  ser viciado em alguma coisa (bebidas alcoólicas, drogas, comidas, redes sociais, videogames, pornografias, trabalho, entre outros) são bem grandes. O problema é que além de as pessoas terem dificuldade de assumir que possuem um vício, elas ainda debocham do vício dos demais. Essa falta de respeito tem sido muito observada nas redes sociais, quando as pessoas passaram a utilizar o ator Fábio Assunção como sinônimo de festas, bebidas e drogas, fazendo inclusive músicas sobre ele e o utilizando como “tema” e “fantasia” no carnaval. Precisa ficar claro, que nesse caso a dependência química, é muito mais do que apenas um vício, é uma doença que mata milhões de pessoas no mundo, todos os anos. É preciso atenção. O Brasil está no rancking entre os primeiros países que mais consomem drogas no mundo.  A doença de Fábio, não gerou comoção e sim memes. O assunto não é levado a sério pelos jovens, que são os que mais consomem drogas e álcool de maneira desenfreada e que parecem ter extrema dificuldade em ao menos demonstrar a empatia. 

O vício é o hábito ou costume em fazer ou consumir algo, levando a dependência. Fazendo com que essa ação seja irresistível. Devemos deixar muito claro que o que diferencia um hábito de um vício é o fato de que o vício sempre oferece um fator ou efeitos de risco, além de tornar-se recorrente e excessivo. Outra característica clara do vício é a abstinência vivida na ausência do uso, podendo ser manifestados fatores psicológicos como angústia, apatia, sono, depressão, delírios e também fatores físicos, como dores em determinadas partes do corpo. 

As teorias de como se estabelecem vícios, principalmente os ligados à dependência química são muitas. No século XX foram conduzidos experimentos simples com ratos de laboratório, para comprovar como funcionava a dependência. Os pesquisadores colocavam um rato em uma gaiola junto a duas garrafas de água, umas delas continha água pura e a outra água misturada com cocaína ou heroína. Os ratinhos quase sempre escolhiam beber a água com drogas, viciavam-se e rapidamente morriam de overdose. 

Porém no final dos anos 70 um professor de psicologia chamado Bruce Alexander notou que mesmo o experimento sendo válido, a vida do rato era horrível. Ele vivia sozinho dentro de uma gaiola, sem nenhuma distração, apenas com as drogas. Pensando nisso ele resolveu criar a Ratolândia, um verdadeiro paraíso para os ratinhos. Nessa gaiola grande tinham túneis, algumas bolas coloridas, rodinhas para correr e vários outros ratinhos para brincar e conviver, além é claro das duas garrafas, uma com água pura e outra com cocaína ou heroína. Dos ratos utilizados nesse experimento nenhum se utilizou da água com drogas de maneira compulsiva e nenhum morreu de overdose. 

Partindo de uma mortalidade de 100% no primeiro estudo para uma de 0% no segundo, fica claro que existia alguma explicação lógica. Na mesma época estava sendo “realizado” o maior experimento humano relacionado a drogas do mundo, a Guerra do Vietnã. Na guerra 20% das tropas americanas estavam utilizando grandiosas doses de heroína. A população e o governo dos Estado Unidos, já estavam realmente preocupados, pensando na condição de vício que os soldados teriam  ao voltar. Porém ao final da guerra foi realizado um estudo para acompanhar os soldados e o resultado foi surpreendente, a maioria deles não precisou de reabilitação e nem teve crises de abstinência. 95% dos soldados simplesmente parou de usar a droga. 

Se ficarmos presos apenas à teoria de que as drogas geram dependência, apenas pelo fato de as usarmos, esse experimento não faria sentido. Porém se seguirmos a teoria do Dr. Alexander isso faz todo sentido. Vejamos, você está exposto a uma guerra, está no meio da selva e de um país desconhecido, bombas caem a todo instante, você vê amigos morrendo e sofre a pressão de precisar matar ou acabar morrendo a qualquer momento. Usar a droga acaba parecendo a única saída para “aliviar” aquele sofrimento. Porém quando você é ressocializado e volta à sua rotina e para sua família e amigos, o sofrimento acaba e com ele a droga não é mais necessária. Vejamos outro ponto de vista. E se a dependência química não estiver diretamente ligada às substâncias químicas e sim ao meio em que vivemos? Nós seres humanos temos a necessidade de pertencer a algum lugar e fazer parte de algo, sentimos que precisamos sempre estar conectados às pessoas. Quando estamos felizes isso se encaixa perfeitamente, criamos laços mais fortes e resistentes junto de nossas famílias e amigos e somos mais felizes dentro dos ambientes em que nos encontramos. Quando estamos infelizes e sem perspectivas acabamos nos “apegando”, a qualquer outra coisa que nos traga a falsa sensação de felicidade. 

Os vícios, estão associados ao prazer ou recompensas. O viciado busca substâncias ou comportamentos almejando a sensação de bem estar, alívio, relaxamento ou  até mesmo ficam em busca de um funcionamento anormal do seu corpo, vencendo suas limitações físicas psicológicas. Existem alguns sinais claros de que você possa estar se tornando um viciado: Dificuldade no controle dos impulsos, sentindo-se inquieto ou impotente por não recorrer ao comportamento ou substância; dificuldade em admitir que tem um vício, mesmo sendo notável a relação de dependência que está sendo construída; todo gatilho torna-se razão para buscar o elemento em questão e a frequência de uso começa a aumentar gradativamente, tornando-se parte da rotina. 

Existem uma centena de fatores que levam uma pessoa a desenvolver um vícios, como: desequilíbrio emocional, necessidade de ser aceito, baixa autoestima, insegurança, busca por status ou influências, alguns aspectos inclusive vem desde a infância e acarretam nesses fatores desenfreados.  

A intenção da matéria, não é diminuir a dor do outro, nem mensurar a forma com que os vícios acontecem e quais seus fatores. Cada um tem uma história por trás do vício. Nenhum problema nasce do nada e nem vai embora do nada, é preciso descobrir a origem desses vícios e buscar profissionais qualificados, para auxiliar na cura ou contenção dos mesmos. Toda vida importa e os vícios não são brincadeira. Guarde as piadinhas de mau gosto no bolso e fique atento às pessoas que te cercam.


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