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O “Tito” e outros “tipos” - Bolinha Antonio Carlos Pereira


Sei lá cada cidade tem seus tipos característicos, aquelas pessoas iluminadas que parecem se dar bem com todo mundo. Isso também acontece aqui em Joaçaba, nossa amada “Terrinha”, como a chamava saudoso cineasta Rogério Sganzerla.

Assim como a gente reconhece e louva as qualidades do santo local Frei Bruno, do sacerdote construtor Frei Edgar, do Maestro Alfredo Sigwalt, rendemos homenagear aos tipos populares, alguns dos quais lembramos aqui.

Eram tipos memoráveis:


- Paulo Frank vendendo bebida no Estádio Oscar da Nova com sua esposa, dona Mafisa, torcedora fanática do Atlético, onde seu filho Manico era o goleiro, enquanto o irmão dele, Zeca, era o goleiro do Comercial.
- Barufa, o massagista do Tricolor, e seu irmão Tateto, massagista do Colorado, que entravam rapidamente em ação quando um atleta se machucava ou quando o time precisava fazer “cera” para esfriar os ânimos do adversário.
- Pedro Soltes, o “Biribinha”, personagem por demais conhecido nas quadras esportivas, onde fazia de tudo: era massagista, carregava o material, enchia as bolas enxugava o piso entre uma jogada e outra, mas o principal era sua disponibilidade, sua simpatia.

O radialista Wilson Castilho Gaspar, o “Parafuso”, com quem vivi na rádio Herval d’Oeste, homem dos sete instrumentos, poeta e trovador nas horas vagas, com lembrou o Álbum do Cinquentenário.

“Seo” Oscar, um carroceiro que trazia os malotes da Estação Ferroviária para a agência dos Correios. Com o tempo, o cavalo aprendeu o caminho e fazia o trajeto sozinho, enquanto Oscar vinha conversando com um e outro pelas calçadas, num tempo em que carro era objeto de luxo e o trânsito muito tranquilo.

Mas meu tipo inesquecível é o “Tito Louco”, como era conhecido. Contemporâneo dele, o engenheiro Paulo Domingo da Nova, lembra que o Tito apareceu ali por 1946, na época em que a Rodoviária ficava na avenida XV de Novembro, onde hoje é o shopping XV. Sua pergunta era sempre a mesma, assim que os ônibus chegavam: “Carregadô? Carregadô? ” Entre as chegadas e as partidas dos coletivos acontecia a passagem dos trens, importante meio de locomoção naquele tempo. A Estação Ferroviária ficava “no outro lado”, ou seja, em Herval d’Oeste, onde a cena se repetia, como o misto das 8h401 e das 17h40, ou com direto das 10h.

O Tito ia vivendo da profissão de carregador, e foi contratado para ser auxiliar de motorista na antiga União as Serra de Transportes S/A. Trecho acertado: Joaçaba a Lages, via Carú (hoje São José do Cerrito). Horário da saída 10h, almoço em Campos Novos às 21h e chegada prevista para às 18h.

Sua tarefa: na hora do embarque ele deveria subir para o bagageiro em cima do ônibus e acomodar as malas, uma ao lado das outras, e por cima delas estender uma lona, como proteção contra chuva ou poeira. Então ele descia, se acomodava num banco escamoteável ao lado do motorista, e a viagem iniciava. Às vezes o coletivo lotava e o auxiliar do motorista cedia seu banco, viajando junto com as malas, na parte de cima. Foi numa dessas viagens que aconteceu. Para se proteger do vento frio ele ficava de costas, mas não lembrou das pontes cobertas que existiam naquela época. Na hora de descer as malas o motorista deu pela falta do Tito, e deduziu que ele poderia ter caído. Regressando, encontrou seu auxiliar desacordado, com um enorme “galo” na cabeça.

O Tito não morreu na queda; porém, depois da recuperação, nunca mais foi o mesmo, vivia nervoso, cheio de pressa e de tiques. Por isso, foi-lhe aposto um complemento ao nome e passou a ser chamado “Tito Louco”; Paulo da Nova, hoje residindo em Curitiba, afirma que a complementação do apelido não era para denegrir sua imagem, mas sintetizava o apreço que a cidade se dirigia a um de seus membros, que virou folclore por causa da cobertura das pontes de madeira. Por iniciativa de almas caridosas Tito foi levado para um hospital de alienados em São José, onde findou seus dias.


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