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Um olhar cientifico na história de um povo


 

Essa é a frase que compõe o nome do Projeto Semana do Contestado e que tem norteado as ações que tiveram início em outubro e se estenderam até 2019. Sediado em Caçador, o Projeto faz parte de um edital do CNPq e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Cominações, dentro das ações da Semana Nacional de Ciências e Tecnologia 2018 com o mote “Ciência para a redução das desigualdades”. Na região de menor IDH de Santa Catarina, a aprovação do projeto marca o início de uma agenda movimentada.

 

Para compreender melhor como funciona esse edital de fomento e as ações projetadas pelo IFSC com múltiplas parcerias que prometem movimentar toda a região do Contestado, conversamos com alguns dos representantes do Projeto. Quem nos dá mais informações sobre as ações que virão a seguir são Letíssia Crestani, museóloga do Museu Histórico e Antropológico da Região do Contestado, e Willian Douglas Gomes Pires, coordenador das Relações Exteriores do IFSC Campus Caçador.

 

Como vocês criaram o projeto para enviar ao CNPQ?

Willian: O projeto nasceu de uma inciativa em rede. O IFSC tem por padrão legal sempre apoiar e fomentar que as comunidades onde está inserido sejam empoderadas e fortalecidas no resgate e fomento da sua identidade, bem como preservação de sua memória e história. Os Institutos Federias devem sempre fomentar a construção externa, visando além da formação acadêmica e científica, fomentar que a extensão e a pesquisa façam parte do dia a dia das comunidades e só com aproximação da academia da comunidade é que poderemos celebrar empoderamento e conhecimento visando redução de desigualdade.

Letíssia: Além disso, o Willian tinha um sonho para Caçador. Ele veio compartilhar com o pessoal da Prefeitura de Caçador, pois o edital do CNPq e Ministério da Ciência e Tecnologia, era amplo e complexo, prevendo ações coletivas e múltiplas que fomentassem a ciência e tecnologia nas diversas regiões do país. Além da construção da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia nos municípios participantes. Através dos serviços do Museu Histórico e Antropológico da Região do Contestado, Leticia Crestani e Julio Cesar Corrente, e da servidora Cristiane Dobner da Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico e Desenvolvimento Econômico, ambos órgãos da administração municipal caçadorense, o projeto ganhou.

 

Vocês tiveram desafios na hora de montar o projeto?

Letíssia: Como trabalhar um tema histórico-cultural, que é a questão do Contestado, em um projeto de ciência e tecnologia? Essa foi nossa grande dúvida! Será que vai dar certo? Depois de longas noites sem dormir, dia inteiros na frente de computadores e estudando ainda mais o tema do Contestado, para basear nossa ideias e palavras, o projeto nasceu. Um misto de cultura história e experiência do Contestado aliado a propaganda e difusão da ciência em tecnologia, também em solo Contestado.

 

Como funciona esse edital?

Letíssia: O edital do CNPq MCIT possuía duas áreas de abrangência: linha A, para ações de longo prazo, em mais de cinco cidades; e linha B, para projetos com ações em até três cidades. Fundamentamos o projeto para a linha A, já que além dos itens solicitados, essa faixa previa um recurso de cem mil reais. Expectativa grande para a divulgação do resultado. Alguns da coordenação do Projeto não acreditavam, pois há anos faziam projetos e nenhum recurso vinha. Mas a luz do Monge João Maria não deixava a equipe executora esmorecer, e até que em meados de setembro, recebemos com grata surpresa e imensa felicidade que nosso projeto havia sido homologado. Algumas parcerias com prefeituras e instituições de ensino de cidade vizinhas foram feitas a priori, exigência essa do edital. Em fins de setembro, a equipe executora do Projeto foi a Brasília participar do XV Seminário de Coordenadores das Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia. Novamente, grata surpresa e gratidão a todos que participaram do evento, pois, nosso Projeto foi criado e saiu de uma cidade longínqua de Santa Catarina, e foi o primeiro projeto da cidade de Caçador a ganhar um edital de relevância nacional, sobre um tema desconhecido aqui na região, e também, por outros cantos do país. Por ter sido um projeto inovador, vimos que não só Caçador, como também as cidades vizinhas, e outros instituições, têm agora, mais um espaço para lutar por melhoria em todos os setores, pois as portas do CNPq e demais editais dos Ministérios estão abertas para participação.

 

O que esse projeto abrange?

William: Inicialmente o primeiro ato foi a “Semana do Contestado: um olhar científico sobre a história de um povo” que ocorreu com ações em Caçador e outras cidades, através de exposições, oficinas, apresentações culturais, minicursos. Na sequência há previsões de ações com cartunistas, concurso que visará a construção/confecção de um monumento, palestras de cunho científico visando demonstrar o que vem sendo feito para redução das desigualdades, seja em sala de aula ou qualquer outro meio que se faça pertinente, na região do Contestado. Até junho do ano de 2019, as ações vão sendo planejadas e construídas em conjunto com a comunidade dos bem chegados, aqueles que vieram de bom grado ao chamado público de construir e celebrar a memória, bem como fomentar a atividade cultural e desenvolvimentista do Contestado.

 

Qual a diferença dessa semana para as outras realizadas em Caçador?

Letíssia: Podemos citar grandes diferenças: a construção coletiva popular: as ações da Semana não só em Caçador. Estivemos com atividades em Lebon Régis, Videira, São Lourenço do Oeste, Curitibanos, Campos Novos, entre outras; e, a verba recebida do projeto não passa por nenhum intermediário. Ela vai direto para uma conta que fica sob a responsabilidade da coordenação do Projeto.

 

Que outros projetos estão envolvidos?

Letíssia: Por ser um projeto de longo prazo e com muitas atividades, o encerramento da IV Semana do Contestado foi apenas simbólico! Até a metade de 2019, teremos ainda muitas ações a serem feitas. Junto ao Museu do Contestado, temos uma pesquisa de ação, em parceria com o colega do CESMAR, sociólogo Giovani Schiavini, de resgate, por meio da história oral, de falas, lembranças, fatos, vivências e experiências dos descendentes caboclos. Para que esse grupo se sinta conhecedor, participante e protagonista de sua própria história. Resgate de modos de vida que vão nos dar pistas de como fomentar atividades de resgate de identidades e, consequentemente, de construção e preservação de patrimônio material e imaterial dessa região. Ações do tipo “puxirão”, palavra cabocla para designar o trabalho coletivo no redutos e comunidades caboclas no início do século passado, e que serão feitas em cidades e locais representativos da Guerra do Contestado, e que hoje sofrem o descaso com a identidade e seu patrimônio. E, finalizaremos com o Primeiro Congresso Nacional do Contestado, em meados de 2019, que será realizado em terras caboclas.

Como será o congresso nacional do contestado 2019?

Letíssia: Durante os dias 12 a 15 de junho de 2019, a região terá oportunidade de ter, em terras caboclas, os maiores especialistas na história do Contestado. Será um evento cientifico-popular, com a presença de doutores, mestres e estudiosos de tema do Contestado, e a com a presença, também, da comunidade de Caçador e região. A ideia do Congresso, prevista como ação do Projeto “Semana do Contestado: um olhar científico sobre a história de um povo”, num espaço que será de debate sobre o passado, mas muito mais um espaço de reconhecimento e empoderamento regional em busca de abrir oportunidade e perspectivas aos jovens, estudantes e comunidade regional e acadêmica através da ciência e tecnologia.

Willian: está sendo uma grande união de esforços de várias instituições, com muitos GTS e linhas de pesquisa para trabalhos completos. Serão apresentados trabalhos sobre muitas linhas de análise que compõem o Contestado como a tecnologia, o modo de vida caboclo, a lógica do trabalho, os papéis de gênero e questões raciais, a imigração, o ensino, etc. Como o Contestado é muito grande, conseguimos formar um grupo multidisciplinar incrível. O pioneirismo das instituições em união para a vinda e formação deste evento é maravilhoso, pois une as instituições em prol da região.

 

Qual a importância de trazer esses pesquisadores acadêmicos ou não para o contestado?

Letíssia: Estamos na região mais desassistida de Santa Catarina: piores índices de IDH; maiores índices de violência contra mulheres, jovens e crianças; ou seja, uma região que há com anos sofreu com a Guerra do Contestado, mas que parece continuar a sofrer as consequências desse brutal conflito. “Ciência para a redução das desigualdades” é o tema nacional da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o qual tomando como base para a criação do Projeto e temos como norte para as nossas ações com a comunidade. Então, o Congresso, como chave de ouro do Projeto, visa justamente isso, colocar o popular e o científico/acadêmico juntos, trabalhando para estimular mudanças na comunidade local.

William: Como se trata o Primeiro Congresso do Contestado em Caçador, trata-se de escrever mais uma página na história da região. Os eventos que falam do contestado geralmente são distantes do corredor principal do conflito, salvo algumas exceções. Caçador está ao lado, há poucos quilômetros de distância de Lebon Régis, considerado o Coração do Contestado e para onde convergem alguns dos principais acontecimentos da Guerra.

 

Que instituições estão envolvidas no congresso?

Willian: São várias. Estamos na fase de conclusão das parcerias então podemos destacar, por hora, a Prefeitura Municipal de Caçador, IFSC, IFC Videira através do Núcleo de Estudos do Contestado. UNOESC, UNIARP, UFSC Campus Curitibanos, UNESPAR, UEL, Observatório do Centenário da Guerra do Contestado, entre outros.

 

Larissa Lucian


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