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Uma palavra e infinitas possibilidades


O homem encara com veemência o boi que vem se aproximando. A batalha se inicia. O homem gira de um lado, cheio de coragem e astúcia, enquanto o boi cheio de cores vem girando do outro. Ao som grito e música, eles enfrentam-se sem desrespeitar um ao outro. O capoeirista acaba seu rito e faz reverência ao boi-bumbá. A nossa cultura se expande. O turista olha com atenção para Monalisa que parece seduzi-lo com seu sorriso enigmático, enquanto nós ouvimos ecoar ao longe o trem e vemos sobre a montanha montada em seu cavalo, Maria Rosa.

Nós pertencemos a um mundo cheio de diversidade e possibilidade. Somos indivíduos que pensam, sentem e emitem conhecimento e opiniões. A vida em comunidade e em família, nos faz perceber que, por pertencer a certos grupos sociais, seguimos algumas tradições, temos alguns costumes e crenças e muitas vezes as decisões que tomamos, se pautam nos mesmos. Esse combo de costumes, crenças e tradições, aliado ao conhecimento e a busca incessante por ele acabam por se denominar cultura.

A palavra cultura é originaria da palavra latina “colere”, que tem por significado literal “cuidar de”, “tomar conta de”. O ser humano é o único que dentro da natureza, tem um poder de transformação e racionalidade que o permite criar coisas que o auxiliem a executar tarefas que os outros seres vivos executam com maestria, como um dom natural. A cultura é promovida através das linguagens e vai se acumulando ao longo dos anos e passando de geração para geração fazendo com que isso se torne um legado para determinar povo e/ou grupo. A cultura é definida inicialmente em três grandes grupos: Arte, estilo de vida e grau de estudo. No primeiro grupo encontramos expressões artísticas como: pintura, escultura, música, cinema, teatro, dança, entre outras. No segundo, o grupo de pessoas são definidos pela maneira que se portam e pelo o que acreditam, analisando seus hábitos de vida, forma como se vestem, se portam ou se expressam, o que escutam, o que assistem, assim formamos as tribos culturais. No terceiro grupo temos a cultura expressada através da busca pelo conhecimento e pelo entendimento de diversos grupos e expressões culturais.

O conceito de cultura é muito mais abrangente do que imaginamos. Ele diz respeito ao que vemos, ouvimos ou sentimos, como nos portamos, nossa origem e quem somos. Fala sobre os ambientes onde estamos inseridos e sobre quem ou o que nos tornamos. A cultura está em todos os lugares é um direito de todos (pelo menos em teoria) ter acesso a ela.

As pessoas perguntam muito o que se encaixa no contexto de cultura, uma discussão bem antiga por exemplo, é porque o funk é considerado cultura, sendo que geralmente suas letras fazem apologia a sexo, drogas e crimes, considerados os funks “proibições”. Para explicar porque o funk que nasceu nos Estados Unidos e teve nele nomes consagrados como James Brown, é tão banalizado quando considerado cultura no Brasil vale lembrar a observação de Franz Boas, na obra “A mente do ser humano primitivo”, de que pode-se definir a cultura como a totalidade das reações e atividades mentais e físicas que caracterizam a conduta dos indivíduos que compõem um grupo social, coletiva e individualmente, em relação ao seu ambiente natural, a outros grupos, a membros do mesmo grupo e de cada indivíduo para consigo mesmo. Compreendendo esses aspectos, podemos constatar que cultura é o tudo o que faz sentido a um grupo social, é a forma como este grupo se relaciona e dá significado ao mundo em que vive.

Ou seja, o funk brasileiro que nasceu em berço carioca é considerado cultura pelo fato de fazer sentido e ter significado para um determinado grupo, ele serve como maneira de se expressar, falar sobre a sua vida, visão de mundo e oportunidades, ainda reflete na forma como os indivíduos tem esperança de um futuro melhor.

Assim como nós temos uma presença forte do funk como cultura, percebemos que outras nações também têm seus costumes: os neozelandeses, por exemplo, têm o Haka, uma dança típica do povo Maori, inspirada no Deus do sol, que é feita apenas por homens e é usada tanto para comemorações, para dar boas vindas aos visitantes, para agradecer e intimidar tribos inimigas. Essa dança tem ficado famosa ao redor do mundo após ser utilizada como forma de intimidação no início dos jogos de Rugby da Seleção da Nova Zelândia, ou All Blacks.

O povo brasileiro que tem enraizado em suas origens a colonização de diversos povos, carrega consigo uma cultura vasta: o pessoal da região Sul tem a tradição dos CTGs e carregamos conosco grandes histórias e culturas originárias do Contestado e da Guerra dos Farrapos, enquanto que no Nordeste encontramos o cangaço, misturado ao frevo e as festas de reis; temos conosco a cultura dos escravos, que nos ensinaram a capoeira e a sua religião e nada nos destaca mais que o nosso bom e velho Carnaval, pesadelo de uns, alegria de outros. Mais ao final de tudo temos uma constatação nobre, como a cultura é defina pelo fato de fazer sentido a um grupo social e contar a sua história, é valido lembrarmos que não podemos interferir na cultura do outro e no que ele acredita. Do namastê ao oxalá, todo mundo merece o direito de acreditar em algo, que lhe torne mais feliz.


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