O riso especializado
Que bagagem carregam Dr. Salvador e Dra. Esperança? Certamente seu conhecimento não pode ser medido pelo o que carregam em seus bolsos, mas pode facilmente ser identificado pela sua atuação pautada na escuta ativa e no riso consciente. Depois de concluir um curso de um ano com a ONG SOS Alegria, de Ponta Grossa, a dupla Kleber Ribeiro e Cristiane Zimmer segue com seu trabalho artístico com a certeza de que ser palhaço é algo muito sério.
O que vocês buscam nessas especializações?
Esse curso que fazemos em Ponta a Grossa é muito procurado por quem pretende se especializar no ofício de palhaço, pois ensina diretamente como atuar como um Doutor Palhaço. Ele vai além da exploração do improviso e atinge todas as áreas do trabalho, como o figurino, a maquiagem, e até mesmo a questão epidemiológica dos hospitais. Temos a consciência que os nossos corpos são colônias de bactérias e que precisamos tomar um cuidado especial com a higiene pessoal e também com os acessórios que carregamos para dentro do hospital. Esse curso, especificamente, exige a aprovação em um processo seletivo e tem, para os iniciantes, uma duração de dois anos antes que possam pisar no hospital como palhaços. O ofício do palhaço é extremamente difícil e dolorido. Quando trabalhamos com a menor máscara do mundo, que é o nariz de palhaço, trabalhamos com o nosso ridículo tendo a noção de que se tivermos que fazer alguém rir terá que ser com o nosso ridículo, pois a partir do momento em que eu uso um terceiro para fazer o outro rir, já estou errado.
Como isso influencia o trabalho de vocês?
Nosso trabalho dialoga muito com a humanização. Nos cursos, você passa por coisas que nunca imaginou e descobre que o palhaço atua com uma simplicidade única que entrega a sua fragilidade ao outro, que já está fragilizado. Isso gera uma conexão não apenas com aquele paciente, que pode não estar ali na próxima semana, mas também com os colaboradores que estarão lá toda as semanas. Entendemos que o palhaço é aquele que vai levar um sorriso, uma demonstração de amor e cuidado. Mas para chegar onde chegou, partimos de uma história do palhaço tradicional, do circo, que passou para um Chaplin, para um palhaço de rua e que agora atua em um ambiente de risco exposto, com função diferente do que tem a equipe de enfermagem, a pastoral hospitalar, a equipe médica, etc. É um trabalho maior que deixa a alegria no ambiente mesmo quando os palhaços saem e que exige um aprendizado contínuo. Não é à toa que eu, Kleber, tenho trabalhado este tema no meu Mestrado.
Que dica vocês dariam para quem vai a uma especialização como essa?
A primeira coisa é saber se a pessoas quer fazer esse tipo de trabalho. Se você tem uma dívida com Deus ou que ajudar o próximo, talvez esse não seja o trabalho certa para fazer, pois o palhaço não deve ser encarado como uma brincadeirinha altruísta. Veja se você tem talento, quer se aperfeiçoar e se está disposto a trabalhar com as suas fragilidades. É um trabalho nobre, bonito, mas primeiro tem que se descobrir como artista para saber o que você pode oferecer dentro do hospital. Apenas a disponibilidade de tempo não é o suficiente. Tem que investir em cursos com profissionais qualificados (e não com a pessoa que fez um trabalho voluntário como palhaço). Se você realmente quer fazer isso, também não pode pesar o fator financeiro, porque os cursos são caros. Além disso, faça bem feito! Ou você é palhaço ou não é! Ser palhaço é ser um profissional que contribui com a humanização aos ambientes;
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