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Look do dia: olheiras, sono e cansaço


Depois de ver aquele resultado positivo, uma das primeiras coisas que passam pela cabeça dos futuros pais é que eles nunca mais irão dormir novamente. Se não passou pela sua, certamente alguém te disse isso em algum momento da gestação ou do puerpério. Uma observação que não ajuda em nada, diga-se de passagem, e que é tão errada quando superficial. E se você, como eu, se irrita com essas observações levianas, leva essa matéria para a pessoa ler assim que essas frases surgirem.

Você sabe porque perguntar “Seu bebê já está dormindo a noite toda?” é ruim? Porque a resposta é tão certa quanto dois mais dois são quatro: não! E é assim porque os bebês, simplesmente, não dormem a noite toda. A maioria deles não dorme por sete ou oito horas seguidas porque seus ciclos de sono são diferentes dos adultos e algumas investigações apontam que apenas 10 a 15% dos bebês pode dormir de 10 a 12 horas seguidas aos 7 meses de idade. E isso acontece porque os seres humanos possuem sensos aguçados de sobrevivência que garantiriam a nossa vida em ambientes menos seguros. Não é à toa que em uma situação de perigo, a sua adrenalina aumenta e o seu coração dispara, bombeando mais sangue e oxigênio ao seu corpo para garantir uma fuga rápida ou o uso de uma força que você nem sabia que tinha.

O seu cérebro coordena todo esse processo no seu copo de adulto, mas o bebê é pouco desenvolvido e amadurece de dentro para fora e de trás para a frente, o que significa que ao nascer só está madura a porção cerebral que liga a medula ao cérebro superior e graças a ela é que o bebê controla os reflexos e processos involuntários como a respiração e os batimentos.

Até o nascimento, o ciclo de sono do bebê depende do relógio biológico da mãe, pois a melatonina (hormônio produzido naturalmente pelo corpo durante o sono) produzida no corpo materno atravessa a placenta e atinge o bebê. Ao nascer ele já não conta mais com o relógio biológico materno e precisa contar com o seu, mesmo que o seu ritmo cardíaco (período de 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos) ainda esteja longe de ser desenvolvido, afinal depende de uma área cerebral que ainda não está madura;

Teoria como a Teoria do Cérebro Trino, desenvolvido nos anos 70, apesentam a hipótese de que os seres humanos e os primatas possuem o cérebro dividido em três unidades funcionais distintas, que representam um extrato evolutivo do sistema nervoso dos vertebrados. Assim, o primeiro nível de organização cerebral é chamado de cérebro basal ou cérebro reptiliano ou ainda cérebro instintivo, formado apenas pela medula espinhal e porções basais do prosencéfalo, é capaz de promover reflexos simples e garantir sobrevivência através da regulação das funções e sensações primárias como a fome, a sede, o sono, etc.

O segundo nível é o cérebro límbico ou emocional, ou segundo nível funcional do sistema nervoso que é responsável por controlar o comportamento emocional dos indivíduos, além da motricidade grosseira. Já o cérebro neocórtex, ou racional, é composto pelo córtex telencefálico (lobo frontal, parental, temporal, occipatal e límbico) e é o responsável pela diferenciação dos homens e dos primatas, já que nós conseguimos desenvolver pensamento abstrato e gerar invenções.

Então, se aceitamos o fato de que o cérebro do bebe não está desenvolvido o suficiente para gerenciar suas emoções ou (menos ainda!) Para pensar sobre coisas que não conhecem ou não são concretas, parece um tanto absurda a ideia querer que o bebe tenha um padrão de sono desenvolvido como o do adulto. Mas se você ainda não se convenceu com essa explicação anatômica, a biologia ainda permite outras explicações. Dormir à noite toda não é algo biologicamente normal, especialmente em bebês amamentados, já que o bebê não é capaz de produzir a melatonina por si próprio e a recebe através do leite materno. Esse ouro líquido ainda possui quantidades maiores que triptofano (um aminoácido indutor do sono precursor da serotonina) no período noturno.

Conforme o cérebro se desenvolve, o padrão de sono muda e o padrão adulto é alcançado em torno dos 5 a 6 anos de idade. Antes disso, eles são mais curtos, com tendência a despertar, com a necessidade de ajuda ou companhia para retornar ao sono. Despertar durante o sono é algo visto por especialistas como um fator de proteção, seja pela necessidade de se alimentar com frequência, seja por ter algum desconforto físico. Então, talvez o fato de o bebê acordar a cada meia hora em função da fome, frio ou calor, pode ser visto como uma importante vantagem de sobrevivência.

Mas da literatura a parte prática, nada disso muda o fato de que anda há uma grande distância entre entender tudo isso cientificamente e ainda assim ter disposição para enfrentar as noites, amamentando ou não. Nada disso muda o fato de que temos cada vez menos redes de apoio e mais pressão social para enquadrar nossas crias no modelo perfeito – e mais que isso, para enquadrar a nós mesmos no modelo perfeito de família. Diante de uma sociedade inteira que diz que somos incapazes de criar nossos filhos, que precisamos de especialista de toda ordem, que estamos fazendo tudo errado e que estamos estragando aquelas preciosidades que colocamos no mundo, é inevitável entrar em desespero depois de meses sem ter uma noite de sono contínuo.

O PADRÃO SOCIAL (NÃO CONFUNDIR COM NORMAL)

Deixar os bebês dormirem sozinhos é uma prática relativamente nova que cresceu no mundo ocidental nos últimos 100 anos. Parte deste esforço vem de várias organizações que desencorajam os pais de dormir com os filhos com medo que isto contribua para o aumento da Síndrome de Morte Súbita Infantil (SMSI), mesmo que novas pesquisas tenham mostrado que a cama compartilhada pode ser segura e benéfica, quando praticada com a informação adequada. Outra porção deste esforço vem das correntes que pregam a independência das crianças.

“Há poucos dias encontrei uma mãe que me disse que o filho sempre dormiu sozinho, desde recém-nascido, pois para ela era muito importante que ele fosse independente. Eu disse que entendia a necessidade dela de dormir bem ou algo assim, mas que precisamos entender que os filhos nascem dependentes. Bebês são dependente! Até os três meses inclusive, ainda são considerados fetos em função da exterogestação. A gente exige demais dos nossos filhos! Eles nascem dependentes e a gente deve permitir que eles manifestem a necessidade da nossa presença, acolhendo e optando por atender essa necessidade. Não é tornar essa criança mais dependente, pelo contrário, é aceitar essa condição dela! Nós somos mamíferos! Os filhos nascem e dormem com os pais pelo tempo que precisarem para conseguir sua independência. O tempo é deles! Então eu acho que infelizmente a gente foi educada de uma forma que as necessidades das crianças ficaram cegas, pois introduzimos muito as necessidades do adulto na criação para agir de uma forma que ‘a vida precisa se resolver sem que esse filho demande tanto de mim’, tendo como consequência principal um olhar pouco sensível as necessidades da criança. Quantas gerações de bebês ficaram invisíveis ao longo dos últimos anos, não é? Nós estamos tentando quebrar este olhar adultizado e a melhor alternativa para isso é a busca por informação, uma boa comunicação com nossos filhos e ter em mente que o seu bem-estar deve estar em primeiro lugar”, defende Maíra F. Soares, empreendedora, proprietária da página Canto Maternar no Facebook.

Para se adequar ao padrão social e permitir que os pais tenham noites do sono mais tranquilas, muitas famílias recorrem à métodos variados, descritos na literatura ou não. Gabriela Pires, por exemplo, enfrentou dificuldades para lidar com o sono de seu recém-nascido, que dormia menos de 10 horas por dia.

“Estava muito preocupada até que conheci o método EASY (Eating, Activity, Sleep, You) da Encantadora de Bebês. Foi o que salvou aqui em casa. Ele só queria independência e eu tentava fazer ele dormir no colo. Assim, ele aprendeu a adormecer sozinho, no berço, dorme no seu quarto sozinho desde os 3 meses e acorda, desde então, uma vez para mamar à noite. Hoje, com 8 meses, dome a noite toda. Com esse método eu aprendi a reconhecer a hora que bate o sono nele, assim já levo para o quarto e ele não perde o tempo do sono e não fica agitado”, explica.

Similar a essa técnica é a chamada Nana Nenê, colocada em prática por Luciara Casagrande Parmagnani com seus dois filhos. “Nunca tive problemas com eles, mas aqui em casa tem rotina desde o nascimento. Tem hora de comer, de dormir, de banho e de brincar. Coloco eles acordados na cama ou berço e eles sabe dormir sozinhos. O carinho, amor, afeto e tudo que uma criança precisa dou com eles acordados!”, diz. A rotina do sono é seguida em várias residências, como na de Ariana Pereira, que percebeu a necessidade de muda a hora do banho para que a sua filha Helena dormisse melhor. “Também comecei a desligar o wi-fi depois que li que algumas crianças podem ser sensíveis aos sinais e isso pode deixá-las estressadas e incomodadas”, conta. Daiana Rodermel, por sua vez, diz ter percebido dificuldades maiores durantes os picos de crescimento de sua filha e dá a dica de utilização das bolsas quentes de semente para acalmar o bebê e permitir que durma a noite toda.  

A AMAMENTAÇÃO, O SONO E O PAPAI

Existem vários métodos de treinamento de sono, que entram e saem de cena e de moda ao longo do tempo. Mas algo muito comum na maior deles é não prever a amamentação. A amamentação noturna é fundamental para a manutenção da produção de leite materno, pois durante a noite os níveis basais e os picos de prolactina são mais altos do que durante o dia. Para além das explicações, acordar de madrugada para mamar é uma questão de sobrevivência até cerca de 3 a 4 meses, já que seu pequeno estômago se esvazia muito rápido e o leite materno é de fácil digestão. Então, se eu der outro tipo de leite para meu bebê antes de dormir e ele ficar com o estômago cheio por mais tempo, vai dormir melhor? A resposta é: nem sempre. Alguns bebes que recebem a mamadeira de leite ou fórmula antes de dormir com o simples propósito de dormir por mais tempo podem passar a noite em claro reclamando de cólica, por exemplo. Outros podem passar a rejeitar o peito. Outras mães podem sentir significativas reduções na produção de leite.

O problema para muitas mães é como fazer o bebê dormir longe do peito. Não é preciso ir muito longe para encontra uma mãe esgotada com a demanda dos filhos, ou que se sinta sozinha diante das tarefas e da rotina dupla, trilha, quádrupla que precisa realizar todos os dias. Para elas, a amamentação muitas vezes vem como um alívio para as noites, permitindo um sono relativamente tranquilo em uma cama compartilhada. Mas nem por isso deixa de ser exaustiva.

Muitos pais, nessa situação, não participam do momento do sono porque, afinal, “o bebe só dorme mamando”. Sem perceber delegam mais uma atividade para às mães sem compreender que quem precisa mudar de comportamento é o próprio pai e não o bebê. Cabe ao adulto descobrir uma forma de fazer o filho dormir, com a ciência de que não será do mesmo modo que dorme com a mãe.

Também é função do adulto compreender a existência de picos de crescimento e outros fatores que contribuem paras as alterações no sono do bebê, seja ele amamentado ou não; de acordo com Renata Riboli, a rotina do sono não deu certo com a família e a falta de apoio para fazer a pequena Aurora dormir já proporcionou muitos efeitos vulcão (quando o bebê tem curtas sonecas durante o sono dia e um sono agitado à noite).

“Comecei a me basear em uma tabela do Grupo Virtual de Amamentação para saber quanto a rotina do sono está próxima de mudar e me preparar psicologicamente. Para diminuir as mamadas noturnas tenho apostado na criação com apego e trocado a mamada por um carinho, o que reduziu o tempo entre as solicitações. Mesmo assim, não faço ideia de quantas vezes amamento à noite porque contar estava me deixando frustrada”, aponta.

Para reduzir a frustração, a troca de experiência é fundamental, bem como a criação de uma rede de apoio e acolhimento. Nessa onda, tem se proliferado os grupos nas redes sociais, como é o caso do grupo Maternagem com Empatia, que reúne mães de Videira e região. Sonhamos alto, mas talvez seja porque tivemos um boa noite de sono.


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