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Anticoncepcional faz mal?


A dúvida permeia a vida das mulheres e vez ou outra entra em pauta para noticiar novos estudos e descobertas que podem afetar a saúde feminina. Embora possamos acreditar que existe muita informação bem difundida por aí, especialmente na internet, é fato no Brasil que a escolha do método contraceptivo se dá muito mais através do apelo cultural do que ao acesso à informação e à escolha consciente. Para tentar furar um pouco esta bolha, elaboramos um conteúdo para falar sobre os métodos.

Desde meados dos anos 1960 as mulheres brasileiras têm a possibilidade de usufruir de um produto revolucionário: a pílula anticoncepcional. Pouco depois da sua criação nos EUA (a partir de uma aliança entre os interesses científicos, médicos, econômicos, políticos e sociais, sobretudo com interesse dos grupos feministas), a pílula se difundiu pelo mundo como parte das políticas de saúde, afinal é uma ferramenta eficaz para as políticas de controle reprodutivo e para o exercício da autonomia e dos direitos reprodutivos individuais. 

Historicamente falando, a pílula foi desenvolvida na esteira de acontecimentos como o avanço do processo de modernização industrial, o desenvolvimento de estudos sobre a fisiologia da reprodução e sobre hormônios sexuais, o ativismo dos movimentos feministas, a consolidação da indústria farmacêutica, a emergência da questão populacional nos países desenvolvidos, o aprofundamento dos processos de medicalização, etc. 

O Brasil é o 3º país latino que mais usa pílula

Se voltarmos um pouco mais, o século XIX assistiu ao nascimento da "medicina da mulher" (dividida em dois ramos: obstetrícia e ginecologia), quando os órgãos sexuais femininos (primeiro o útero, depois os ovários) passaram a ser estudados como forma de compreender o comportamento e índole das mulheres, e ainda ao nascimento da endocrinologia como especialidade, cuja ideia de mensageiros químicos reguladores de órgãos e funções corporais forneceria uma nova interpretação da fisiologia dos corpos e novos objetos para a prática clínica. Com os hormônios em pauta, questões naturais se transformariam em problemas médicos que exigem tratamento constante, a exemplo da menopausa e das irregularidades do ciclo menstrual.

Entretanto, mesmo que a função contraceptiva dos hormônios possa não ter passado despercebida pelos pesquisadores da década de 1920, somente mais de 30 anos depois é que foi explorada comercialmente, possivelmente aguardando um momento em que o interesse social no produto fosse mais oportuno. De fato, o interesse chegou depois da Segunda Guerra Mundial, quando o parque industrial das farmacêuticas teve uma significativa ampliação; quando o temor de uma explosão populacional foi impulsionado através do relançamento de movimentos de controle populacional nos países em desenvolvimento; quando a Guerra Fria e a hegemonia norte-americana incentivavam estratégias globais de controle dos países pobres; e quando questões como o controle da fecundidade e planejamento familiar acompanhavam os debates sobre a urbanização, escolarização e industrialização. Tudo isso poderia ser discutido ao inserir no dia a dia da população um método contraceptivo eficaz, prático e capaz de se difundir em larga escala: a pílula. pilula

Por isso, não há surpresa ao ver meninas que vão à farmácia assim que menstruam, sem consulta médica ou receita, para comprar uma pílula anticoncepcional, seja para diminuir a dor das cólicas, para controlar o ciclo ou para prevenir uma gestação. O Brasil é o terceiro país latino-americano que mais utiliza a pílula e a maioria do público vai direto para ela sem conhecer outros métodos. Parte disso vem da praticidade e da distribuição no SUS, parte vem da mídia, especialmente das revistas femininas. A pesquisadora Pamella Liz Nunes Pereira, mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto Fernandes Figueira - IFF/FIOCRUZ, aponta que a revista Cláudia teve um grande papel como aliada e defensora do método através da difusão e da argumentação para construir sua aceitação com o público feminino. Em mais de uma edição era possível encontrar matérias que discutiam a relação da pílula e do controle de natalidade com as prerrogativas da Igreja, bem como reportagens para alertar as mulheres sobre como manter um bom casamento sem filhos. Os anticoncepcionais não são apenas noticiados, mas defendidos, incentivados e mitificados, figurando como uma forma de cumprimento do comportamento reprodutivo ideal.

Os efeitos colaterais incluem risco de trombose e câncer

Este é apenas um dos exemplos do apelo midiático sobre o produto que, além da recomendação médica, contribuem para torná-lo o mais lembrado e desejado pelas mulheres. No entanto, o anticoncepcional, como qualquer outro medicamento, apresenta efeitos colaterais. Por ser hormonal, o perigo do uso contínuo é ainda maior. De acordo com o Manual Global de Planejamento Familiar, elaborado pela OMS,  alguns dos efeitos colaterais são:

Alteração nos padrões menstruais e incômodos durante o ciclo;
Risco de varizes e trombose;
Retenção de líquido;
Redução no ganho de massa muscular;
Aumento da possibilidade de problemas no fígado;
Aumento do risco de hipertensão arterial;
Redução da libido;
Aumento do risco de alguns tipos de câncer como de mama, fígado e colo do útero.

O conhecimento sobre os riscos associados ao uso do anticoncepcional hormonal tem levado  muitas brasileiras a procurar mais informações. Na rede social Facebook, por exemplo, grupos sobre contracepção não-hormonal tem ultrapassado 100 mil membros com o objetivo de esclarecer dúvidas e trocar experiências entre quem já deixou o pretende abandonar os métodos hormonais. Entre as opções estão o DIU de cobre com eficácia de 99,4% na prevenção da gravidez; o diafragma, cuja eficácia é de 85%; a camisinha feminina (95%); e a camisinha masculina cuja taxa de proteção varia de 98% (uso perfeito) a 82% (uso incorreto).

Se você tem dúvidas sobre qual método contraceptivo escolher, converse com seu ginecologista e troque experiências com outras mulheres. Existem várias formas de prevenir a gravidez e conhecer seu corpo que podem ser discutidas com seu médico no momento da consulta para substituir a ingestão de hormônios. Mas não esqueça, o único método que previne a gestação e as doenças sexualmente transmissíveis é a camisinha. Na dúvida, a aliança entre a contracepção feminina com o método que você escolher e a contracepção masculina com a camisinha sempre será o ideal.

 

 

 

 


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