Nem sempre é carnaval - Bolinha Antonio Carlos Pereira
Pelo segundo ano consecutivo os desfiles de carnaval não acontecem. Os motivos se acumulam: pandemia do coronavírus, crise financeira...
Compartilho o que comentei em 1979 no jornal Cidadela:
“Amigos, o carnaval está aí, com seu ritmo contagiante entrando em nossas vidas e fazendo parte do dia-a-dia. Depois do belo espetáculo no carnaval que passou, o povo se divertiu na Av. XV com as três Escolas de Samba de nossas cidades (Eskinão, Unidos do Herval e Vale Samba, que foi campeã) provando que Joaçaba apresenta o melhor carnaval do Oeste do Estado”.
Em 1997 o saudoso prefeito Normélio Zilio convidou-me a colaborar nos setores de cultura e turismo, e para atrair turistas e incrementar o comércio local incentivamos o carnaval, realizado timidamente na avenida XV de Novembro (apesar das costumeiras reclamações dos que reclamam costumeiramente). Normélio aceitou a sugestão e a apoiou, como fizera o prefeito Evandro Freitas no final dos anos 70 ao atender o pessoal dos blocos e realizar o primeiro desfile de verdade com passarela, palanque oficial, comissão julgadora e rei momo.
Associação Cultural Esportiva Recreativa Escola de Samba Vale Samba nasce em 1979 da fusão de dois blocos carnavalescos, e até hoje é a recordista de títulos, com 15 conquistas no total. Suas cores são azul e branco e seu símbolo, a coroa.
Grêmio Recreativo Escola de Samba Aliança nasce em 1994 com as cores verde e branco e o símbolo é a pomba branca da paz. Em 1997, no primeiro desfile com jurados vindos do Rio de Janeiro, a Aliança foi declarada campeã do carnaval, o que repetiria por 14 vezes.
Grêmio Recreativo Esportivo Cultural e Escola de Samba Unidos do Herval tem sua origem no final dos anos 50, com o bloco “Que Murmurem”; vira Escola de Samba e em 1980 conquista o primeiro lugar, com o enredo “A Locomotiva”.
Acadêmicos do Grande Vale criada em 2012 é a mais nova, vence o desfile de 2020.
Os enredos já falaram de nossa história e nossa gente, com temas como a guerra do contestado, a imigração tirolesa e a italiana, o mundo da comunicação, o trem, o circo, o futebol e o próprio carnaval. Mais detalhes em http://osdiscosdobolinha.blogspot.com/
Em 1996, com a criação da LIESJHO, Liga Independente das Escolas de Samba de Joaçaba e Herval d'Oeste, a Riotur e a Associação das Cidades Carnavalescas da América passam a considerar o carnaval de Joaçaba o terceiro melhor desfile de Escolas de Samba do Brasil. A Avenida XV de Novembro se transforma na “Passarela do Samba”, arquibancadas e camarotes acolhem os apreciadores da festa cultural. Recursos públicos são destinados a cada ano para possibilitar tudo isso.
Com a palavra Rogério Bilibio, doutor em História e um dos organizadores do Livro do Centenário de Joaçaba: o carnaval ficou maior do que a cidade, tamanha a grandeza de seu crescimento. Agora a nossa maior festa popular enfrenta um impasse: a Vale Samba sofre várias cobranças judiciais, perdeu até o barracão e hoje usa o espaço por empréstimo; o falecimento prematuro de Carlos Fett, carnavalesco e patrono da Aliança, provocou o fechamento da Escola e nosso carnaval pode perder o brilho daqueles anos em que a benéfica rivalidade com a Vale Samba fazia todos se superarem.
Estuda-se um sambódromo na avenida Beira-Rio, em Herval d’Oeste, o qual poderia abrigar os barracões das escolas. Cabe às lideranças públicas, empresariais e culturais uma análise conscienciosa sobre o rumo a tomar. Ou então, cantaremos como Vinícius de Moraes:
“Acabou nosso carnaval e, no entanto, é preciso cantar e alegrar a cidade... quem me dera viver pra ver e brincar outros carnavais”
Antonio Carlos “Bolinha” Pereira, folião desde criança
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