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Aplicativos de transporte: o que era amor virou decepção


Por alguns anos, Uber, 99 e demais aplicativos de transporte foram uma mão na roda e conquistaram milhões passageiros, mas desde 2020, são motivos de incontáveis reclamações.

Há pouco menos de dez anos, a vida de quem precisava se locomover e não tinha carro se restringia a utilizar ônibus e metrô muitas vezes lotados ou recorrer aos táxis, cujos preços não cabiam no bolso da maioria. Porém com o surgimento dos aplicativos de transporte, especialmente o Uber, milhões de pessoas passaram a ter conforto, rapidez e a pagar um valor acessível. Entretanto, a máxima de que “o que é bom dura pouco” parece ter chegado a essas empresas que atualmente colecionam milhares de reclamações e desistências definitivas.

 

Um início fantástico

 

Durante alguns anos, quem solicitava de dentro de sua casa ou de um estabelecimento, um Uber ou outro aplicativo de transporte, muitas vezes tinha que chegar logo à porta, pois não raramente aparecia a mensagem de que o motorista estava a um minuto de distância. 

Voltar para casa tarde da noite sem carro, havia deixado de ser motivo de preocupação, pois com um simples pedido por um dos aplicativos de transporte e um veículo já aparecia.

Os preços praticados compensavam muito e dependendo da distância, se fossem quatro passageiros, o valor ficava menor do que se cada um tivesse que pagar uma passagem de ônibus.

 

APLICATIVO

 

 

O fim do sonho

 

Por alguns anos, muita gente simplesmente deixou de andar de ônibus ou de metrô e acreditou que dali para frente, usaria só os aplicativos de transporte.

Entretanto, a situação começou a mudar drasticamente com a chegada da pandemia. Com quase tudo parado, obviamente o número de pedidos para os aplicativos de transporte despencou vertiginosamente e em consequência disso, muitos motoristas foram parando de trabalhar, pois não compensava ficar horas esperando por uma corrida.

Quando a situação começou a se normalizar, ainda que parcialmente em termos de pandemia, outro problema grave surgiu: os sucessíveis e assustadores aumentos nos preços dos combustíveis. Apesar das empresas que administram os aplicativos de transporte não elevarem suas tarifas no mesmo percentual, parte teve que ser repassada, o que foi assustando os passageiros que estavam voltando a usar o serviço.

Para os motoristas, os lucros também foram ficando cada vez menores, o que os levou a desistirem de trabalhar, fazendo assim, com que o tempo de espera dos passageiros aumentasse absurdamente.

 

RECLAMAÇÃO

 

Número de reclamações contra Uber e demais aplicativos de transporte disparam 

 

Como se não bastasse o aumento no valor das viagens, passageiros têm reclamado incessantemente na internet de outros problemas, tais como: o número cada vez menor de motoristas disponíveis, os vários cancelamentos de corridas que os motoristas fazem quando já estão próximos de pegar o passageiro e a falta de um suporte da Uber e demais aplicativos de transporte para ouvirem as reclamações e tomarem providências.

 

“Desisti de usar a Uber após uma experiência traumatizante que eu e minha família passamos. Quando começaram as aulas na universidade, meu filho foi tranquilo na ida. Na volta, meu marido pegou um Uber para buscá-lo já que era o primeiro dia e pagou R$ 9,99, porém quando foram voltar, bateu o desespero, foram 45 minutos de motoristas pegando a corrida e depois desistindo, a porta da universidade foi ficando vazia e eles ali sozinhos sofrendo com o descaso dos motoristas. Depois de todo esse tempo, finalmente apareceu um, mas o valor da corrida foi de quase R$ 29,00, ou seja, o triplo de uma hora antes”, afirma a professora Cláudia Gomes.

 

“Antes, você podia confiar na Uber ou na 99, mas agora, tenho medo de precisar de uma corrida e ou não vir ou mudarem o valor no meio do percurso como já fizeram comigo. Não adianta reclamar, meu filho já tentou e não resolvem nada”, afirma a aposentada Izaura Jorge.

Em sites como o Reclame Aqui, o número de queixas contra a Uber, 99 e demais aplicativos de transporte disparou nos últimos meses. Apenas a Uber coleciona mais de 305 mil reclamações ativas, e em apenas uma hora durante a produção desta matéria, foram mais vinte (isso sem contar os muitos que ficam descontentes com o serviço, mas não usam esse tipo de site para protestar). No caso da 99, são quase 160 mil reclamações, sendo oito em menos de uma hora.

 

Motoristas descontentes com a Uber 

 

Com o novo e espantoso aumento dos combustíveis ocorrido em março, o relacionamento da Uber e seus motoristas azedou ainda mais, isso porque eles alegam que estão praticamente pagando para trabalhar, já que a empresa teria aumentado as tarifas em 6,25%, mas sem repassar nenhum valor a mais a eles.

Em nota à imprensa, a Uber afirmou que o objetivo é ajudar os motoristas a lidar com o pico de alta em seus custos operacionais e que teria anunciado um pacote de R$ 100 milhões para auxiliar os motoristas parceiros no Brasil.

Segundo entidades do setor ligados aos motoristas de aplicativos, não houve aumento real no bolso deles, e a proposta das empresas veio bem abaixo da inflação acumulada. Os líderes dessas entidades também reclamam das taxas cobradas pelas empresas para cada corrida e pela falta de transparência em relação ao valor repassado aos motoristas.

 

APLICATIVO RECLAMAÇÃO

 

Passageiros também reclamam dos motoristas

 

Apesar de entenderem a situação difícil pela qual os motoristas de aplicativos de transporte estão passando, a maioria dos passageiros também critica algumas ações desses profissionais.

 

“Virou rotina, um motorista aceita uma viagem, mas aí no meio do caminho para ir buscar o passageiro, vê que não compensa e simplesmente desiste, isso não tem justificativa, é falta de empatia com o próximo, pois ali esperando pela corrida pode ser alguém que está indo para um hospital ou com um compromisso inadiável. Tinham que ser mais responsáveis e pensarem antes de aceitar uma viagem. Outra coisa que notei é que quase todos antes eram muito educados, mas agora tem uns bem mal-educados, parece que aquela forma de avaliar o trabalho dando estrelas não está mais surtindo efeito”, desabafa o autônomo Carlos Almeida.

 

Uma coisa parece ser certa, se as grandes empresas de aplicativos de transporte não buscarem soluções para melhorar a qualidade do serviço que oferecem tantos aos passageiros quanto aos motoristas, pelo menos aqui no Brasil, uma ideia revolucionária morrerá mais cedo do que imaginam, não sem antes estressar milhares e milhares de pessoas que um dia veneraram seus serviços.

 

Marcelo Rio


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