Meditação e oração no ambiente de trabalho: qual o limite?
Nas últimas décadas, muitas empresas de diferentes portes passaram a disponibilizar a seus funcionários diversas técnicas como meditação e oração com o objetivo de reduzir o estresse, obtermais foco, aumentar a produtividade e obter proteção. Essas sessões podem ocorrer antes ou durante a jornada de trabalho. Porém, apesar de pontos altamente positivos, esse tipo de iniciativa pode gerar problemas sérios entre patrões e empregados.
Nos anos 1970 e 1980, parecia estranho quando alguém tomava conhecimento de que uma empresa no Japão ou nos Estados Unidos, todos os dias, tirava uma parte do seu expediente para que seus funcionários pudessem relaxar através da meditação e outras técnicas. Entretanto, a prática foi se tornando cada vez mais comum e deixou de ser vista como excêntrica para ser considerada como muito importante.
Com o passar dos anos, surgiram algumas variantes no campo da meditação, sendo que a mais utilizada nos últimos tempos é o mindfulnessque pode ser descrito como um estado mental onde a consciência foca sua atenção plenamente no que está fazendo, sem deixar que outros pensamentos atrapalhem no agora. Também é eficiente para controlar o estresse, a ansiedade, redução da pressão arterial e até a depressão. A técnica geralmente é praticada de 15 minutos a 20 minutos antes de começar o dia de trabalho ou na metade do expediente, próximo ao horário do almoço.
Grandes corporações como Google, o LinkedIn, o Twitter, o Facebook, a IBM e a Intel adotaram o mindfulness e atestam que entre os funcionários houve um aumento da criatividade, da memória e da rapidez em solucionar problemas complexos.
O mindfulness tem ganhado muito
espaço no meio corporativo
O mindfulness tem ganhado tanto espaço no meio corporativo que já há empresas incentivando alguns de seus profissionais para que aprendam as técnicas para que depois possam passá-las a seus colegas, já outras, notando esse nicho no mercado, têm disponibilizado pessoas treinadas para atender à demanda crescente. O sucesso é tamanho que em São Paulo, já existe o Centro Paulista de Mindfulness.
Mas as diferentes técnicas de meditação antes ou durante o trabalho não estão restritas apenas as grandes corporações, já é comum nas pequenas e médias empresas, tais técnicas serem adotadas.
Principais ganhos
No caso do estresse, que é muito comum nas empresas, o mindfulness e outras técnicas de meditação ensinam os funcionários a como manter suas emoções no controle, evitando assim, ações instintivas que causam um grande mal-estar. Com funcionários livres do estresse, o ambiente de trabalho tende a ser mais harmônico e produtivo.
Meditar diariamente leva a pessoa a se concentrar apenas em uma atividade por vez, o que é importante na hora de tomar decisões, buscar soluções ou executar tarefas.
Há um ganho também em termos de criatividade, pois com a mente livre de pensamentos diversos e problemas, torna-se mais fácil dar vasão a novas ideias que auxiliarão no trabalho.
Oração
Em várias empresas também se tornou comum disponibilizarem um momento para orações. Profissionais de recursos humanos que defendem tal ação afirmam que para os funcionários é importante ver como em um ambiente geralmente frio como é o de uma empresa, acaba se tornando acolhedor,estimulando a reflexão, o agradecimento, o descanso para a mente, causando assim uma sensação de bem-estar e paz.
Entretanto, nem todos os funcionários se sentem confortáveis em ter que realizar uma oração ou prece que é diferente dos seus valores religiosos e também há o caso dos ateus ou agnósticos.
Apesar dos proprietários ou diretores das empresas que incentivam que seus funcionários orem antes ou durante o expediente afirmarem que a prática é voluntária, já houve casos em que o empregado recorreu à Justiça e conseguiu provar que era obrigado a participar orações coletivas.
Foi o que ocorreu em um supermercado em Minas Gerais, uma das funcionárias recorreu à Justiça, alegando que sofreu perseguição de seu superior pelo fato de não aceitar participar dos rituais de oração coletiva, que ocorriam diariamente em horário de trabalho. O supermercado foi condenado pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região) a pagar uma indenização de R$ 9 mil reais por danos morais à trabalhadora. A Justiça considerou como ilícita a prática de procedimentos religiosos em horário de trabalho, pois esta atitude fere diretamente aos princípios constitucionais e individuais.
Em outra decisão judicial, a 2ª Vara do Trabalho de Rio do Sul (SC) condenou uma empresa a pagar R$ 30 mil a um ex-funcionário que reclamou por ser obrigado a participar de orações durante o expediente. Apesar do patrão negar que era obrigatório, testemunhas afirmaram que tanto ele como a filha ameaçavam os que se recusavam a participar.
Outros casos também tiveram desfecho semelhante, porém especialistas em Direito afirmam que muitas vezes é difícil comprovar que a empresa “obriga” um funcionário a rezar, seguindo uma determinada religião dentro do trabalho, pois a “ordem” viria de maneira implícita, por exemplo, o patrão ou diretor pode dizer que é facultativo, mas passar a perseguir sutilmente aqueles que não aderirem.
Práticas como meditação e oração no
trabalho devem ser voluntárias
Problemas também com técnicas de meditação
Apesar de raros, também podem ocorrer situações em que alguém por motivo religioso ou simplesmente porque não está disposto, se recuse a participar de qualquer técnica de relaxamento, meditação, etc., e nesses casos, permitir que o funcionário não pratique tais técnicas parece ser a ação mais sensata.
Na opinião de especialistas em Direito, práticas como meditação e principalmente oração no ambiente de trabalho devem ser colocadas de maneira voluntária, tendo outro espaço para que quem não se sinta a vontade, possa fazer outra atividade. Qualquer imposição, ainda que implícita, poderá gerar dessabores entre patrão e empregados, não só na esfera judicial, mas também, no bom ambiente de trabalho, o que contrariaria exatamente o objetivo inicial que era melhorar esse ambiente.
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