Permitir Cookies

Este site utiliza cookies para melhorar a experiência do usuário. Veja nossa Política de Privacidade


Games x Terrorismo - A culpa não é dos jogos


Antes de qualquer coisa, quero deixar registrado aqui minha solidariedade às vítimas e familiares da barbárie que aconteceu em Suzano (SP). Um verdadeiro ATO TERRORISTA!

Já parou pra pensar que, em todo caso de tragédia, há um setor midiático e político especialista em engenharia e controle social que busca sempre endossar uma narrativa de grupo ou um fator coletivo, sem ao menos considerar em atribuir a responsabilidade dos atos praticados à pessoa ou sua razão individual?!

Dentre os principais “culpados”, segundo a grande mídia, os “especialistas em tudo” das redes sociais e os abutres do coletivismo encontra-se a violência dos GAMES.

Não é a primeira vez que a criminalização cultural dos jogos vem à tona no Brasil. Relembro 03 ondas que atingiram os games em Terra Brasilis: A Proibição de Carmageddon e outros games em razão de atentado no cinema do Morumbi Shopping; Ativismo judicial que proibiu Bully, The Crims, Counter-Strike e Ever-Quest; Massacre de Realengo e Caso Pesseghini. Um processo de difusão de pânico moral vem tomando conta das pessoas.

É importante deixar claro que os games atuam no campo da fantasia, ou seja, um substituto da realidade que exerce uma função mediadora entre o sujeito e o Real. Para a psicanálise, o Real é o registro do impossível, enquanto a realidade é uma trama simbólico-imaginária.

“O Real pode ser percebido como algo duro, impossível de ser captado por qualquer instrumento da realidade ou da virtualidade – palavra ou imagem - o que faz com que todos estejam um pouco fora do caminho. Há uma pedra que nos desvia. A ninguém é dado o direito à certeza de sua percepção. Se delirar, etimologicamente, quer dizer, ’sair do caminho’, todos deliramos.”
- J. Forbes (2005)

Várias pesquisas acadêmicas se colocam contra e a favor dos games, e essa divergência é essencial para embasar o debate e fundamentar a opinião pública. “O peso social destes estudos acadêmicos são munição muito valiosa em batalhas políticas locais, estaduais e nacionais; o destino de muitas verbas estatais e carreiras está em jogo, sem falar em políticas desenvolvidas para ditar o comportamento de designers, desenvolvedores, lojistas e crianças”.
– Lawrence Kutner e Cheryl K. Olson, 2008, p3

Isto explica a exploração política e midiática do trágico episódio Suzano. O mercado de games vem numa crescente exponencial, o assunto está sendo discutido até no COI – Comitê Olímpico Internacional, sobre a inclusão ou não do eSports como modalidade olímpica. O fato é que a nova geração não assiste mais a televisão tradicional, é tudo por Stream de vídeo, Twitch, YouTube, et cetera. Como ficariam os contratos bilionários de transmissão exclusiva? E as propagandas e direitos de imagem? Quem ganha e quem perde neste jogo?

De acordo com pesquisadores do Oxford Internet Institute, da Universidade de Oxford, não há relação entre comportamento agressivo em adolescentes e a quantidade de tempo gasto jogando games violentos. O estudo usou dados de jovens britânicos e seus pais, juntamente com avaliações oficiais da UE e dos EUA sobre violência em jogos. Os resultados foram publicados na Royal Society Open Science.

“A ideia de que videogames violentos geram agressão no mundo real é popular, mas não foi testada muito bem com o tempo”, diz o pesquisador-chefe Andrew Przybylski, diretor de pesquisa do Oxford Internet Institute. “Apesar do interesse no assunto pelos pais e políticos, a pesquisa não demonstrou que há motivo para preocupação”.

Outro fato importante é a verdadeira banalização do terrorismo. Ninguém sequer toca no assunto. Mesmo o R7 tendo publicado matéria com informações da investigação da Polícia Civil referente à participação dos terroristas no fórum de discussão Dogolochan na Deep Web, esquematizando o ato terrorista em busca armas e orientação, com a ideia de conseguirem suas 07 virgens como “prêmio” por meio um pacto suicida, o detalhe ainda parece estar longe da pauta principal. Opa, espera aí, essa história de virgens e suicídio não me é estranha, já ouvi ela em outros casos que não tinham relação alguma com vídeo-games.

Seria realmente o videogame o vilão da história? A neurocientista cognitiva Daphne Bavelier, professora na Universidade de Genebra apresentou no TED – Technology Entertainment, Design, os dados de seus estudos sobre os benefícios dos videogames no cérebro humano e seu impacto na sociedade. Os games possuem um poderoso e positivo efeito no cérebro: capacidade de resolver pequenos detalhes no contexto de desordem, capacidade de perceber diferentes tons de cinza, habilidade de rastrear objetos no mundo, desenvolvimento das conexões neurais entre as áreas do cérebro responsáveis pela atenção, o córtex parietal, lobo frontal e o cingulado anterior, tornando-as muito mais eficientes, ampliando a capacidade de executar multi-tarefas e possibilitando a reabilitação cognitiva de pacientes em tratamento.

Videogames devem ser consumidos respeitando a classificação indicativa dos jogos e sãopoderosos aliados para a plasticidade do cérebro, aprendizado, atenção e visão.

 

REFERÊNCIAS:

Khaled Jr.; Salah H. Videogame e Violência - Cruzadas Morais Contra Os Jogos Eletrônicos No Brasil e No Mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. 476 p. ISBN 9788520009895

FORBES, Jorge et al - A invenção do futuro: Um debate sobre a pós-modernidade e a hipermodernidade , Ed. Manole, 2005, pgs. 101-102.

Violent video game engagement is not associated with adolescents' aggressive behaviour: evidence from a registered report
https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsos.171474

Daphne Bavelier: Seu cérebro sob videogames
https://www.youtube.com/watch?v=FktsFcooIG8

MASSACRE EM SUZANO: A BANALIZAÇÃO DO TERRORISMO
https://ecoandoavozdosmartires.wordpress.com/2019/03/14/massacre-em-suzano-a-banalizacao-do-terrorismo-2/

Em fórum extremista, atiradores pediram 'dicas' para atacar escola
https://noticias.r7.com/sao-paulo/em-forum-extremista-atiradores-pediram-dicas-para-atacar-escola-13032019

Assassinos planejaram massacre em escola de Suzano por mais de 1 ano, aponta investigação
https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2019/03/14/assassinos-planejaram-massacre-em-escola-de-suzano-por-1-ano-e-meio-aponta-investigacao.ghtml

Massacre em Suzano: o que se sabe até agora
https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2019/03/13/tiros-em-escola-em-suzano-o-que-se-sabe-ate-agora.ghtml


Matérias Relacionadas
COMENTÁRIOS

Permitir Cookies

Este site utiliza cookies para melhorar a experiência do usuário. Veja nossa Política de Privacidade