Reciclagem do plástico no Brasil: um modelo a ser revisto
Atualmente, país é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, mas recicla apenas 1,3% do que é gerado
Você já imaginou sua vida sem o plástico? Seria muito difícil. Mesmo que você já seja adepto de sacolas retornáveis em suas idas ao mercado, eles estarão nas embalagens dos produtos ou da comida que você pediu por aplicativo. A nossa sociedade se tornou tão dependente desse material que ele pode estar em objetos utilitários na sua casa ou, até mesmo, em peças da sua televisão e do seu celular.
Porém, diante de tanta versatilidade surge um problema: o plástico causa sérios impactos ambientais já que demora cerca de 400 anos para se decompor na natureza. Ou seja, o primeiro plástico criado pela humanidade, quando as pesquisas começaram no século XVIII, ainda deve estar em algum lugar do planeta.
Esse problema aliado ao uso do plástico como material descartável, muitas vezes com uma vida útil bem curta, já fez que a ONU considerasse o plástico o inimigo número um do planeta. Título que não é à toa. Um estudo de 2018, de uma universidade australiana, apontou que a contaminação dos oceanos, principalmente por plásticos, é causa da morte de cerca de 100 mil animais marinhos todos os anos. Para combater esse grave problema só resta uma saída: a reciclagem do plástico.
A importância da reciclagem
A reciclagem tem um importante papel na construção de um mundo melhor para vivermos e precisa ser levada mais a sério por todos, dos consumidores que podem separar o lixo em casa a empresas e indústrias que precisam pensar a cadeia completa de sua produção.
Os números confirmam a necessidade. Segundo dados doFundo Mundial para a Natureza (WWF, sigla em inglês), o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Índia. Ainda pelas informações da WWF Brasil, em 2019, foram geradas 11,3 milhões de toneladas de plástico, mas apenas 145 mil foram recicladas em território nacional, o que representa 1,3% de todo lixo plástico gerado no país.
A quantidade é considerada insignificante diante de tamanha necessidade. Além disso, o Brasil fica muito abaixo da média global de reciclagem plástica, a qual é de 9%.
Entre os especialistas há quem acredite que a reciclagem do plástico é uma simplificação para a solução do problema que não será, de fato, satisfatória. Nesses casos, a defesa é por uma mudança mais significativa no sistema com a disseminação do uso de embalagens reutilizáveis. Com certeza, a substituição do plástico por outros materiais de impacto negativo menor é importante de ser pensada. Contudo, devido a importância que esse produto assumiu no mercado, com suas características, a substituição completa é algo difícil de ser alcançado.
Impactos da pandemia
Já é consenso que a pandemia de Covid-19 causou impactos em todos os setores. Em relação a produção de lixo, em especial lixo plástico, não foi diferente. No início da crise sanitária, com o isolamento social e queda no poder aquisitivo de parte da população, houve diminuição na produção de lixo. Um alívio momentâneo para o planeta, já que, com o agravamento da crise, houve aumento na produção de resíduos sólidos, em especial lixo hospitalar.
Com a recomendação do uso de máscaras e equipamentos de proteção individual descartáveis, aumento no consumo de comidas entregues em casa que utilizam embalagens plásticas de curta duração, a pandemia tem gerado também uma quantidade ainda maior de lixo plástico. Os números assustam. Segundo um estudo divulgado pelo Atlas do Plástico, se todas as pessoas do mundo usassem máscaras descartáveis, seriam necessárias 129 bilhõesde máscaras faciais por mês. No Brasil, o consumo seria de 3,5 bilhões de máscaras em um mês.
Nessa briga, quem está perdendo é o meio ambiente, que é o depósito final desses materiais descartados de forma incorreta.
Uma sociedade que recicla
Apesar de a maior parte do lixo plástico ser gerado pelo consumo doméstico e a separação correta dos materiais ser uma parte importante do processo de reciclagem, uma mudança verdadeira para que o plástico não destrua a única casa que temos envolve também o setor produtivo – as empresas – e os governos.
É preciso implantar uma mentalidade de construção coletiva que considera todas as implicações de uma determinada escolha. Não há mais espaço para uma empresa que só considera as suas necessidades de produção e o seu lucro, sem reflexão sobre o impacto que gera na sociedade e no meio ambiente. Não cabem mais os governos que fazem “vista grossa” para a degradação ambiental, que não compreendem a importância da sustentabilidade para o desenvolvimento.
Não é sobre uma simples estratégia de marketing ou sobre fazer postagens bonitas nas redes sociais, é sobre pensar uma nova forma de produzir para que a sociedade que conhecemos e construímos continue a existir.
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