Diabetes e feridas: uma combinação preocupante
Comissão do HSDS prepara protocolos personalizados para tratamento de feridas e realização de curativos para pacientes diabéticos, com comorbidades ou acamados, em uma aliança entre a atenção básica, o hospital e a família.
Se você já teve que cuidar de alguém acamado está ciente do desafio. Ficar deitado na mesma posição por um longo período pode aumentar o risco de lesão na pele, as chamadas lesão por pressão, que podem ser difíceis de tratar. Elas se desenvolvem geralmente nos calcanhares, tornozelos, quadris e cóccix, e podem evoluir rapidamente. Igualmente desafiador para familiares e cuidadores não capacitados na área da saúde é o tratamento de feridas operatórias ou a realização de curativos em cateteres, afinal nem sempre se sabe o que observar e como corrigir desvios na evolução da cicatrização. Em pacientes diabéticos, a questão fica ainda mais delicada.
De acordo com a coordenadora da Comissão de Curativos do Hospital Salvatoriano Divino Salvador, a enfermeira Joseanny Dreger Neves, as pessoas que sofrem com diabetes devem prestar atenção em todo e qualquer caso de corte ou ferimento superficial. "Estes pacientes tem maior propensão a desenvolver processos inflamatórios e a ter dificuldades de cicatrização. Existem casos em que o paciente se machucou em casa e dois dias depois precisou amputar dedos em decorrência de uma ferida. Diante de toda ferida, a enfermagem deve fazer uma análise minuciosa para avaliar como a pele reage e evitar uma infecção", explica a enfermeira.
O paciente deve continuar a tratar as feridas em casa
O conhecimento de Joseanny não vem apenas da sua graduação em enfermagem. Prestes a concluir uma pós-graduação em estomaterapia (uma especialidade da área de Enfermagem que busca cuidar de pacientes com estomias, feridas agudas e crônicas, fístulas e inserção de cateteres e drenos), a enfermeira transferiu toda sua bagagem de conhecimentos para a elaboração de planos personalizados para os cuidados com a pele de cada paciente. "Nosso objetivo é que um paciente que tem alta consiga continuar o tratamento das feridas em casa, realizar os curativos adequadamente, e retome sua vida normal o mais rápido possível sem correr o risco de retornar ao hospital com uma infecção", aponta.
Para atingir esta meta, o HSDS reestruturou sua Comissão de Curativos com a inclusão dos enfermeiros de todos os setores sob a coordenação de Joseanny e iniciou um diálogo com as equipes de enfermagem do serviço municipal de saúde visando a atuação conjunta. No Hospital já existe uma importante ferramenta para identificação do risco de lesão por pressão: as pulseirinhas de identificação de risco, que fazem parte do Programa Nacional de Segurança do Paciente. Elas auxiliam a equipe a direcionar mais atenção e cuidado para estes pacientes, seja com mais rotatividade de posições para evitar a sobrecarga de pressão na pele, seja na comunicação sobre as feridas, caso existirem. Com as equipes da Atenção Básica, começa a ser desenvolvido o sistema de referência e contrarreferência, em que o paciente que tem alta do Hospital é encaminhado para a unidade de saúde e depois reencaminhado para a unidade de origem quando o atendimento for finalizado.
Uma pessoa diabética pode ver um ferimento
simples virar uma complicação
Segundo Joseanny, a atuação conjunta já trouxe resultados muito positivos. "Nossa preocupação é com a continuidade do tratamento das feridas. Um paciente que é diabético pode ter um ferimento aparentemente simples que vai gerar uma complicação. Então esse trabalho em equipe desenvolvido pelos profissionais e pela família é fundamental para dar mais qualidade de vida ao paciente", diz. E enquanto o paciente está sob os cuidados do HSDS, cabe à enfermeira orientar os familiares para que não tenham medo do ferimento ou de fazer o curativo. "É importante que a família aprenda a identificar quando a ferida está cicatrizando bem e quando apresenta sinais de alerta para que procurem o Hospital o mais rápido possível. Os pacientes saem com um plano de cuidado, ou seja, com um planejamento do que devem fazer em casa para ter um bom resultado", orienta. Em breve, prevê-se que a orientação também seja estendida aos pacientes do Hospital Salvatoriano Santa Maria.
E este aprendizado não vale apenas para os diabéticos. Pacientes pós-cirurgicos, sejam cirurgias eletivas ou não, também devem prestar atenção extra na cicatrização e reconhecer os sintomas de que algo está errado. "O que percebemos com a estomaterapia é que não há como prescrever uma única abordagem para todos os pacientes. Quando avaliamos uma ferida, precisamos ver a granulação da pele, a hidratação, a presença de infecção, etc., e já nos valemos de procedimentos que normalmente têm outras indicações para conseguir resultados melhores e mais rápidos", conta Joseanny. Por isso, a Comissão desenvolveu um plano de educação continuada para os colaboradores do HSDS, com encontros periódicos para orientação e reciclagem dos conhecimentos.
Preste atenção se:
Houver mudança na coloração da ferida (de vermelho para amarelo ou para preto);
Aparecer secreção;
Ocorrer mudança de temperatura na região da ferida;
Apresentar inchaço.
Cuidados:
Manter a higiene do local;
Buscar suporte nutricional para controle da hiperglicemia;
Manter uma boa hidratação;
Manter a pele ao redor da ferida sempre hidratada;
Utilizar cremes com vitaminas;
Utilizar os produtos orientados pela enfermagem;
Manter a conduta orientada pela enfermagem.
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