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Os jovens e o hábito da leitura


O jovem gosta de ler. E lê. Essa informação bastaria por si só, mas caso não tenha te convencido ainda, pode ser embasada com inúmeros dados gerados pelas pesquisas do setor. A 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil, publicada em 2019 é um desses exemplos. Outro é o acumulado de dados da Biblioteca Municipal Euclides da Cunha, em Videira. Vem ver.

Começamos pelo início. "O jovem não lê porque fica só no celular" é a versão anos 20 de "o jovem não lê porque fica só no computador" ou no videogame ou na frente da televisão ou trocando figurinhas ou brincando na rua. Este tipo de posicionamento atrai tantos jovens para a leitura quanto dizer que "os jovens não querem mais trabalhar" os atrai para o mercado, ou seja, não tem efeito algum e se baseia em uma ideia idílica de um passado em que os jovens tinham a leitura como seu principal passatempo. Se baseia em uma ilusão.

Jovens, menores de 18 anos, respondem por 19% dos leitores de Florianópolis. A porcentagem, advinda da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2019), será ampliada se considerarmos uma margem de idade maior para esse termo guarda-chuva chamado jovem para abranger os "jovens adultos", conhecidos pelo mercado pela sigla YA, do inglês Young Adults. Em termos de estudo, a amostra indica que 36% dos leitores está estudando e que a motivação que a maioria tem para ler é muito simples: 42% lê porque gosta, em contraponto aos 19% que lê em busca de crescimento pessoal e do número menor ainda que lê em busca de atualização cultural ou conhecimento geral.

Ler é entretenimento. E é ótimo que seja! Quem agradece por isso é a saúde mental, que encontra um passatempo para desacelerar das obrigações empresariais ou educacionais, um tempo para relaxar, um momento de prazer que não se anula com as redes sociais ou novas mídias digitais.

"Quando comecei a trabalhar na biblioteca, percebi que o público maior era o mais maduro, pessoas com 50 anos ou mais. Após a pandemia, percebo que temos bastante pessoas entre 25 e 40 anos visitando, porém o maior público é composto por jovens entre 14 e 18 anos. Estes jovens visitam a biblioteca em busca de livros que estão em alta e que são muito comentados por influenciadores de redes sociais como Instagram e TikTok, este último se tornou um grande aliado ao incentivo da literatura", destaca Débora Padilha, a bibliotecária da Biblioteca Municipal Euclides da Cunha, de Videira. E essa percepção não vem sozinha.

A pesquisa Retratos da Leitura em eventos do livro e literatura, realizada por uma parceria do Instituto Pró Livro - IPL e Itaú Cultural durante a 26ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo, em 2022, revelou um crescimento da influência do TikTok, Youtube e Instagram no interesse em leituras. O índice que era de ínfimos 3% em 2019 atingiu 28% em 2022, com grande destaque para o poder dos livros para enfrentar o isolamento imposto pela pandemia. As indicações de amigos ficaram em segundo lugar, com 22%.

Mais do que demonstrar o poder das redes sociais nas decisões de compra e cultivo de hábitos, estes dados indicam uma importante mudança no mercado editorial. Não faz muito tempo que, para se tornar um best-seller, bastava ser publicado por uma grande editora. Menos ainda que, para se tornar um best-seller, bastava ser mencionado por uma crítica no suplemento de cultura dos jornais. Hoje as grandes editoras se fundiram. Os jornais desapareceram. O suplemento de cultura virou fumaça. É a era dos influenciadores. "Nas redes sociais encontramos grandes influenciadores que, de certo modo, estão ditando o que os jovens consomem. Com o alcance da internet, hoje é muito fácil fazer com que um livro se torne 'hype' ou seja cancelado e a massa de jovens costuma buscar por estas leituras para ver com os próprios olhos se a obra é boa ou não", destaca Débora.

Esse tipo de influência também está ligada a outras questões. Produtores de conteúdo indicam ao seu público livros com temas relacionados às pautas que carregam, logo não se pode esperar que indiquem apenas literatura clássica. "A literatura está cada vez mais diversificada, conversando mais com os jovens para tratar temas que os atraem, como por exemplo, a diversidade. Romances polêmicos têm a atenção deles. É preciso também inserir o novo, afinal temos autores brasileiros contemporâneos que escrevem muito bem sobre assuntos relevantes e importantes de discussão", salienta.

Nessa onda, inúmeros desafios literários engajam pessoas dia após dia. Clubes de leitura pipocam com encontros facilitados através das plataformas digitais e o acesso aos títulos é ampliado com a oferta de obras em diferentes formatos. Novas roupagens também atraem o olhar dos jovens para as histórias clássicas, a exemplo da mitologia, seja com romances no estilo Madeline Miller ou com os quadrinhos de Rachel Smythe. 

A maior parte do público que frequenta a Biblioteca busca por livros de ficção e quadrinhos (mangás). A grande procura por literatura foge das indicações da escola e dos títulos utilizados para realizar tarefas ou trabalhos escolares. O movimento também oscila de acordo com as redes sociais. Débora percebe que as publicações sobre novos títulos que chegam ao acervo acarretam mais procura durante a semana. Os quiz sobre literatura também geram bom engajamento e interação com os seguidores, fomentando o algoritmo. E mesmo que o horário de funcionamento da instituição coincida com o horário de trabalho, e que se busque um atendimento mais amplo no futuro, a construção de um acervo capaz de complementar o disponível nas escolas e universidades certamente contribui para que a procura seja cada vez maior. Tal como os encontros. Nada melhor do que se encontrar em um personagem memorável e falar sobre ele e seu universo com todos ao seu redor.

 


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