Uma confusão entre figuras
A língua portuguesa é uma das mais difíceis do mundo de se aprender por conta de todas as suas regras e desafios. Ao longo da nossa jornada como estudantes aprendemos desde juntar as letrinhas e escrever algo simples como nosso nome, até empregar em frases as figuras de linguagem. Elas estão presentes no nosso dia a dia e adoramos colocá-las em nossas frases empregando um contexto diferente e inusitado. Você pode não lembrar delas, mas deveria! Vem refrescar a sua memória.
Lembro quando começamos a estudar as figuras de linguagem. E eu achei engraçado quando a professora Helene, disse que “por cada” era uma cacofonia, não tinha entendido bem até ler em voz alta. E eu que nunca entendi porque Humberto dizia que os lábios de Ana eram labirintos, fui conhecer as metáforas. Se você não é um exímio fã de leitura pode ter observado no filme “A culpa é das estrelas”, quando Hazel Grace e Augustus Waters falavam sobre cigarros e como ele os colocava na boca somente como uma metáfora, porque nunca os ascendia.
Nós utilizamos as figuras de linguagem no nosso cotidiano, até sem perceber. As figuras de linguagem são recursos que tornam o que falamos ou a mensagem que emitimos aos outros mais expressivas e significativas. Esses recursos ampliam o significado de uma oração, assim como buscam suprir lacunas de uma frase com mais significados. Nós escritores adoramos esses recursos empregados em nossos textos. Alguns fazem com que pareçamos muito inteligentes, enigmáticos e até completamente malucos, mas a magia está em brincar com a língua portuguesa e com a nossa licença poética.
As figuras de linguagem são divididas em classes: figuras de palavra, figuras de som, figuras de pensamento e figuras de construção. Sendo elas:
Metáfora: É uma substituição de termos que possuem significados diferentes, mas uma relação de semelhança entre o que representa. (Ex: Minha filha é uma flor - a palavra flor remete a delicadeza).
Metonímia: Emprega um termo no lugar de outro, existindo entre eles afinidade ou relação de sentido. Muito utilizada para evitar repetição de palavras em um texto (Ex: Adoro ler Vinícius de Moraes - Aqui diz-se que a pessoa gosta de ler os livros do autor e não o autor em sentido literal).
Sinestesia: Representa uma mistura de sensações, cruzando na mesma oração diferentes sentidos humanos (Ex: Lembro-me daquela primavera e do aroma doce de seus cabelos - Na expressão “aroma doce” existe a sinestesia na combinação de duas sensações diferentes a olfativa e gustativa).
Catacrese: Ocorre quando utilizamos um termo fora do seu contexto original para nomear algo que não possui um nome específico, fazendo referência a outras coisas e objetivos (Exs: Céu da boca, asa da xícara, dente de alho, cabeça do prego, fio de azeite, etc).
Antítese: Em uma frase utilizamos termos que possuem sentidos contrários (Ex: João estava dormindo acordado - a palavras dormindo e acordado são antônimos e nessa frase o seu contraste dá significado à frase formando a antítese).
Paradoxo: É uma ideia contrária ao que se espera ou se considera uma opinião válida, fugindo do senso comum representando a ausência de nexo ou lógica (Ex: Ele não passa de um pobre homem rico - a palavra pobre e rico são contrárias e nessa oração se complementam porque fogem do senso comum e do que se considera aceitável).
Eufemismo: É a troca de algum termo, por um considerado mais leve ou brando o que acaba passando uma conotação mais agradável (Ex: Joana foi para o céu - trocando a palavra morreu que seria algo forte dentro de uma frase, por algo mais leve de se ouvir como o termo “foi para o céu”).
Hipérbole: Ela dá um exagero intencional às orações e gerando uma ênfase maior a algum termo no contexto de uma frase (Ex: Estou morrendo de fome - quando queremos dizer que temos muita fome, mas queremos dar ênfase a esse aspecto).
Ironia: Utilização de forma proposital de algum termo que manifeste sentido oposto ao seu significado (Ex: Alguém não está tendo um bom dia e bate seu carro e diz “era o que faltava para meu dia ficar ainda mais maravilhoso” - aquela situação não é nem de longe boa e utilizasse esse termo para gerar a ironia).
Apóstrofe: Ocorre quando as pessoas fazem uso da “invocação” de algo ou alguém para manifestar algum sentido ao contexto da oração (Ex: Por que diabos você fez isso? - usa - se uma criatura que em teoria não existe, pois não é visível aos olhos para contextualizar uma oração que nesse caso representa indignação).
Personificação ou Prosopopeia: Quando atribuímos sentidos humanos e racionais a elementos irracionais (Ex: meu coração está em prantos - O coração é um órgão do corpo humano e não possui racionalização, faz-se essa referência quando quer-se dizer que a pessoa está triste ou desesperada).
Pleonasmo: É muito empregado no nosso dia a dia e classificasse como a repetição de palavras que tem o mesmo sentido/significado em uma frase (Ex: Eles saíram para fora da casa - “Sair” e “para fora”, tem o mesmo sentido e na forma usual esse verbo não precisa desse acompanhamento).
Cacofonia: Ocorre quando há uma junção do final de uma palavra com o início de outra, formando uma tonalidade estranha e “feia”, dando um significado controverso à oração quando a lemos ou pronunciamos rapidamente (Ex: Eu vi ela na praça - a junção do “vi” com “ela”, forma a palavra viela, dando um sentido diferente ao contexto da frase quando falada).
Comparação: Relaciona dois termos diferentes em uma mesma oração, com a intenção de reforçar ou enfatizar a mensagem a ser transmitida (Ex: Seus olhos brilham como as estrelas do céu - onde compara-se os olhos da pessoa amada a estrelas).
Antomásia: Substituição de uma palavra por alguma que faça referência a uma característica dela, gerando uma identificação fácil (Ex: Terra da Garoa ao referir-se a São Paulo ou Cidade Maravilhosa, quando fala-se do Rio de Janeiro).
Onomatopeia: Processo de formar palavras que tentam reproduzir sons (Ex: Miau - miado do gato).
Gradação: Propõe uma sequência de palavras ou expressões que intensifiquem uma mesma ideia ou elemento com o objetivo de destacar este componente dos demais, demonstrando crescimento ou evolução (Ex: Na frase famosa “O que é aquilo no céu? Um pássaro? Um avião? Um homem? É o Superman!” - podemos acompanhar a evolução referente àquilo que é visto, até a afirmação e confirmação do que está realmente sendo visto).
Anáfora: Repetição regular de uma palavra em uma frase (Ex: Na música “Flores” dos Titãs podemos observar essa figura de linguagem quando percebemos a repetição da palavra flores - Há flores cobrindo o telhado [...] há flores em tudo o que eu vejo).
Polissíndeto: Quando se repete uma conjunção (Ex: Ou estuda, ou trabalha, ou tem saúde).
Quiasmo: Promove a repetição cruzada dento da oração (Ex: E jogava e estudava e estudava e jogava).
Silepse: Quando existe concordância verbal ou nominal com a ideia, mas não com a palavra (Ex: A gente é novo - a palavra gente é um substantivo feminino e a palavra novo é um adjetivo masculino).
Hipérbato: Quando a oração não está na ordem direta para produzir um efeito de sentido (Ex: Estudavam anteriormente com enciclopédias os alunos).
Elipse: Termo ou oração ficam ocultos, mas dá para saber qual é a palavra através do contexto (Ex: Fiz uma fotografia muito bonita hoje - O pronome eu está oculto).
Zeugma: Recurso que omite um termo que já foi mencionado antes na oração (Ex: Ele gosta de história, eu de português - O verbo gostar está oculto).
Assíndeto: Omissão exclusiva de conectivos e conjunções (Ex: Estudei, dancei, caminhei, dormi e comi - A conjunção está oculta, ficando apenas para unir as últimas duas palavras).
Aliteração: Quando são utilizadas palavras com consoantes que produzem sons parecido, gerando um trava-línguas (Ex: O rato roeu a roupa do Rei de Roma).
Assonância: Repetição consecutiva de palavras com vogais tônicas (Ex: “Ó formas alvas, brancas, formas claras”, poesia de Cruz e Souza - nesse caso o “a” das palavras forma uma vogal tônica).
Anacoluto: A estrutura sintática da frase é interrompida por algum elemento solto, fazendo a linguagem escrita se assemelhar à linguagem oral, dando espontaneidade à mensagem.
Refrescou a memória? Elas são muitas, parecem um bicho de sete cabeças, mas se você já emprega as figuras de linguagem no seu dia a dia sem nem perceber, imagina tendo esse guia prático. Viva a Língua Portuguesa!
FIGURAS DE LINGUAGEM - EXEMPLOS
Metáfora: Aquele moço é um gato
Metonímia: Sempre uso bombril em minha panelas
Sinestesia: Gosto da sua voz macia
Catacrese: Para essa receita, retire a pele dos tomates
Antítese: Minha amiga Luísa está entre a vida e a morte
Paradoxo: Pedro não encara a realidade. Vive sonhando acordado
Eufemismo: O réu faltou com a verdade
Hipérbole: Já te avisei um bilhão de vezes, para não comer bolachas antes do jantar
Ironia: Alice teve uma grande ideia e arruinou nossa viagem
Apóstrofe: "Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura..." (Castro Alves)
Personificação ou Prosopopeia: As árvores nos pedem socorro
Pleonasmo: "Eu rir meu riso e derramar meu pranto" (Vinícios de Morais)
Cacofonia: Rapidamente ele chegou e beijou a boca dela
Comparação: A casa verde da rua 13 parece um hospício
Antomásia: Aquele homem é o Rei do Cangaço
Onomatopéia: A única coisa que se ouvia naquela sala era o tic-tac do relógio
Gradação: "É pau, é pedra, é o fim do caminho" (Tom Jobim)
Anáfora: "Sua doce paralavra, seu instante... Sua gula e jejum, sua biblioteca"... (Calos Drommond de Andrade)
Polissíndeto: "As ondas vão e vem, e vão, e são como o tempo" (Lulu Santos)
Quiasmo: Vinha andando triste e desanimado, desanimado e triste
Silepse: Vossa excelência é muito justo, cumpre com todas as normas e leis
Hiperbato: Morreu meu vizinho
Elipse: A cidade dormia, ninguém na rua
Zeugma: Eu gosto de morango e melancia também
Assíndeto: "Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado" (Raul Seixas)
Aliteração: O peito do pé de Pedro é preto
Assonância: "Berro pelo aterro, pelo desterro, berro por seu berro, pelo seu erro" (Caetano Veloso)
Anacoluto: Meu pai, as leituras deixaivam-no acordado a noite toda
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