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Literatortura


Você lembra das aulas de literatura do colégio? Provavelmente foi durante essas aulas que você leu os clássicos brasileiros e aprendeu a diferença entre crônica e conto, poema e prosa, novela e romance, ficção e não-ficção. Essas divisões são muito importantes para localizar leitores, escritores, editores e livreiros em suas caixinhas e balizar os possíveis pensamentos fora da caixa. Vem com a gente conhecer alguns gêneros da literatura de ficção!

Ao observar um livro em uma feira, você pode não fazer ideia de quanta teoria existe em sua produção ou mesmo quantas pessoas são envolvidas no processo. Enquanto escrever pode ser um ato solitário, publicar é um ato coletivo. Existem muitos processos pelos quais uma obra passa antes de chegar até a mesa de cabeceira do leitor e todo autor em determinado momento da carreira poderá ter que responder à questão: O que você escreve?

Ora, se você perguntar para mim, eu direi: eu escrevo palavras. Mas a escritora Aline Valek tem uma história melhor. Segundo ela “Não costumo contar a história de como virei escritora. É muito rápida. Estava passando, vi a palavra ‘escritora’, ninguém estava olhando, comecei a usar. Ninguém falou nada. Até agora, ninguém apareceu na minha porta pedindo de volta. Estamos aí desde então”. Aline escreve ficção e uma porção de outras coisas. Eu escrevo contos de não-ficção.

A diferença básica entre o que eu e Aline escrevemos é que o meu texto é factual sobre a realidade (pode ser uma biografia ou uma obra de memórias), enquanto o dela pode ser baseado em fatos reais e ter algum conteúdo imaginário, ou então ser completamente imaginário. Na categoria de ficção se enquadram os clássicos da literatura que você leu na escola e muitos outros como a obra de Aline (As águas vivas não sabem de si), Eduardo Spohr (A Batalha do Apocalipse e a trilogia Filhos do Éden), Lady Sybylla (Deixe as estrelas falarem), Paola Siviero (O Auto da Maga Josefa), entre outros. Mas até mesmo entre eles existem diferentes gêneros classificados a partir de critérios semânticos, formais, sintáticos, contextuais e outros.

 

DENTRO DA FICÇÃO

As obras de ficção são muito ricas em possibilidades e podem se enquadrar em vários gêneros. Alguns deles são:

Aventura: obras em que a personagem é constantemente colocada em situações perigosas.

Drama: obras cujo conteúdo central ou secundário é caracterizado por sofrimentos ou tragédias. Elas podem ou não ter um desfecho triste.

Graphic Novel: uma longa história apresentada através de arte sequencial (quadrinhos). Diferente dos gibis que crescemos lendo, os enredos podem ser mais complexos. Entre os exemplos estão as revistas de super-heróis e , como representante do segundo boom do gênero, a obra Persepolis, de Marjane Satrapi.

Histórias em Quadrinhos (HQ): similar às graphic novels pelos recursos visuais, podem ter vários estilos. Sua publicação pode ocorrer no formato de revistas, livros ou tiras publicadas em jornais ou revistas.

 

A LITERATURA FANTÁSTICA

A literatura fantástica merece uma explicação especial. Isso não significa que os outros gêneros não tenham a sua importância, mas provavelmente a sua próxima leitura se encaixe em algum dos gêneros a seguir. Esse gênero é caracterizado por narrativas ficcionais centradas em elementos que não existem ou não são reconhecidos na realidade. Um belo exemplo é a obra A Arma Escarlate, de Renata Ventura, que se passa em 1997 em um imenso tiroteio na favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, quando um menino de 13 anos descobre que é bruxo e busca aprender magia para enfrentar o tráfico. A obra de Renata é um exemplo de literatura de fantasia, em que os fenômenos sobrenaturais, mágicos e outros aparecem como elemento primário do enredo. E se um exemplo não é suficiente, a obra Lobo de Rua, de Jana Bianchi, também pode te inspirar com a trajetória de Raul, um morador de rua de São Paulo que se torna um lobisomem.

O gênero ainda abraça um outro tipo de obra chamada de distopia, cujo processo discursivo se baseia no oposto da utopia, ou em uma utopia negativa. Elas se caracterizam pelo totalitarismo, autoritarismo e opressivo controle sobre a sociedade. Se você está em busca de exemplos, relembre de 1984 (George Orwell), O Conto da Aia (Margaret Atwood), V de Vingança (Alan Moore e David Lloyd) e Ninguém Nasce Herói (Eric Novello).

As obras fantásticas também podem partir para a ficção científica e ficção especulativa. O conceito de ficção especulativa surgiu no final dos anos 60 como uma forma pejorativa de denominar as obras que não se encaixavam completamente no gênero de ficção científica. Ainda hoje alguns blogs e críticos mantém o tom preconceituoso sobre o gênero e o veem como uma espécie de limbo literário. Outros preferem ver esse termo como um guarda-chuva que abriga aquelas obras que são uma mescla de vários gêneros. Aqui teremos, portanto, a obra que é uma distopia, mas tem elementos de terror e é ambientada em um cenário de ficção científica. Um exemplo brasileiro pode ser visto nas obras de André Vianco, que reúne vampiros, navios para o Novo Mundo, caçadores de mortos-vivos, São Paulo, lobisomens, o exército brasileiro e uma caçada a uma criatura mais cruel que o próprio demônio.

O sobrenatural, por sua vez, deriva dos livros de horror e dos romances góticos do século XVIII, que tinham como premissa provocar medo. Hoje, a presença de seres sobrenaturais como vampiros, lobisomens, fantasmas e zumbis nem sempre acompanham a ideia do medo.

 

O MEDO DO TERROR

Escrever livros de terror pode parecer simples para que não escreve. Incluir monstros, sangue e muitos gritos não é o suficiente. O gênero de terror abriga diversos sub-gêneros como a ameaça sobrenatural, assombrações, fantasia sombria, crianças em perigo, crianças assustadoras, terror psicológico, realismo mágico, tecnologia, etc. No Brasil, Karen Alvares é uma das revelações do gênero (você pode encontrar obras gratuitas da autora na Amazon).

Dentro do terror, tudo ainda pode ser reinventado. Velhas bruxas, por exemplo, podem ganhar novas roupagens e a prova disso é a obra HEX, do holandês Thomas Olde Heuvelt. Na obra, a bruxa com costuras nos olhos e correntes nos braços, condenada à fogueira tal como as bruxas de Salem, aparece quando bem entende e sussurra a morte para quem se aproximas o suficiente para ouvir. Ao enfeitiçar a alma da cidade, quem se afastar demais passa a ter a mente invadida por pensamentos suicidas e muitos não retornam para contar a história. Mas a bruxa é monitorada 24 horas por dia através de um aplicativo chamado HEX, que garante que a história não seja revelada para os forasteiros.

 

A FICÇÃO CIENTÍFICA

 Quem nunca consumiu um filme ou um livro de ficção científica que atire a primeira pedra. Embora muitos leitores considerem que o gênero não tem mais a oferecer, ainda é preciso discordar. Obras do sub-gênero space opera foram algumas das percussoras da ficção científica, baseando-se em cenários extraterrestres que ignoram completamente as leis da física. São recheadas de clichês vistos em Star Wars, Battlestar Galactica, Jornada nas Estrelas e etc. Entretanto, várias obras brasileiras de space opera já revitalizaram o gênero por aqui e estão disponíveis em e-book com custo bem pequeno.

Entre os sub-gêneros mais populares estão:

Apocalíptico e pós-apocalíptico: histórias focadas no fim do mundo em que um grande acidente ou guerra que devasta o planeta é o ponto de partida da narrativa.

Ciberpunk: caracterizado por híbridos de humanos e computadores, as histórias se passam no ambiente virtual (tipo Matrix) em uma grande parte do tempo.

Comédia: tem no humor um dos elementos principais.

Ficção científica hard: guiada pelas ideias, deixa de lado a caracterização das personagens e seus conflitos.

Ficção científica soft: a tecnologia deixa de ser o centro para que as personagens assumam suas histórias, com ênfase na interação entre humanos e máquinas.

Ficção robótica: representado pelos robôs e princípios da robótica, a trama não tem humanos no foco central.

Primeiro contato: são histórias que narram o primeiro contato entre humanos e alienígenas, que podem variar de encontros catastróficos a pacíficos.

Steampunk: uma fusão entre a ficção científica e a estética do século XIX, cujo foco é a introdução de conceitos futuristas em cenários anteriores como a era do vapor.

Viagem no tempo: popularizado por H. G. Wells, os personagens podem viajar no tempo ou então receber a visita de viajantes vindos do passado ou do futuro.

 

AS MELHORES DICAS

Se você vai se aventurar no mundo da ficção, talvez algumas dicas possam te ajudar na criação da sua obra. Primeiro, é preciso ler muito. E não apenas ler sobre o gênero que você pretende escrever, mas ler um pouco de tudo para identificar as características de cada gênero. Além disso, leia mais autores brasileiros. A literatura brasileira é riquíssima e somente nesta matéria você já tem várias referências de autores nacionais para buscar.

O segundo ponto importante é tornar a sua ficção plausível. Você não precisa descrever tudo nos mínimos detalhes, mas seria possível imaginar uma história ambientada em Joaçaba sem que a personagem coma algum lanche ou pastel em determinado momento? Ou cruze a ponte para ir a Herval? E existiria uma história em Rio das Antas sem que a personagem cruzasse os trilhos do trem? Aproveitar os elementos já existentes da paisagem garantem confiabilidade para a história e o reconhecimento do leitor, além de permitir que a sua criatividade seja direcionada para aspectos mais importantes e complexos: o imaginário.

Se a sua história for sobre ficção científica, aproveite a oportunidade e crie aliens realmente originais. Diferente de um filme, os custos de produção de um livro não estão ligados à estética das personagens, então está tudo bem se o seu alienígena tiver milhares de tubos e conexões, lâmpadas de LED, oito cabeças e milhões de dentes. Aproveite essa chance para mostrar como você pode ser criativo.

Seja na fantasia ou na ficção, dê uma atenção à mais às personagens. Os seres humanos são tão diversos e existem tantos meios de entrar em contato com pessoas diferentes que já não se pode pensar em uma obra em que todas as personagens importantes sejam homens. Nem mesmo podemos pensar em contextos em que todas as personagens sejam brancas. Se você vai se desafiar a escrever um livro, desafie-se também a incluir personagens que podem fugir do seu padrão: mulheres que não são apenas donas de casa ou que não esperam por um par romântico, personagens gordos e gordas, negros e negras que não sejam cobradores ou faxineiras, orientais que não sejam apenas nerds ou sábios místicos, cadeirantes e demais pessoas com deficiência podem fazer parte da trama sem que suas trajetórias sejam dramáticas. Representatividade importa.

Por fim, lembre-se que o livro precisa divertir o leitor. Uma boa obra é aquela que você lê com gosto e dificilmente será produzida por um autor que já se cansou de escrever. Se você está nesse ponto de parada, talvez seja a hora de dar um tempo no seu original e respirar novos ares ou então solicitar uma leitura crítica antes de prosseguir. No fim das contas, tudo o que um livro quer é ser lido.


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