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Saber escrever é um privilégio


O Brasil está em posições acima no ranking mundial, quando o assunto são taxas de analfabetismo. Os esforços para manter a população na escola e formar uma nação letrada, precisam ser cada vez mais intensificados. O português é um língua naturalmente difícil de aprender e não só para os estrangeiros, é complicada da alfabetização até o ensino superior. Dessa forma, mesmo que as pessoas tenham ido a escola, nem sempre se identificam com a ortografia, até mesmo pelos vícios de linguagem. Saber escrever é um privilégio.

A alfabetização é classificada como a aprendizagem do alfabeto e sua utilização como forma de comunicação falada e escrita. Esse aprendizado é fundamental para o domínio da leitura e da escrita, assim se constrói o conhecimento a respeito da gramática e linguagem. O processo de aprendizagem vai muito além de saber o alfabeto e conseguir  juntar as letras para ler e escrever, ele abrange a capacidade de compreender, interpretar, tecer críticas, ressignificar e produzir conhecimentos.

O analfabetismo ou iliteracia é a incapacidade de um sujeito de ler ou escrever nem sequer o próprio nome ou um bilhete simples. Já o analfabetismo funcional ou semianalfabetismo é quando o indivíduo sabe ler e escrever, mas é incapaz ou tem imensa dificuldade de interpretar textos simples. Essa visão se moldou ao longo dos anos, com os avanços tecnológicos e a necessidade da população de compreender tudo que acontecia ao seu redor. No período pós-guerra, por exemplo, o alfabetismo era visto de maneira simples e prática, sobre a perspectiva de que as pessoas que soubessem ler, escrever e contar era consideradas alfabetizadas. A partir dos anos 60 esses conceitos mudaram e as mudanças históricas e de oportunidade foram muitas e passaram a ter um visão mais funcional e coerente sobre esse aspecto.

Somos cerca de 210 milhões de brasileiros, desses 11,3 milhões são analfabetos. Isso reflete em uma taxa de 6,8% de pessoas acima de 15 anos que não sabem nem ler e nem escrever. Entre os países latino americanos, o Brasil é o 9° no ranking da taxa de analfabetismo. Esses números nos colocaram no grupo das 11 nações com mais de 10 milhões de pessoas não alfabetizadas, ao lado de Egito, Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) criou um programa de metas para esse grupo, afim de erradicar o analfabetismo até 2015. De acordo com ele o Brasil deveria reduzir a sua taxa de 6,8% para cerca de 6,5%. Em 2018 somente 13 estados atingiram a meta de redução do analfabetismo, estipulada para 2015, esse número contribui para que o Brasil ainda não tenha atingido a meta parcial de redução da taxa. A meta final do Plano Nacional de Educação é erradicar o analfabetismo até 2024.

Se 11,3 milhões de brasileiros são analfabetos, índices de 2018 apontam que cerca de 30% da população brasileira entre 15 e 64 anos é analfabeta funcional.  Falar do analfabetismo e do privilégio que ser alfabetizado é importante e necessário. Tudo o que fazemos envolve a oralidade, a gramática e a compreensão do que está sendo feito. Se fazemos nossos documentos que comprovam que somos cidadãos vivos e livres para exercer nossas cidadania e ter acesso a nossos direitos e respondermos por nossos deveres, precisamos além de saber assinar nosso nome, compreender e interpretar o que a documentação nos diz, isso evita que caiamos em golpes de pessoas mal intencionadas e faz com que nossa visão de mundo se amplie.

É preciso que as pessoas entendam que nem todos tem as mesmas oportunidades e um acesso adequado a educação. Toda criança em território nacional (em teoria), deveria ter acesso a escola e ensino de qualidade a partir dos 04 anos de idade. De acordo com estudo divulgado pelo IBGE em 2018, cerca de 02 milhões de crianças e adolescentes estão fora salas de aula, seja por falta de instrução dos pais, por precisarem trabalhar para ajudar no sustento das famílias e por falta de estrutura ou vagas. Esse número equivale a 5% da população infantil, o que mostra que o Brasil tem melhorado consideravelmente seus índices de alfabetização. Isso consiste na formação de cidadãos conscientes que consigam absorver conhecimento a ponto de serem capazes de viver por seus próprios pensamentos, ideologias e escolhas, tendo consciência de seus direitos e deveres para com a sociedade em que vive e o mundo que habita.

O Ministério da Educação tem realizado ações para reverter os quadros de analfabetismo no Brasil, visando favorecer programas voltados para a educação básica de qualidade, para que os alunos permaneçam nas escolas. Porém, não esqueceu-se da Educação de Jovens e Adultos (EJA), através de Programas  como o Brasil alfabetizado. É diferente letrar uma criança que está iniciando seu processo de busca pelo conhecimento e um adulto que já está exposto ao mundo, a sua cultura, a sua história, a suas letras e números, afinal ele tem vivência, trabalha, faz compras, tem acesso a informações de todos os lados, assiste e ouve as notícias, já esteve em vários lugares e está em contato com pessoas diferentes, dessa forma todo esse conhecimento precisa ser levado em consideração para que o aluno sinta-se amparado e respeitado em sala de aula, sentido que seu conhecimento também é importante, também agregará valor e o levará a ter novas experiências  e uma nova visão de acordo com coisas que ele já sabe ou conhece.

Somos seres sociais, estamos em contato com pessoas diariamente e nossa oralidade anda de mãos dadas com nossa escrita. É comum que uma criança quando comece a estudar já tenha vícios de linguagem ou um forma de falar diferente e incorreta, por conta do ambiente em que vive e das pessoas com quem convive. O que precisa ficar claro para ela, é que nem ela e nem os pais são “burros”, porque falam diferente. Nós precisamos compreender que se uma criança fala “drento”, ela vai escrever a palavra como fala e é preciso paciência e tato para explicar que está incorreto, para que ela não se considere incapaz, ou ache que os pais são ignorantes, apenas por uma questão cultural. E falar e escrever corretamente é uma questão de prática e cuidado. Mesmo as pessoas mais instruídas, com maiores níveis de escolaridade e acesso a informação, escorregam às vezes quando o assunto é a nossa ortografia.

A alfabetização promove a socialização dos indivíduos, possibilitando a troca de informações, simbologias e cultura. Saber escrever e falar de forma correta é um privilégio para parte da população brasileira. Em eras digitais, vemos a ortografia ruir, com os erros de ortografia cada vez mais evidentes e grosseiros, mas é necessária a compreensão sobrae o nível de instrução e cargas culturais do outro, precisamos ter o tato de perceber quando esses erros provêm da falta de oportunidade e quando é desleixo. É preciso corrigir, quem está disposto a aprender, de forma empática e cuidadosa, afinal não somos detentores de todo o saber do mundo.

 

Larissa Lucian


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