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Lamento de um diabético militante


Convivi com a diabetes por um longo tempo sem me dar conta. Logo cedo, mijar na cama, molhar as calças na escola, ser gozado pelos coleguinhas com apelidos depreciante, como mijo frouxo, fizeram parte da minha infância. Lembro que certa vez estava apurado ao extremo, pedi a professora para ir a casinha. Esta era uma pratica que enfurecia a dona Alexandra, saindo um, saiam os mais assanhados e a aula virava um reboliço. A professora disse não! Mandou-me sentar que o recreio estava próximo. Não tive dúvida: sentei-me e desaguei ali mesmo com a sensação maravilhosa de um orgasmo. A gurizada que já esperava a novidade começou um alarido saindo de perto da minha carteira. Veio o coral, sem demora: Mijão, mijão, mijão! Consequência: fui tirado da classe pela orelha, fui para casa mais cedo e passei o resto do dia molhado, atirando pedras aos pássaros e aos burros com meu bodoque certeiro.

Os anos passaram e continuei tendo problemas com o controle do fluxo urinário. Já no colégio, com frequência participava da procissão, dos colchões nas manhãs geladas de inverno lajeando. Como havia outros fui me conformando. Já na faculdade desmaiei na aula de fisiologia e o professor que me atendeu era médico e mal foi atribuído a uma hipoglicemia. Fui enviado ao consultório, revirado de cima para baixo, pediram exames e acabei com o diagnóstico escrito em letras grandes – “diabetes millitus”. Fui informado, pelo assistente do doutor que era coisa grave. Que poderia acontecer de novo e não tendo ninguém para me atender poderia “bater a caçoleta”

Estava na terceira década da minha vida. Dei a mínima para os conselhos. Tinha tanta atividade que não sobrava tempo e dinheiro para tratar da tal diabetes. Nesta altura eu praticava esportes, era chegado numa bola, nadava bem, tinha pouco mais de setenta quilos, elegante no porte, bem sucedido com as mulheres. Formei-me, casei, tive filhos. Precisava trabalhar muito para satisfazer a necessidade de vencer na vida. Fui melhorando de vida e de comida e de “stress”. Tornei-me um sucesso profissional. Não tinha grandes desconfortos. Aos trinta e cinco anos, para comemorar, escolhi o melhor médico da cidade anos, para comemorar, escolhi o melhor médico da cidade e fui fazer um tal de “chek’up” geral para ter esclarecimentos sobre a promoção da saúde. Foi o meu erro: vieram os exames. O médico convocou-me para um colóquio especial e me fez uma grave revelação: eu estava mal, do coração, dos olhos, dos rins, da bexiga, do pênis, do pâncreas, da pqp. Tinha açúcar no sangue, estava fora do peso, mais de 80 quilos, colesterol alto, triglicerídeos, glicemia toda torta. Resultado: balaios de remédios, exercícios físicos, corridas diárias, sol do meio dia, massagens desestressantes, muito capricho ou você morre!

- Pô, doutor e a cura?

- Que cura? – diabetes não tem cura! Tem controle. Esta tia acompanha o “homo sapiens” desde 1200 A.C. Faça tudo direitinho que dá para você viver mais uns anos!

- Caramba! – cada dia que passa mais me apaixono pela “tia bete” que por menos que eu cuide dela, mais doce ela me faz.


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