Quando o sonho vira pesadelo
Ela começava com uma frustraçãozinha aqui, uma decepção acolá, um assunto mal resolvido ao longe e de repente se torna uma sensação gigantesca de impotência, cansaço e culpa. Você que amava o seu trabalho e que sempre pensou que nunca se cansaria dele, só consegue pensar em férias e todas as manhãs quando precisa levantar para trabalhar, parece entrar em pânico. Não se preocupe, temos a explicação para isso.
Em 1974 a Síndrome de Bornout, foi descrita pela primeira vez como um distúrbio psíquico, pelo médico Hebert Freudenberger. O transtorno está registrado no grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Tem como principal característica a tensão emocional e estresse crônico provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes.
Para entender a síndrome é necessário começarmos por sua origem e significado. É uma palavra inglesa que tem por significado algo como “combustão completa”, “esgotamento” ou “consumido por fogo” e se classifica como um distúrbio ou síndrome de caráter depressivo ligado ao trabalho, que provoca no indíviduo exaustão física e mental, é como se o corpo e a mente pifassem. A pessoa que antes se caracterizava como um profissional competente, atencioso e produtivo acaba vivendo em piloto automático. A motivação é “substituída” pela irritação, falta de concentração, desânimo e sensação de fracasso. A pessoa sente muita dificuldade de relaxar. Nem férias, nem feriados prolongados, nem finais de semana ou festas são capazes de repor a energia sugada ao longo de tempo.
Pode parecer assustador, como uma síndrome descoberta a tanto tempo seja um mal tão atual e que atinge boa parte da população. Caracterizada pela sensação de cansaço extremo e ineficiência em relação ao trabalho, a Síndrome de Bornout chega a atingir 30% dos brasileiros de acordo com uma pesquisa do Internacional Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), causando prejuízos a profissionais e empresas.
É preciso estar atento e não confundir a Síndrome com o estresse que faz parte do dia a dia. As duas condições apresentam características semelhantes, mas tem como diferencial a sua duração. O estresse costuma revelar-se por períodos de tempo curtos e é ocasionado por situações específicas, você pode ficar estressado durante vários dias por conta de alguma questão como um projeto, mas depois da entrega do mesmo os sintomas aliviam. Já o Bornout ocorre em um período de tempo mais longo e costuma se manifestar em situações abrangentes e você acredita que o seu trabalho de forma geral não faz sentido ou não agrega em nada, nem a você e nem a emprega.
Três características são marcantes de quem possui a Síndrome. A exaustão é citada por 97% dos brasileiros pesquisados pelo ISMA, que vem aliadas a fraqueza, dores musculares e de cabeça, náuseas, alergias, queda de cabelo, distúrbios do sono, diminuição do desejo sexual e imunidade baixa.
Enquanto 91% dos pesquisados relatam desesperança, solidão, raiva, impaciência e depressão, 85% apresentam raciocino lento, memória alterada e baixa autoestima. A segunda característica é marcada por traços emocionais e liga-se ao distanciamento afetivo, o profissional passa a ser frio e irônico com os colegas de trabalho, fornecedores e clientes e acaba tornando-se uma pessoa ranzinza e negativa que sempre reclama de tudo ao seu redor. A terceira característica faz referência a produtividade e grau baixo de satisfação pessoal. A pessoa produz pouco e acha que isso não tem nenhum valor. O Bornout é muito confundido com o estresse, porque ele acontece de forma gradativa e em fases. O sono já não repara o organismo, depois o rendimento cai e o profissional começa a duvidar da própria capacidade. Mais um passo e a agressividade se inicia e com ela a liberação de hormônios que aplicam o risco de diabetes, cardiopatia, doença autoimunes, crises de pânico e depressão e por fim se instaura o esgotamento total.
As principais causas da Síndrome de Bornout são: Estresse ocupacional prolongado, trabalho acumulado, sentimento de desvalorização da função, desequilíbrio profissional e a vida pessoal, pouco tempo de descanso ou férias e necessidades compulsivas de se afirmar como profissional e/ou trabalho.
Qualquer pessoa inserida no mercado de trabalho independente de idade, sexo, profissão ou tipo de atividade que realiza pode desenvolver Bornout, mas em geral a Síndrome é mais comum ou mais presente em pessoas viciadas em trabalhar, os chamados workaholics. Essas pessoas consideram o trabalho sua maior fonte de realização e sucesso.
Por apresentar inúmeros sintomas que se assemelham a depressão a Síndrome é de difícil diagnóstico, porém o fator claro que determina a diferença entre as duas está totalmente ligado ao trabalho. O tratamento inclui uso de antidepressivos e psicoterapia, além de algumas medidas como: Delegar tarefas, trabalhar em equipe; evitar o trabalho após o expediente, garantir um tempo para si mesmo e para o seu lazer diariamente; dedicar mais tempo ao sono; determinar pausas para as refeições, assim como fazer refeições mais balanceadas e saudáveis; planejar férias sempre que possível, fazendo coisas que goste ou viajando; realizar atividade física regularmente; lembrar que não somos multitarefas e não devemos fazer o trabalho por todos; tomar cuidado com perfeccionismo em excesso.
Mesmo que por conta da crise a cobrança por resultados seja excessiva devemos nos afastar dos gatilhos que podem vir a nos levar a Síndrome, por isso é importante estarmos atentos e dispostos a mudanças. Buscar o autoconhecimento e compreender seus propósitos e limites é um passo expressivo para conseguir lidar melhor com a pressão do dia a dia e evitar cansaço excessivo. Usar a falta de tempo como desculpa e acabar não desfrutando de momentos de lazer e pratica de hobbies é prejudicial, afinal tais práticas servem como válvula de escape para que não fiquemos tão ligados ao trabalho.
Não utilize seus momentos de folga e lazer para resolver questões do trabalho. Embora você queira ser solícito e atencioso, isso prejudica sua vida pessoal e sanidade. Deixar de responder no Whatsapp a um cliente a noite, não fará de você um profissional ruim.
Um conselho valioso é para que você exija menos de si mesmo e passe a aceitar as coisas como são, fuja das distrações e dos ladrões de tempo que roubam sua atenção e produtividade.
Claro que tratar o Bornout é importantíssimo, mas prevenir ainda é a melhor solução, por isso é necessário que empregado e empregador tenham conhecimento sobre a Síndrome e atuem em conjunto para preveni-la. O papel do gestor nesse trabalho de prevenção é importantíssimo, porque é válido ressaltar que é preciso respeitar o trabalhador e reconhecer que a empresa se beneficia quando seus trabalhadores estão satisfeitos com o emprego e saudáveis física e mentalmente.
E como se faz isso? Criando uma cultura que associe o alto desempenho no trabalho à qualidade de vida pessoal! Permitindo que o funcionário faça algumas pausas durante o dia, garantindo que ele tenha tempo livre para se dedicar a prática de exercícios, a ter seus hobbies e ficar com as pessoas que ama. Promover treinamentos, atividades de recreação e lazer e valorizar o trabalho do mesmo, elaborando um sistema de recompensa ou elogiando também são fatores importantes. Aprender a dividir tarefas e não apenas ordenar, também tem grande significado, porque ao representar esta unidade, fica claro que o gestor valoriza o trabalho do funcionário e reconhece que ele não pode efetuar todas aquelas tarefas sozinho. É importante manter as pessoas motivadas e prezar por seu crescimento pessoal e profissional, buscando o lado humano da empresa estimulando as pessoas a serem felizes.
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