Salézio Kindermann: uma vida dedicada ao esporte
O futebol é minha cachaça, e nunca dá que chega. Sou completamente viciado.
Salézio Kindermann, empresário, gremista, apaixonado pelo futebol, devoto de São Miguel Arcanjo e Arcanjo Gabriel, casado com Brigida Kindermann, atualmente com 77 anos de idade, muitos deles dedicados a sua equipe: o Kindermann.
Na adolescência, jogava futebol de campo, mas tinha que dar um jeito de fugir dos trabalhos da “roça”, afinal seu pai, não deixava treinar.
Quando o pai descobria que tínhamos ido treinar, era uma surra daquelas, em casa.
Natural de Gravatal, litoral catarinense, chegou em Caçador em 16 de março de 1965, na época com 21 anos, para trabalhar com seu irmão, em uma vidraçaria. Tempos depois criou sua própria vidraçaria, trabalhou também na FRAME Madeiras, até em 1988, fundar o “Hotel Kindermann”. Salézio foi goleiro dos Falcões. Em 1962, foi para o Exército, em Tubarão, uma grande experiência de vida.
Como eu era muito ruim, tinha que ir pro gol (risos).
Em entrevista a Rádio Vitória ao Programa Show do Esporte (18 de janeiro de 2021), uma frase de Salézio, que faz refletir e que de fato, faz todo sentido.
Tudo na vida hoje é: Português, Matemática e Política
O INÍCIO: Futebol masculino
A Associação Esportiva Kindermann foi fundada em 23 de agosto de 1975, portanto completou 45 anos de história, no ano passado. Em 1977, disputou a 1ª Divisão do profissional, ano em que a Chapecoense conquistou o título.
O Kindermann (por alguns anos também chamado de Associação Caçadorense de Desportos) paralisou as atividades em 1981, retornando em 1985, com um time amador. Em 1989, Caçador conquistou o título da 2ª Divisão do Catarinense. Novamente deu-se uma parada, mas em 1996, Salézio reativou a equipe.
23 de agosto é o aniversário de Salézio, mesma data de fundação da AE Kinderamann
Zeca, Galina, Cabinho, Ademir Padilha, Délcio, Elizeu, Pedrinho, João Carlos, foram alguns dos jogadores de qualidade que passaram por Caçador.
Ademir Padilha, na minha opinião o melhor jogador que passou por Caçador. Jogou no Grêmio, no tempo do Renato Gaúcho, como ponta esquerda.
Ademir Padilha, atuou no Grêmio
VITÓRIA DIANTE DO CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL DE 1991
Em 1991, o Criciúma foi campeão da Copa do Brasil, ao vencer o Grêmio. Pra se ter uma ideia, naquele ano, o Kindermann venceu em Caçador, a equipe do Criciúma por 3 a 1.
Ficha Técnica da histórica partida: Kindermann 3 x 1 Criciúma
Nas temporadas 2002 – 2004, o Kindermann firmou parceria com a Chapecoense, para a disputa da 1ª Divisão do Estadual. A equipe caçadorense havia caído para a Segundona e a Chapecoense estava na 1ª, porém com dificuldades financeiras, surgiu aí através do contato com o empresário Teles de Chapecó,a Associação Chapecoense/Kindermann/Mastervet).
Depois desta parceria, o Kindermann fechou as portas para o futebol masculino. Patricio, Ademir Sopa, Marcelo Carioca, Paulinho França, Bibico, Garça, foram alguns dos jogadores que seu Salézio foi empresário, por algum tempo.
Porque parou com o futebol masculino? Aumento do custo. Futebol começou na época a ficar muito caro.
Você empatou, ganhou ou perdeu dinheiro. O que falar economicamente do futebol? Ganhar, nunca ganhei. O que ganhei foi experiência, amizade, contatos. Pra você ter uma ideia, ano passado no futebol feminino, tirei 300 mil reais do meu bolso.
FUTSAL FEMININO (2004-2008)
Jucin, fiscal da Receita Estadual, teve a ideia de trazer um time de futsal feminino para Caçador, e seu Salézio topou o desafio. Nove jogadoras vindos de Vitória do Espírito Santo, formaram a base da equipe. Em 25 de maio de 2004, surgiu a equipe de futsal feminino do Kindermann, que empilhou taças.
Aquelas meninas me encantaram os olhos…
Já no primeiro ano de equipe, a conquista da Taça Brasil Sub 20. No segundo ano, em 2005, veio o título da Taça Brasil na categoria adulto. Em 2008, uma conquista a nível mundial.
Gabi Zanotti (seleção brasileira, EUA, e artilheira Corinthians), Giseli e Ariani, algumas das meninas que brilharam.
Títulos no Futsal: Campeão Brasileiro, Sub 13, Sub 15, Sub 17, Dois títulos no Sub -20, Campeão Brasileiro (duas vezes). Disputou sete Ligas Nacional, chegando na final, em seis oportunidades, conquistando um título.
Fomos campeões da Taça Brasil de Futsal Sub 20 no primeiro ano. Em 2005, ganhamos no adulto pela primeira vez. Tínhamos um super-time, com sete jogadoras da seleção brasileira. Depois, o futsal decaiu um pouco, as competições não estavam mais acontecendo. Fomos para o futebol de campo [feminino] em 2008. No ano seguinte, disputamos a primeira Copa do Brasil e já ficamos em terceiro. Para um time que veio do futsal, fomos muito bem. Só que chegou uma hora que não dava para fazer as duas coisas. Paramos com o futsal e ficamos só no campo, onde estamos até hoje”, relatou Salézio a Lincoln Chaves, repórter da TV Brasil e Rádio Nacional (São Paulo).
FUTEBOL FEMININO (2008)
Em 2008, deu se início a trajetória no futebol feminino. Em doze anos, são onze títulos invictos do Campeonato Catarinense. Em 2009, já no segundo ano, a conquista do 3º lugar da Copa do Brasil.
Em 2014, o vice campeonato do Brasileirão (fato, que se repetiu em 2020). Em 2015, a grande conquista, o título da Copa do Brasil.
O projeto do Kindermann teve uma pausa forçada durante 2016, devido a uma tragédia. Em dezembro de 2015, Josué Henrique Kaercher, então técnico da equipe, foi assassinado. Estarrecidos, os responsáveis pela agremiação anunciaram o encerramento das atividades “por tempo indeterminado”, dias após o crime.
Em 2017, o retorno. Em 2021, o Kindermann tem duas Copa Copa Libertadores da América para disputar (vaga herdada de 2019 e 2020). Em Março na Argentina, final de setembro no Chile.
PARCERIA COM O AVAÍ
A parceria com o Avaí, firmada em 2019, pela obrigatoriedade de os times envolvidos em competições da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) terem representantes no feminino. Por isso, a equipe atua como Avaí/Kindermann. Segundo Salézio, a agremiação de Florianópolis fornece uniforme e apoio financeiro.
Avaí/Kindermann – Vice Brasileiro de Futebol Feminino, em 2020. Título ficou com o Corinthians
CAÇADOR: DOIS TIMES NA ELITE DO FUTEBOL FEMININO
Com muito orgulho, Salézio comenta que é motivo de satisfação ter duas equipes de futebol feminino na elite do nacional: Napoli (finalista da A2, com o Botafogo) e Kindermann (vice campeão da A1), sem sombra de dúvidas um grande feito, para uma cidade de aproximadamente 78 mil habitantes.
O futebol é minha cachaça, e nunca dá que chega. Sou completamente viciado. Enquanto estiver vivo, estarei envolvido com o futebol.
O grande segredo? A motivação
Gillian Olivo
La Pelota
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