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Anos de chumbo (A Linguagem da Fresta, 2)


“Treze anos eu te aturo, eu não agüento mais/ Não há “Cristo” que suporte, eu não suporto mais/ Treze anos me seguro e agora não dá mais/ Se treze é minha sorte, vai, me deixa em paz. Você vem me infernizando como satanás, você vem me enclausurando como Alcatraz/ Você vem me sufocando como o próprio gás, ainda vive me gozando, assim já é demais. Você vem me tapeando como um pente-fino e vem me conversando como a um bom menino/ E vem subjugando o meu destino e vem me instigando a um desatino. Um dia eu perco a timidez e falo sério e faço as minhas leis com meu critério/ Eu vou para o xadrez ou cemitério, mas findo de uma vez com seu império” (Treze Anos ou O Divórcio, Luiz Ayrão, 1977)

Luiz Ayrão é bacharel em direito. Compositor de sucesso, teve músicas gravadas por Roberto Carlos e outros. Como era de praxe em 1977, mandou para a censura a letra de uma música chamada "Treze Anos". Era uma manifestação clara e inequívoca contra os 13 anos do regime militar, que acontecia naquele ano. Não foi liberada, mas ele deixou passar uns três meses e quando passou no Congresso Nacional a emenda do senador Nelson Carneiro, autorizando o divórcio, ele a reenviou à Censura com novo nome: "O Divórcio". Foi liberada, sem ser modificada uma vírgula sequer da letra original.

O compositor popular procura retratar seu tempo, seja no âmbito amoroso, social ou político. E algo novo acontecia no Brasil dos anos 60, tempo da bossa nova, da jovem guarda e o rock, da tropicália e outros. Tempo em que jovens universitários de classe média buscavam uma consciência nacional moderna, ou mais atual, usando como recurso a metáfora, conhecida também como “linguagem da fresta”.

Nara Leão gravou Opinião, de Zé Kety, em 1964: “Podem me prender, podem me bater/ Podem até deixar-me sem comer que eu não mudo de opinião/ Daqui do morro eu não saio não. Se não tem água, eu furo um poço/ Se não tem carne, eu compro um osso e ponho na sopa e deixa andar...” 

Em 1969 os baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso foram “convidados” a ir para Londres. De lá, Caetano escrevia para o jornal O Pasquim, e foi saudado por Paulo Diniz: “I don’t want to stay here, I want to go back to Bahia/ Eu tenho andado tão só, quem me olha nem me vê/ Silêncio em meu violão nem eu mesmo sei porque/ De repente ficou frio eu não vim aqui para ser feliz/ Cadê o meu sol dourado, cadê as coisas do meu país/ via Intelsat eu mando notícias minhas para o Pasquim/ Beijos pra minha amada que tem saudades e pensa em mim” (Quero voltar pra Bahia, 1970). 

Baiano, filho de um pastor batista, Guttemberg Guarabyra forjou com o carioca Luis Carlos Sá o chamado rock rural, adequando guitarras ao sotaque interiorano. Em 1978  a dupla Sá & Guarabyra expressou o sentimento geral, em O silêncio é de ouro: “Falam nas minhas costas coisas que eu não vou saber/ Escondem dos meus olhos livros que eu não posso ler. Quanto segredo ao pé do ouvido o vento leva pelo ar ... hoje em dia o silêncio é de ouro / Em cada boca fechada uma caverna silenciosa/ Onde não vive nada além do segredo... não cresce nada além do medo”

No ano de 1979 Elis Regina gravou a composição de João Bosco e Aldir Blanc que ficaria conhecida como hino da anistia: O Bêbado e a Equilibrista “...Meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil/ Com tanta gente que partiu num rabo de foguete/ Chora a nossa Pátria mãe gentil, choram Marias e Clarisses no solo do Brasil”

Raul Seixas, Rita Lee, Casa das Máquinas, Mutantes, Novos Baianos, Secos & Molhados e muitos outros artistas sofreram a interferência da censura. 

Confira clipes musicais em... http://osdiscosdobolinha.blogspot.com/

Pelo visto, durante esse período da história nacional os presídios funcionaram como “recuperadores”, pois neles entraram terroristas, assassinos, assaltantes, guerrilheiros, sequestradores, e dali saíram deputados, ministros, governadores e até dois presidentes. Isso é que é recuperação ! . . .

 


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