SCAJHO: uma vida pelas artes
Um verdadeiro movimento artístico que comemora sete décadas. São 70 anos que separam o nascimento da SCAJHO de seu momento atual. Sete dezenas de anos investindo e projetando talentos da região. E na esteira dessa soma outros 19 anos de atuação do Teatro Alfredo Sigwalt em Joaçaba. Para conhecer mais sobre a história da Sociedade de Cultura Artística de Joaçaba e Herval d'Oeste, com_versamos com dois dos seus mais antigos integrantes: a professora Leda Silva Kerber e nosso colunista Antonio Carlos Pereira.
Tudo começou, se formos ver bem, nos anos 1940. Foi no início da década que um pequeno grupo de instrumentistas se uniu para fundar uma sociedade cultural musical em Cruzeiro e Herval. Na época, que não permitia gastos considerados supérfluos, a banda entrou em atividade depois de meses de preparo e logo passou a ser convidada para animar festas populares, cívicas e religiosas. Mas com a violenta queda da música erudita no país e o fechamento da maioria das orquestras sinfônicas e grupos teatrais do país, a sociedade ficou inativa em poucos anos.
Foi a partir dos anos 1950, quando Joaçaba já experimentava maior crescimento econômico decorrente de atividades agrícolas, como o cultivo e processamento de trigo, e madeireiras, que o sonho musical seria retomado na figura do Maestro Alfredo Sigwalt. Nascido em Castro (PR), em 1915, o Maestro tinha vasta formação na área da música e ciências sociais, mas trabalhava como divulgador de medicamentos da Bayer do Brasil. Se esta informação parece estranha para você, saiba que o caminhão de medicamentos não o impediu de espalhar a arte pelo sertão. Ao viajar pelo Sul, Sigwalt carregava um sistema de som e um projetor consigo, os quais utilizava para transmitir filmes e propagandas em uma tela estendida sobre alguma edificação central da cidade onde estava. Ao final da programação, distribuía amostras grátis de aspirina e outros produtos. Em Joaçaba,chamou a atenção de Aloisio Nehring que, ao dirigir o Clube Cruzeiro, o convidou para morar em Joaçaba para exercer sua atividade artística. Ainda no final de 1952, a orquestra formada por músicos de toda região já era um sucesso.
"Foi o grande mestre Alfredo Sigwalt quem me ensinou o caminho da música e do canto, tornando-me solista lírica da Orquestra Sinfônica da SCAJHO, a qual atingiu sucesso durante décadas, sempre regida por ele. Fui maestrina em vários corais. Sou feliz e grata a esta admirável e competente família. Sou a mais antiga participante ativa, seguida pelo nosso querido Antonio Carlos Pereira", explica a professora Leda Silva Kerber. Para Bolinha, a SCAJHO o atingiu em 1970, quando assistiu a uma apresentação completa regida pelo Maestro Sigwalt, com orquestra, corpo de bailado, coro misto de cantores e solistas vocais. "Participei mais ativamente a partir de 1978, quando minha esposa Marina foi convidada a integrar o coral. Tive a honra de ser eleito presidente da SCAJHO por duas vezes e continuo colaborando", aponta o colunista.
Mas falar sobre o Maestro não é uma tarefa fácil. Leda conta que foi lapidada por ele e deve a ele o que é atualmente em matéria de conhecimento musical, forma de apresentação e postura no palco. "Ele escrevia as partituras para cada um dos participantes. Nas apresentações, seu modo elegante de conduzir a orquestra e o coral fascinava a todos. Homem dotado de extrema sensibilidade, foi um excelente violinista, compositor, arranjador e regente. Ele deu vida ao sonho de incluir solistas, coral misto, ballet e bailado, com apresentação de operetas, solos e duetos de sucessos internacionais, verdadeiras joias musicais", conta.
E se hoje Joaçaba tem um teatro tal como o Maestro sonhava, capaz de iniciar crianças, jovens e adultos nas artes, com atendimento gratuito a centenas de alunos, a cada ano com a oferta de múltiplas oficinas culturais, sendo patrocinador de espetáculos de qualidade e contribuindo para a transformação da sociedade, isso não significa que não houve desafios. Leda e Bolinha apontam que foram mais de 25 anos de dificuldades até que o Teatro fosse finalmente inaugurado em 30 de agosto de 2003. "É isso que estou registrando em um livro. Há anos organizo fotos, depoimentos e um grande acervo musical com centenas de partituras e composições do Maestro Alfredo Sigwalt que em breve se transformarão em um precioso legado em forma de livro", aponta a professora.
Ao olhar para o futuro, a SCAJHO, deseja continuar oferecendo oportunidades para que crianças, jovens e adultos façam do Teatro uma casa viva de cultura. "É como diz a presidente emérita, Anna Lindner von Pichler: a cultura que vivenciei em meus sonhos de criança resplandece nos sorrisos de centenas de alunos que aprendem no Teatro que o sonho continua, embalado por mãos e mentes de bem, qe nos permitem continuar sonhando. Por isso, a SCAJHO deseja que as futuras gerações continuem repetindo com orgulho as maravilhosas palavras da composição escrita pelo Maestro Sigwalt: Eu vou pela vida cantando, cantando de fronte erguida, cantando a gente esquece os males desta vida...", conclui Bolinha.
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