Relação cibernética
Nós ficamos dependentes das redes sociais. É por elas que ficamos sabendo de notícias importantes, é com elas que mantemos contato com nossos amigos, familiares, clientes e conhecidos, é através delas que conhecemos pessoas novas, expomos nossas opiniões e temos acesso a todo tipo de conteúdo. Mas, até que ponto elas são realmente um benefício? Elas nos tornaram pessoas mais vazias, fúteis e que acreditam em tudo o que lêem, mesmo sem saber da procedência de tal informação? O debate é longo e relativo, mas vale a pena.
Eu sou descendente de uma família italiana. Sim, dessas em que todo mundo fala junto, ri bastante, faz piada de tudo e só tem dois volumes, o alto e o muuuito alto! Um dos nossos hábitos mais antigos é de nos reunirmos sempre em datas comemorativas. Todo mundo é extremamente animado e adora uma bagunça e uma nova aventura. Uma tradição dos seis netos da Dona Rosa e do Seu Olices é estarem reunidos e de repente sumirem para uma voltinha de trolete (ou jerico, se você preferir) no interior. Adoramos um “turismo” rural e basicamente toda a família teve aulas de direção no bom e paciente trolete. Numa dessas andanças meu tio e um dos meus primos mais novos resolveram que seria divertido dar um volta de empilhadeira para organizar alguns paus que estavam soltos ao redor da fábrica. Lógico que quando vimos a cena, tinham pelo menos quatro celulares apontados para eles, levando em conta que a cena estava divertida porque o meu primo de 10 anos, ria de se acabar. Eu acabei postando no stories do instagram e ambos me fizeram marcar seus users. Como meu primo tem só 10 anos ele criou uma conta no instagram a pouco tempo e é bem monitorado pelos meus tios, que estão sempre atentos ao que ele acessa. Ele chegou ao meu lado e me disse que já “acumulava” uma quantia de 50 seguidores, o que para ele já era muita gente. Como ele é uma criança curiosa e interessada ele me pediu quantos seguidores eu tinha. Eu confesso que não sou muito de reparar no meu número de seguidores, é algo que para mim não faz tanta diferença. Tive que abrir o instagram e conferir. Quando eu lhe disse que tinha quase 2 mil seguidores ele “surtou”, ficou apavorado com a “grande” quantia de seguidores que eu possuía. Eu achei graça de tamanho espanto e quis mostrar a ele quantos milhões de seguidores alguns famosos acumulam. Acabei abrindo o instagram da blogueira e maquiadora Camila Coelho e ele não conseguia se conformar com os mais de 7 milhões de seguidores dela. Ele não entendia como tal fenômeno acontecia e ficou sem palavras por longos minutos. Até que disse: “É muita gente, né Lari?”. E parando pra pensar sobre, eu suspirei e concordei: “É gente pra caramba!”.
E o que esse meu diálogo com o Lucas e a minha família tem a ver com as redes sociais? Tudo! Somos consumidores dessa onda de informação que acontece na web. Você deve lembrar-se que na edição anterior (Edição 91 - página 22), falamos sobre os influenciadores digitais e sobre o poder que exercem em nossas decisões de compra, assim como podem ser grandes aliados para alavancar marcas e aumentar seu fluxo de venda.
Porém, meu assunto com vocês nessa matéria, é outro. Você se tornou uma pessoa obcecada pelas redes sociais? Como você lida com elas? Elas são um passatempo ou uma prioridade na sua vida? Como você se sente com relação a elas? Se eu te fiz pensar, objetivo atingido com sucesso.
Porque eu te faço essas perguntas? Simples. Nos tornamos dependentes das redes sociais e viciados cibernéticos e tecnológicos. Não sabemos mais viver sem ter o smartphone ao alcance dos nossos olhos e mãos. Antigamente nosso medo era ouvir um: “em casa a gente conversa”, dito pela nossa mãe em um momento de arte ou hiperatividade dos nossos eus crianças. Hoje nosso medo é colocar a mão no bolso e não encontrar nosso celular. Nossa vida está neles. Fotos de momentos importantes, documentos, acesso a todas as nossas redes sociais e conversas, o número do telefone das nossas pessoas importantes e contatos de trabalho e até coisas muito íntimas que se vazarem causam um grande estrago.
Eu sei que é difícil a gente assumir para nós mesmos que nos tornamos dependentes dessa tecnologia. Vamos, pode ficar mais fácil. Eu começo. A sete anos eu fiquei solteira, isso nos primórdios de facebook e instagram. Como todo término é difícil, a gente fica um tempo recolhido até decidir que precisa seguir em frente. Quando eu consegui seguir em frente acabei começando a postar mais assiduamente nas redes sociais, no início de forma despretensiosa. Quando eu percebi que fotos que nunca tinham passado de 20 curtidas, passaram a acumular de 100 a 200 curtidas eu fiquei apavorada. Como isso estava acontecendo? Dessa forma eu passei a criar uma necessidade absurda por ser vista e comecei a postar coisas de forma mais constante e aquele “boom” de curtidas amaciava meu ego e me fazia sentir bem com o fato de ser não só vista como desejada. Porém, para mim o meu nível de sucesso e minha popularidade começaram a ficar completamente ligados ao número de curtidas que eu tinha em minhas postagens e isso mexeu com a minha cabeça, fazendo com que eu ficasse completamente alienada a isso. É difícil se desprender. Eu trabalho com comunicação e eu gosto muito de postar fotos minhas e de coisas que estou fazendo, o problema é isso estar completamente ligado a minha necessidade de aprovação alheia e isso não faz bem para o nosso psicológico.
Eu não vou colocar as redes sociais como vilãs dessa história toda. Elas são extremamente positivas e promovem ações maravilhosas. A gente pode ver isso claramente quando alguma história viraliza e as pessoas unem-se para um bem comum: seja auxiliar uma família que perdeu tudo em uma enchente, adotar um animalzinho, doar sangue e muitos outros feitos. Sem contar nos inúmeros benefícios para as marcas e empresas, que alavancam seu número de vendas, assim como contribuir para a popularização do nome de marcas e empresas.
O que acontece é que nós somos irresponsáveis e dependentes. Na web você encontra todo o tipo de informação e na maioria das vezes não analisa alguma notícia ou história sem antes sair compartilhando e julgando as pessoas envolvidas, o que não é uma atitude nem sensata e nem madura. A internet que é considerada terra de ninguém, tornou-se tribunal de muitos juízes virtuais. Onde todo mundo julga tudo o que está acontecendo a sua volta, tentando a todo custo achar “culpados” e esquece de olhar para dentro de si mesmo. Nós esquecemos de praticar a boa e velha empatia e não paramos para pensar o quanto uma fala nossa pode ser prejudicial na vida e na saúde psicológica dos outros. Além do que, só podemos falar por nós mesmos, mas sempre tem alguém que enfia Deus ou grandes pensadores, políticos e famosos na jogada. Você por acaso não tem culhão para sustentar o que diz e o que faz? Precisa mesmo esconder-se atrás de opiniões alheias? Então aqui ficam dois alertas importantes. O primeiro é que é preciso tomar cuidado com o que você fala nas redes sociais, não só pela preocupação com as pessoas para quem você fala, também porque o que está fazendo pode ser crime (como compartilhar informações pessoais, sem consentimento). E segundo, quem você é não pode ser medido por curtidas e por popularidade. Você é mais do que isso. Desprenda-se das amarras da aceitação alheia e viva de acordo com seus princípios. Banque suas escolhas. Confie em você. E seja paciente com você mesmo e sua evolução. Lembre-se: A vida real está acontecendo lá fora e você aí preso pela tela de um celular. Tem certeza de que essa é a melhor escolha para a sua vida? O sol brilha lá fora e espera por você.
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