Notas de uma vida
A música é uma das formas de arte e expressão mais antigas do mundo. Foi criada não apenas para ser ouvida, mas para ser sentida e apreciada. A música foi feita para ser “ouvida” com o coração. Com um sorriso tímido no rosto e um brilho sem igual nos olhos, João Batista Fernandes da Rocha, conhecido como Batista pela população videirense fala sobre sua relação com a música. Trabalhando a mais de 30 anos com essa arte, acumula boas histórias e uma grande experiência, com simplicidade nos contou sobre tudo o que leva na sua bagagem.
Enquanto era menino e corria pelos campos a brincar sonhava alto. Sonhava em pilotar um avião com muitos passageiros a bordo ou entrevistar grandes celebridades e ser feliz no mundo jornalístico. Ele mal poderia imaginar que seria escolhido nessa vida para algo tão importante e fantástico. Algo que exige muito dom e talento, mas que não funciona sem muito esforço e dedicação, a música. Ela que começou como um presente, virou uma linda profissão e formou a história de uma vida inteira.
Sempre teve uma relação muito forte com a religião. De família evangélica, Batista cresceu ouvindo o pai tocar saxofone, pela casa e na Igreja. Com a musicalidade correndo forte nas veias, decidiu que queria aprender a tocar instrumentos musicais. Tendo todo o apoio da família, encontrou na Igreja Assembléia de Deus, grandes professores e amigos. Começou a aprender essa arte tocando clarinete, passou ao trompete, mas se destacou no mesmo instrumento do pai, o saxofone. Depois de alguns anos pegou tanto gosto pela música que dedicou-se a mais dois instrumentos, o violão e o teclado.
Se você acha que toda essa musicalidade, termina aqui, engano seu! Não satisfeito apenas em tocar instrumentos musicais, aprendeu a reger corais e bandas. Para que uma sinfonia seja harmônica, todos os instrumentos precisam estar afinados e muito bem alinhados no mesmo tom e os músicos devem permanecer felizes e incentivados e ele conhecia isso muito bem. Isso também acontece na vida, nada flui se não estiver em perfeita harmonia e sincronia. Em 1985 a música deixou de ser apenas uma paixão para tornar-se profissão. O Prefeito Gabriel Bogoni, viu uma apresentação sua e encantou-se, dando a ele a oportunidade de trabalhar a música na cultura de Videira, na época como professor e maestro auxiliar. Realizado e muito agradecido, começou a trilhar sua trajetória dentro da música na cultura videirense.
Hoje aos 49 anos de idade, fala com humildade sobre sua percepção referente a música. Busca estar sempre atualizado e aperfeiçoando-se. Comenta sobre a base de teoria musical que aprendeu ainda quando era menino na Igreja e como foi aprendendo na prática. Aprendeu muito nas Oficinas de Verão de Curitiba onde teve contato com professores do Brasil e do exterior, sobre diversos instrumentos. Em 1999 teve a oportunidade de receber professores e maestros da Suíça, que vieram a Videira ensinar técnicas importantes aos participantes da Banda Sinfônica Municipal. Na época todas as faculdades de música eram distantes de Videira e não tinha como dedicar-se totalmente a elas, mas enxerga ao longe, a Licenciatura em Música, é um sonho que ficou adormecido por alguns anos, mas tão logo pode tornar-se uma realidade.
Sua música não ficou apenas em Videira. Lecionou também para outras cidades da região. Trabalhou em Água Doce, Arroio Trinta, Frei Rogério, Iomerê, Salto Veloso e algumas outras cidades. Seu currículo é vasto e a alegria por poder ensinar uma arte tão importante é evidente no sorriso.
Para ele, poder ensinar música é um privilégio. Afinal a música é uma das artes mais antigas do mundo. Em todos esses anos trabalhando nessa área, acompanhou o desenvolvimento de muitas pessoas. As suas aulas são para pessoas de diferentes idades, das crianças aos idosos. Compartilhou que as crianças realmente tem uma facilidade maior para aprender a tocar os instrumentos musicais, por conta do frescor da mente e jovialidades, porém já viu muitos adultos tirarem de letra a aprendizagem, por conta de todo esforço e dedicação que tiveram, afinal esse era um sonho de muito tempo.
A música tem o poder de recuperar muitas pessoas e vidas. Contou-nos que foi muito agradecido pela mãe de um antigo aluno seu, que disse a ele que antes de começar a frequentar as aulas de música o filho era desorganizado e não tinha um bom desenvolvimento escolar, tendo dificuldade em tirar boas notas. Quando esse aluno começou a fazer as aulas de música, desenvolveu senso de responsabilidade e sua concentração, o que garantiu boas notas e um desempenho excelente. A recuperação dos jovens na organização pessoal foi o primeiro ponto citado por ele, que destacou também a importância dessa arte na recuperação de outros jovens que estavam entrando em um caminho perigoso e errado da vida.
Com um grande sorriso no rosto, falou com muito orgulho sobre a família que construiu com sua esposa Joanita. Os filhos Vinícius e Alexandre resolveram seguir seus passos e também aprenderam a arte da música, “mas foi por vontade deles, não forçamos nada” conta aos risos.
Para Batista a música é como se alimentar, pensar ou respirar, é uma necessidade básica humana que traz inúmeros benefícios para quem convive com ela. Ela fala muito de sentimentos e de expressão, é para ser feita e sentida dentro do coração. Ela transcende e tem um leque muito grande opções. Ela é infinita, profunda e conversa muito bem com a paz de espírito e a tranquilidade. Ela engloba um pouco de linguística, matemática, história entre outras ciências. Ela ajuda a desenvolver habilidades, mantém o cérebro ativo e desenvolve a inteligência emocional das pessoas. A vida sem música, não teria a menor graça. Com uma trajetória ainda muito grande e bonita pela frente, Batista segue de mãos dadas com a música, sua mais antiga e fiel escudeira.
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