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A pátria de chuteiras... - Bolinha Antonio Carlos Pereira


Nasci em outubro de 1950, poucos dias depois do fiasco na Copa do Mundo sediada pelo Brasil. Meu mano Carlos tinha cinco anos de idade, e relembra que estava jogando bola sozinho no quintal e corredor que adentrava o setor gráfico da “Livraria, Tipografia e Papelaria Santa Teresinha”, pertencente ao nosso saudoso Papai, Sr. Raul Anastácio Pereira, que na época tinha 34 anos de idade. Papai o chamou para escutar o jogo pelo rádio, um belíssimo rádio de mesa, portentoso, que ficava no canto da sala de refeições da casa onde “Seo” Raul morou até falecer, em setembro do ano passado. Carlos entremeava a escuta do jogo com seu futebol solitário, feliz e comemorando, falando e cantando muito a vitória, quero dizer, o título de Campeão do Mundo, quando tia Quiquita apareceu na soleira da casa dela (frontal ao prédio da Gráfica, e que era também a residência do casal Raul, Aniela e os filhos). A tia apareceu, recorda meu irmão: “para dizer-me que o Uruguai havia feito 2x1. Eu emudeci totalmente. O jogo terminou, perdemos a Copa. Ela voltou a soleira e perguntou... – não vais cantar mais?”

A Copa do Mundo foi criada por Jules Rimet, então presidente da FIFA e acontece a cada quatro anos, reunindo os melhores atletas dos países classificados. A primeira condição aconteceu em 1930 no Uruguai, e a anfitriã foi a vencedora sobre os outros doze participantes, 8 do continente americano e 4 europeus. No formato atual, o Mundo Fifa conta com 32 participantes, e o Brasil, que venceu cinco vezes, é o único país a ter participado de todas as condições.

Em 1970, com a conquista do tricampeonato (nas Copas da Suécia, Chile e México), a Taça Jules Rimet, um belo troféu de 3,5kg e 35cm, foi entregue em definitivo ao Brasil. O campeonato mundial movimenta fortunas, e o seu impacto cultural é inegável: colecionadores de moedas, selos, livros, álbuns de figurinha, além de músicas especiais compostas e cantadas por torcedores do mundo inteiro, além do hino nacional de cada país.

O dramaturgo Nelson Rodrigues cunhou a expressão “a Seleção é a Pátria de chuteiras”, num tempo em que os brasileiros atuavam em clubes brasileiros. Havia grande empatia com o torcedor, e agora a muitos dos jogadores convocados são desconhecidos – apenas três por aqui. Enquanto do Tite tem um valor de mercado de quase R$ 4 bilhões de, hoje temos um país 24 mil jogadores profissionais, 96% dos quais ganham no máximo R$ 5 mil mensais. Pior: os casos de corrupção no CBF e o suposto “legado da Copa” (com obras inacabadas em onze cidades), aliados a vergonhosa situação em 2014, quando levamos sete gols da Alemanha, tiraram a força do futebol como símbolo da redenção nacional.

Em 1950 o Escrete Canarinho fez 22 gols e levou apenas 6. O último deles, do uruguaio Alcides Ghiggia, calou o Maracanã lotado por 200 mil torcedores, decretando a derrota, carregada como um estigma por quem viveu aquela época. Humilhação! Vergonha! Vexame! Falando em vexame, em 1983 o “Troféu do Tri”, feito em ouro com pedras semipreciosas na base, foi roubado de uma exposição na sede da CBF, no Rio do Janeiro, enquanto a réplica estava guardada num cofre...


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