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Estratégia para guiar uma vida - Juliano Zonta


 Uma jogada. Lógica. Estratégia. Este é o xadrez. Um movimento que orienta todo curso de uma vida. Este é o xadrez da vida real. Não se trata apenas de um tabuleiro e de peças que possuem formas determinadas de agir. Se trata da forma de ver e viver. São as escolhas que determinam para onde vamos, quando agimos e quando olhamos no fundo dos olhos da vitória ou da derrota. Foi o xadrez que mudou a vida de Juliano Zonta. É o xadrez que orienta as ações do Professor Pena.

O ano era 2000. O ano do bug do milênio. O ano em que abandonaríamos o século XX para dar início a uma vida mais evoluída. O ano em que a maioria de nós percebeu que muita coisa não tinha mudado de fato. Mas que mudanças esperávamos? Carros voadores? E o que são carros voadores diante da grandiosidade das possibilidades de mudança que ocorrem em nosso cotidiano e nem nos damos conta? Algo realmente estava diferente em Fraiburgo, especialmente na Escola Estadual Bela Vista. Houve uma febre entre a molecada e todo mundo aprendeu a jogar xadrez.

“Eu tinha 10 anos e naquele Natal ganhei um pequeno xadrez de presente. Dividi o meu tempo de férias entre o futebol na quadra do bairro e o xadrez com o saudoso professor Alvino Junior. Ele tinha me ensinado a jogar nas aulas de Educação Física e todos os dias jogávamos aproximadamente umas 10 partidas. É claro que eu perdia todas no início, mas no final das férias jogávamos de igual para igual. No ano seguinte, fui o melhor da turma e comecei a participar de torneios. Sempre me considerei uma pessoa muito persistente e por isso consegui, aos 12 anos, minha primeira grande conquista através do esporte: “uma bolsa de estudos no colégio Cefrai”, conta Professor Pena. Em 2002, o jovem atleta e sua equipe conseguiram sua primeira participação em um torneio a nível estadual e também nacional na modalidade que tinha atingido uma proporção enorme na cidade.

Segundo Professor Pena, no mesmo ano a sua vida exigiu uma nova jogada estratégica. “Meus pais se mudaram para Bom Retiro para trabalho, mas eu decidi ficar em Fraiburgo morando com meu irmão mais velho. Vendi picolé por um tempo e aos 14 anos comecei a trabalhar na cantina da escola, pois precisava de dinheiro para disputar mais competições. O esporte tinha me apresentado um novo mundo, com viagens, competições e amizades que eu não queria abrir mão, além da paixão pelo xadrez, que me forçava a me dedicar cada vez mais”, relata.

Aos 15 anos, com a volta dos pais para Fraiburgo, Professor Pena deu início a uma nova etapa da vida. Como estagiário na Fundação Municipal de Esportes e certa estabilidade para custear as despesas com os torneios, Pena passou a ensinar xadrez nos vários núcleos de esportes ao longo da semana. “Por recomendação do Professor Alvino, quando chegou a hora de prestar vestibular, decidi cursar Educação Física em Videira. Entrei na faculdade ainda como estagiário da FME Fraiburgo. Entretanto, logo viria uma notícia que me pegaria de surpresa: o Professor Alvino estava com câncer. A sua ausência nos torneios foi inevitável e muito dolorosa. Foi nesse momento que comecei a acompanhar os alunos nas viagens, dividindo a responsabilidade com Thaís Moraes, que também era estagiária e atualmente é minha esposa. Eu tinha 19 anos quando Professor Alvino faleceu, que foi um choque enorme, pois além de um grande professor eu o via como um segundo pai”, lembra.

Com a morte do antigo professor, Pena e Thaís assumiram a missão de dar continuidade ao seu trabalho com o xadrez. “Não era fácil, porque ele tinha muita força, era respeitado e tudo o que pedia era atendido em termos de competições e viagens. Uma coisa era trabalhar nas escolinhas de iniciação e outra totalmente diferente era trabalhar com alunos de rendimento para disputar torneios”, diz. Depois de um vácuo de quatro anos sem vitórias e em que a equipe se adaptou à nova realidade, o xadrez fraiburguense fez seu primeiro campeão catarinense.

Pena e Thaís são formados em Educação Física e destacam que para estar apto para lecionar em escolas ou clubes de modo regular deve-se estar cadastrado no órgão responsável pela Educação Física em SC (CREF). Apesar disso, Santa Catarina possui diversos casos de excelentes técnicos formados em outras áreas, normalmente ex-jogadores com boa experiência.

Trabalhar com um esporte não tradicional como o xadrez tem seus desafios. De acordo com Pena, o xadrez é considerado um jogo difícil de aprender por ter muitas regras, mas “quando essa barreira é quebrada e os alunos passam a conhecer as regras percebem que não é nenhum ‘bicho de sete cabeças’ e gostam do jogo. De modo geral, a aceitação é muito boa e a cada dia que passa o número de adeptos aumenta. Temos conseguido envolver os alunos e motivá-los de maneira que fiquem praticando a modalidade por anos, o que é um motivo de orgulho já que fazemos parte da vida deles por tantos anos e sabemos dos vários benefícios que o jogo proporciona”.

Atualmente, o município possui vários alunos campeões catarinenses, dois campeões brasileiros, um campeão sul-americano, dois Mestres Nacionais de Xadrez e conseguiu, em 2018, o maior título em equipe com a medalha de campeões da 18ª OLESC, desbancando uma hegemonia de cinco anos da equipe blumenauense. Entre os vencedores estão os campeões catarinenses: Ruan Gonçalvez, João Vitor Dalanhol, Gustavo Santos Rohling, Sofia Pinz Gomes, Bruna FrancescatoFavero, Maria Eduarda Ribeiro, Eduardo Antunes Peroza; os campeões catarinense por equipe: Ruan Gonçalves, Lucas Ceron Machado e HerickPitton, Valesca Bernardi Hoecler, Bruna FrancescatoFavero e Sofia Pinz Gomes, João Eduardo Orlandi Felix, KaioSpedito Conte, Luis Fernando Machado, Pedro Henrique Constantino, Leonardo Borges Lopes e Otávio Alves Ribeiro; os campeões brasileiros: João Vitor Dalanhol e Eduardo Antunes Peroza; o campeão sul-americano: Eduardo Antunes Peroza; e os mestres nacionais: Ruan Gonçalves e João Eduardo Orlandi Felix. “Nosso trabalho é reconhecido a nível regional, estadual e até nacional. Isso me dá tranquilidade para alçar novos voos e perseguir novos objetivos”, finaliza.


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