Permitir Cookies

Este site utiliza cookies para melhorar a experiência do usuário. Veja nossa Política de Privacidade


Diga sim às vulnerabilidades


Todos temos limitações e conhecemos muito bem nossas vulnerabilidades e defeitos. Dentro das organizações onde trabalhamos, tentamos neutralizar essas questões ao máximo, na maioria das vezes por medo de retaliações. Porém alguns estudos tem mostrado que reconhecer suas limitações e trabalhar em uma empresa que lhe passe segurança psicológica para falar abertamente sobre essas questões que te deixam inseguro, buscando te deixar confortável tem sido a chave para equipes de alta performance.

A forma de fazer negócios e de gerir uma empresa mudou muito ao longo dos anos. Como as empresas mudaram e os tempos são outros, os profissionais e as equipes também mudaram sua forma de trabalhar e se relacionar. A cobrança por equipes de alta performance ainda existe, mas o caminho para que elas sejam produtivas é outro. Foi-se o tempo em que se colocava pressão máxima sobre o colaborador para que ele apresentasse resultados grandiosos e imediatos, o ameaçando com punições e o fazendo ter medo dos seus líderes. Isso gerava um ambiente regado a tensões e medos, tornando-o pesado e de convivência difícil.

Agora pense na seguinte situação: estar dentro de uma equipe onde todos sentem-se psicologicamente seguros para dar suas opiniões, dar sugestões de mudanças e melhorias, falar sobre suas preocupações e medos, sanar suas dúvidas e aprender sobre assuntos/temas que não domina, além de conversar sobre erros cometidos e quais as alternativas para solucioná-los com eficácia e rapidez, sem medo de ser repreendido ou humilhado. Parece utópico, não é? E para muitos é sinônimo até de falta de produtividade, porém pesquisas apontam que esse espírito de solidariedade e compreensão são a solução para obter resultados de alta performance no atual ambiente de negócios, essa tem sido a chave para a transformação das empresas e equipes de trabalho.

É difícil as empresas contarem com um cenário onde cada colaborador faz seu trabalho de forma individual e independente, sem a necessidade de interação e diálogo com os colegas. Afinal na maioria das empresas todos os trabalhos e funções estão interligados, ou seja, cada um depende do trabalho e auxílio de pelo menos um dos colegas para executar seu trabalho de maneira eficiente.

Os tempos são outros e as equipes de trabalho já não são como antes, não são mais grupos estáveis de indivíduos, em relações de interdependência que estão em busca de alcançar um mesmo objetivo. Nesses tempos passamos a nos reconhecer como indivíduos e perceber nossas diferenças (culturais, religiosas, geracionais, educacionais, profissionais, geográficas, de vínculo com o negócio) e não trabalhamos mais com equipes estáveis e homogêneas de sujeitos engravatados que pareciam ter saído da mesma forma, até porque uma pessoa não é só sua profissão, mas também suas experiências pessoais. As relações hierárquicas, pouco existem nas organizações, elas estão se tornando horizontais e pautas na troca de experiências.

A concorrência pelos profissionais mais capacitados e talentosos, está cada vez maior, afinal além de o mercado estar mais competitivo e as empresas estarem buscando diferenciais no seu material humano, esses profissionais buscam espaços onde podem crescer, se especializar e tornarem-se referência para outros profissionais. Algumas ferramentas de trabalho modernas e um ambiente descolado, plano de saúde e vale alimentação, já não são mais suficientes para atrair um grande talento. As pessoas querem ser reconhecidas. E o reconhecimento não se dá apenas com bonificações, participações nos lucros, tapinhas nas costas ou homenagens frente a todos os outro colaboradores, isso inclui autonomia e flexibilidade. Os grandes profissionais já não se sujeitam mais a chefes autoritários e inflexíveis e estruturas extremamente burocráticas por conta de um bom salário ou um pouco de visibilidade. O crescimento pessoal e profissional tem sido levado muito em conta pelos profissionais dessa geração.

Depois dessas constatações ficam dúvidas sobre como formar uma equipe, como mantê-la e como atuar nela. Como conselho mais valioso que qualquer um pode lhe dar, estabelecer uma relação de confiança com todas as pessoas que trabalham contigo, é o melhor deles. E isso consiste em criar condições para que todos os membros dessa equipe possam confiar um no outro para percorrerem juntos novos caminhos e aprenderem através do sistema de tentativa e erro, o que mais se encaixa a sua empresa e as carreiras de cada um. É preciso criar um sistema de solidariedade e não de competição. Esse fator se chama segurança psicológica, ou seja, ao estabelecer essa relação de confiança, deve-se deixar claro que todos podem demonstrar as suas vulnerabilidades diante os demais, assumindo suas imperfeições e dessa forma serão aceitos. Isso mostra que o time é seguro para correr riscos e que ninguém será punido ou humilhado por revelar suas imperfeições, ideias, preocupações ou erros, que o objetivo é esse mesmo, aprender e ter a compreensão do outro com ser humano com qualidades, defeitos e diferentes experiências.

Essas questões não trazem apenas felicidade e uma sensação de acolhimento aos indivíduos envolvidos no trabalho de equipe, mas tornam a empresa mais produtiva e por consequência mais lucrativa, afinal times com segurança psicológica tem maior engajamento, são mais criativos e possuem maior habilidade em resolver problemas, além de ter menores índices de doenças relacionadas ao estresse. As relações de cooperação aumentam a ousadia em criar novos projetos e ter novas ideias para a empresa prosperar. Os indivíduos pertencentes a essas equipes tem menor propensão a deixar o emprego, aproveitam as ideias dos colegas de alguma forma, sem zombar deles ou inferiorizar, são considerados mais participativos e mais eficazes por seus líderes.

O que ainda compromete a segurança psicológica nas empresas é o medo que as pessoas tem de ficar vulneráveis diante do outro. Isso é difícil até mesmo fora do ambiente profissional, afinal ninguém quer parecer “fraco” e é ai que perde muitas oportunidades de aprender, evoluir, inovar. Devemos ficar antenados ao fato de a vulnerabilidade estar totalmente ligada a sensação de pertencimento, porque mesmo que não assumamos todos queremos ser compreendidos e pertencer a um grupo e não é possível ter essas duas coisas sem se expor. Quando você não assume as suas vulnerabilidades, você apenas se encaixa em toda e qualquer situação e isso prejudica sua evolução e lhe torna uma pessoa frustrada. Antes de pertencer a algum lugar, você precisa pertencer a si mesmo e isso requer que você aceite antes dos outros, tudo isso que você é, isso inclui as suas dificuldades.

Tudo mudou e a segurança psicológica, tem sido a chave do sucesso de carreiras e organizações, que não tem medo de enfrentar a mudança e assumir novos papéis.

 

Larissa Lucian


Matérias Relacionadas
COMENTÁRIOS

Permitir Cookies

Este site utiliza cookies para melhorar a experiência do usuário. Veja nossa Política de Privacidade