FOMO: o medo de perder oportunidades
FoMO (da sigla em inglês Fear of Missing Out) pode ser definida como um sentimento que nos impede de aproveitar o momento presente por ficarmos constantemente pensando em tudo que deveríamos estar fazendo em vez de estarmos ali, batendo um papo gostoso com os amigos, por exemplo. Porém, a partir do momento que você se dá conta disso, não consegue aproveitar mais nada. Só consegue pensar em tudo que poderia estar fazendo e está… perdendo.
Imagine a seguinte cena: é sexta-feira à noite e você está deitado no seu sofá, depois de uma semana bastante exaustiva. Você sonhou com esse momento durante suas reuniões de trabalho, nas aulas daquele seu curso – interessante, mas bastante cansativo – e principalmente naquelas horas intermináveis que você passou preso no trânsito. Mas, finalmente, o seu momento chegou e você está ali, com a roupa mais confortável que encontrou no armário, pés para cima e uma sensação indescritível de prazer. Então, você começa a navegar por uma de suas redes sociais. E seu mundo desaba.
No feed de notícias, todos parecem estar se divertindo. Alguns saíram para conhecer um restaurante que, pelas fotos dos pratos, parece maravilhoso. Outros, foram se divertir em uma festa bastante animada. E, claro, sempre tem aquele que está viajando e conhecendo lugares paradisíacos. Imediatamente, um pensamento destrói a sua paz interior: “Estão todos se divertindo enquanto eu estou aqui, sem nada de interessante para fazer”. E não importa o quanto você quis o seu sofá. Neste instante, você nem se lembra disso . Só pensa no que não está fazendo.
Se você se identificou com a cena, não se preocupe. Você não está sozinho. O que você sente tem, inclusive, nome: FoMO, sigla em inglês para Fear of Missing Out, ou, em português, “medo de ficar de fora” ou ainda “medo de perder oportunidades”.
A síndrome foi identificada pela primeira vez em um grupo de estudos organizado pelo pesquisador Dan Herman, em 1996. Para ele, a descoberta rompeu barreiras na análise de hábitos de consumo, o que o instigou a explorar o assunto também pelo lado socioeconômico, de motivação e até como traço de personalidade do ser humano. O resultado de sua análise foi publicado pela primeira vez em maio de 2000 no Journal of Brand Management, uma publicação renomada em gestão de marca e estratégia.
FoMO, segundo ele, é uma atitude de medo frente à possibilidade de não conseguir fazer tudo que você poderia e, por isso, perder a oportunidade de ser feliz vivenciando algumas dessas experiências. “Resumindo: é focar sempre na ideia de que o copo está meio vazio”, diz Herman.
Apesar de esses sentimentos fazerem parte do ser humano, o aumento do uso da internet e da presença das pessoas em redes sociais pode ter ampliado seus efeitos. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro Regional para o Desenvolvimento de Estudos sobre a Sociedade da Informação (Cetic. br), o número de lares com internet em Santa Catarina subiu mais de 10% em relação a 2016. Além disso, cerca de 76% dos usuários utilizam a web para ver suas redes sociais, um número bastante e xpressivo e que aumenta a cada dia.
Segundo a psicoterapeuta Ana Gabriela Andriani, qualquer sistema que faça com que as pessoas se comparem às outras pode gerar FoMO. E é exatamente isso que ocorre nestes sites, pois, em geral, o que se vê são postagens que não necessariamente condizem com a realidade. “A imagem que se quer construir é sempre de felicidade. Parece que não se pode mais ser triste. Tem que sempre estar feliz, mesmo na quarentena”, diz ela, que tem visto isso acontecer em seu consultório. “Por estarem mais nas redes sociais postando essas imagens de felicidade, talvez a sensação de estar de fora tenha aumentado, até pela perda do contato com o outro”.
Mestre e doutora pela Unicamp, a psicoterapeuta abordou o tema em seu canal do YouTube, por sugestão de um internauta. Em três meses, o vídeo já atingiu mais de dez mil visualizações e é um dos mais vistos do canal. “Como a pessoa está muito ansiosa e muito ligada ao outro, ela perde a possibilidade de viver o presente e aproveitar o que ela tem, as suas próprias conquistas”, definiu ela.
Confira:
Apesar do termo não ser tão conhecido no Brasil, a FoMO pode ser considerada a raiz de muitos outros problemas mais graves, como a dependência em eletrônicos ou redes sociais, ansiedade e até depressão. Porém, a FoMO pode ser uma força positiva na vida das pessoas. Segundo Dan Herman, apesar da palavra “medo” muitas vezes despertar um sentimento negativo em seu significado, cerca de 30% das pessoas conseguem transformar a FoMO em algo bom. Isso ocorre porque o medo de perder oportunidades funciona como um alarme natural e pode ser usado para nos ajudar a tomar decisões melhores, pois, ao entender o que temos medo de perder, optamos por fazer aquilo que realmente nos traz felicidade.
COMO EVITAR FOMO
Nem toda mensagem é urgente: não precisamos responder mensagens de aplicativo ou e-mails imediatamente assim que elas chegam. Então, pare de checar o celular a cada cinco minutos.
Dizer não faz bem: deixar de frequentar lugares ou conviver com algumas pessoas pode ser bom. Procure ocupar seu tempo com coisas que realmente trazem satisfação .
Coloque os pés para cima: você não precisa estar ocupado nas 24h do dia. Tenha um tempo também para relaxar e não fazer nada!
Você não é todo mundo: cada um tem seu tempo e interesses próprios. Ficar se comparando com os outros pode trazer apenas frustração.
O LADO POSITIVO
Segundo Dan Herman, aqueles que lidam bem com a FoMO em geral têm mais sucesso financeiro e nos seus relacionamentos, além de estarem mais satisfeitos com a vida que levam. Isso acontece porque a F oMO pode:
• Levar as pessoas a viverem vidas mais plenas e com mais alegria, pois o tempo é gasto em atividades com maior significado.
• Motivar conquistas que trazem sentimentos reais de satisfação.
• Trazer sensação de plenitude por estarmos mais conectados ao momento presente.
• Ensinar a lidar melhor com as frustrações da vida, sabendo que podemos estar satisfeitos com o que foi possível fazer, sem nenhum sentimento de culpa.
Ligia Rabay
li.rabay@gmail.com
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