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Eles sabem, a gente aprende - Mestres dos saberes e fazeres culturais


Mestres dos Saberes foram reconhecidos em Salto Veloso 

Quando você pensa na sua cidade certamente imagina algum ponto turístico ou a casa onde cresceu. Talvez lhe venham à mente os aromas familiares de um prato gostoso ou um perfume, seguido pelos rostos afáveis dos vizinhos. Quem sabe você lembre da sua escola ou de algo que aprendeu com alguém. Os saberes que aprendeu ao longo da vida formaram o adulto que você é hoje e forjaram a sua relação com sua comunidade de origem. Não tenha dúvida, você aprendeu com os mestres. E em Salto Veloso eles foram reconhecidos.

Tudo começou quando o Departamento de Cultura, em parceria com o Conselho Municipal de Política Cultural, elaborou um conceito para definir os Mestres dos Saberes e Fazedores Culturais de Salto Veloso.

"São aqueles que por seus saberes e fazeres preservam a história e a memória de Salto Veloso e da região", explica a Diretora de Cultura e Turismo Célia Regina de Bortoli, "que têm sabedoria notória, longa permanência na atividade e reconhecidos como uma referência na transmissão de conhecimentos culturais e tradicionais, fortalecendo o sentimento de identidade e pertencimento da comunidade".

Instituídos através da Lei Municipal nº 1.718 de 1º de junho de 2021, são reconhecidos aqueles que atuaram em uma das categorias:

I. Artes da cura e medicina popular;
II. Cultura cabocla;
III. Cultura imigrante;
IV. Manejo, plantio, coleta e preservação de recursos naturais;
V. Culinária tradicional;
VI. Jogos e brincadeiras;
VII. Memória, contação de histórias e outras narrativas orais;
VIII. Poesia e literatura popular;
IX. Músicas, cantos e danças;
X. Rituais, festejos e celebrações;
XI. Artes e artesanato; 
XII. Ofícios ou “modos de fazer" tradicionais; 
XIII. Outras categorias culturais que transmitam saberes e fazeres de geração a geração, garantindo a ancestralidade e identidade da sua comunidade.

O trabalho para chegar à lista atual começou em 2019, durante a elaboração do Plano Municipal de Cultura. "Realizamos o mapeamento cultural de todas as manifestações culturais e durante os fóruns de construção identificamos três artesãos, um ambientalista e um benzedor denominados como mestres por seu conhecimento e tempo de atuação. Em 2020, quando monitoramos o Plano de Cultura, incluímos mais dois mestres: um artesão e um contador de histórias", conta Célia ao demonstrar que o mapeamento cultural é um processo permanente, com base na Lei Municipal, que prevê o lançamento de um edital a cada dois anos para que a comunidade possa sugerir novos mestres. De acordo com a Diretora, os editais virão para ajudar a localizar e reconhecer oficialmente os mestres. "Eles já têm o reconhecimento da população, mas faltava este prestígio dado pelo Município", destaca. mestres

Ainda em 2020, com recursos da Lei Aldir Blanc, tomou forma o Projeto Exposição Fotográfica dos Mestres, elaborado pela fotógrafa Gerusa Ansiliero, que atendeu algumas estratégias do Plano Municipal de Cultura. Segundo Célia, o projeto propôs captar informações sobre a vida e a trajetória dos Mestres de Saber através de entrevistas e registro fotográfico e audiovisual.

"O produto final foi a entrega de oito painéis de 60x90cm, dos quais sete tiveram fotos individuais e um breve histórico de cada um dos Mestres, e o último abrigou as informações obrigatórias do edital. Também foram produzidos sete vídeos com entrevistas que serão publicadas pelo Departamento de Cultura", conta.

Os Mestres também recebem um troféu em uma diplomação solene.

"Para isto, lançamos a marca dos Mestres dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso, criada pelo designer Luciano Ribeiro, que está atrelada à marca Cultura Feita a Mãos, criada inicialmente pela designer Samara De Pieri e atualizada por Luciano para se adequar ao projeto de um site que apresenta os artistas, artesãos e produtores de Alimentação e Culinária Artesanal", aponta Célia.

A continuidade do projeto fica a cargo do Departamento de Cultura, com a inclusão de futuros mestres na galeria fotográfica, registro de seus nomes no Livro de Registros dos Mestres dos Saberes e Fazedores Culturais de Salto Veloso, e com a promoção de eventos voltados à multiplicação dos saberes e práticas que deram fundamento à concessão do título, especialmente quanto à manutenção da prática e à transmissão de conhecimentos. 

Para ser reconhecido como Mestre dos Saberes e Fazedor Cultural, o candidato deve cumprir requisitos como: residir no Município há pelo menos 25 anos contados da data de inscrição; comprovação da atuação na atividade cultural há pelo menos 30 anos contados da data de inscrição, seja por meio de depoimentos ou documentos que comprovem a existência e relevância do saber e fazer popular tradicional do candidato.

CONHEÇA OS MESTRES

Luiza Lazzari Borga luiza borga

Reconhecida em 2019, no Mapeamento Cultural, como Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso nas seguintes categorias: Memória, contação de histórias e outras narrativas orais por seus relatos sobre a a história dos imigrantes em Salto Veloso e região e Ofícios ou “modos de fazer" tradicionais pelo artesanato em palha de trigo.

Luiza Lazzari Borga nasceu no dia 17 de janeiro de 1920, no distrito de Mato Perso, na cidade de Flores da Cunha no Rio Grande do Sul. No ano de 1928 veio com a família morar em Santa Catarina, o trajeto foi realizado de trem até a vila de Pinheiro Preto e depois seguiram caminhando até a localidade da Linha Barra do Veloso, sendo este trajeto de aproximadamente 40 quilômetros. Aos 17 anos se casou com Fidelis Borga e se mudaram para a localidade da Linha Alto Veloso, na vila de Salto Veloso.  Sempre trabalharam na agricultura e com a ajuda dos filhos plantavam trigo, arroz, feijão e milho para o sustento da família e criavam porcos, vacas e galinhas.

Nos momentos de lazer em casa, Dona Luiza fazia tranças das palhas de trigo que ela mesma plantava, atividade que aprendeu com sua mãe ainda quando tinha 8 anos de idade, que ao final se transformavam em chapéus, cestas e outros enfeites. A técnica foi repassada para seus filhos, netos e bisnetos.

O trabalho no campo sempre foi o sustento da família, mas o amor pelo artesanato e sua memória e oralidade sobre a formação da vila a partir da vinda dos imigrantes, fez com que Dona Luiza fosse muito admirada no município de Salto Veloso, onde reside até hoje. 

Leopardo Boeira da Fonseca leopardo fonseca

Reconhecido em 2019, no Mapeamento Cultural, como Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso nas seguintes categorias: Artes da cura e medicina popular por ser um benzedor; Memória, contação de histórias e outras narrativas orais pela memória da história de Salto Veloso e região, principalmente da cultura cabocla.

“Eu não deito e não me levanto sem fazer todas as minhas orações.”

Nasceu em 30 de outubro de 1925, em Vacaria/RS. Ainda menino veio com os pais para Santa Catarina. Recebeu o dom do benzimento de Nossa Senhora Aparecida.  Benze pessoas das mais diversas doenças e problemas, animais e espaços, como fazendas, casas e empresas. Atende diariamente quem o procura em sua casa, também vai com as pessoas nos locais, mas quando é muito distante, benze à distância.

Como veio para Salto Veloso nos anos 30, tem a memória de como era a vila fundada pelo caboclo Antônio Veloso, local de passagem dos tropeiros. Na pequena vila povoada por caboclos, presenciou cenas do deslocamento dos caboclos em direção aos campos de Palmas ainda em função da expulsão destes por consequência da Guerra do Contestado e por causa da colonização, pois muitos eram posseiros e tiveram suas terras vendidas por Companhias para famílias de imigrantes italianos vindos do Rio Grande do Sul. 

Com quase 97 anos, continua lúcido, conta histórias de seu tempo e reza todos os dias. Seu conselho para as futuras gerações é “O bem se paga com o bem”.

Quinto Patelquinto patel 

Reconhecido em 2019, no Mapeamento Cultural, como Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso na categoria Manejo, plantio, coleta e preservação de recursos naturais por ser um ambientalista.

Quinto Patel é natural de Turvo-SC, nasceu no dia 04 de novembro de 1937, em 1948 mudou-se para Salto Veloso. Agricultor, foi atuante nos anos 70 no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Salto Veloso e a partir dos anos 80 passou a participar de atividades em defesa do meio ambiente, sendo um dos fundadores do CONDEMA – Conselho de Meio Ambiente de Salto Veloso, órgão em que atua até hoje.

É reconhecido em Santa Catarina pelo seu trabalho, em 1987 recebeu o título Honorífico da FATMA por seu espírito conservacionista e o troféu Fritz Müller concedido pelo Governo do Estado. Em Salto Veloso já foi condecorado pelo executivo, legislativo, associações e empresas. Em 2017 publicou o livro "A natureza ao alcance das mãos – Vida e obra do Ambientalista Quinto Patel". Já realizou inúmeras palestras em eventos e escolas. Quinto Patel espera que as futuras gerações também valorizem o meio ambiente, que aprendam com tudo o que já foi feito por ele e que perpetuem seu legado.

Vicente Zamboni vicente zamboni 

Reconhecido em 2019, no Mapeamento Cultural de Salto Veloso, como Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso nas categorias: Ofícios ou “modos de fazer" tradicionais por ser Tanoeiro, confecciona tonéis e outras peças artesanais em madeira.

Vicente Zamboni, nascido em 22 de janeiro de 1942, na cidade de Farroupilha/ RS. Ainda criança veio com a família morar em Salto Veloso.

Aprendeu a fazer barricas de vinho com os ensinamentos de seu pai. Com o passar dos anos, se tornou pai de família e as atividades árduas e diárias do tempo antigo na propriedade rural nunca deixavam sobrar muito tempo para que pudesse desempenhar tudo o que havia aprendido com seu pai, fazendo somente quando necessário para a família e vizinhos.Vendo como uma oportunidade de negócio, em meados de 1980, com a necessidade de ampliar a renda, decidiu resgatar o aprendizado e começou a trabalhar como tanoeiro.

Atualmente, seu trabalho é conhecido por muitas pessoas na  região e tem os produtos distribuídos por todo o Brasil. Seu Vicente ensina seu filho e seus netos as técnicas artesanais de confecção de peças em madeira garantindo assim a manutenção deste saber.

Armando Zenaro armando zenaro 

Reconhecido em 2019, no Mapeamento Cultural de Salto Veloso, como Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso nas categorias: Ofícios ou “modos de fazer" tradicionais e Artes e artesanato por ser Marceneiro e confeccionar brinquedos em madeira.

Armando Zenaro nasceu em 15 de abril de 1942 na cidade de Pinheirinho do Vale, no Rio Grande do Sul. Desde menino iniciou seu ofício de marceneiro, trabalhou em pequenas marcenarias e até sapatarias. Em 1969 veio residir em Salto Veloso e trabalhar em marcenarias e madeireiras, onde ainda atua. Em 1971 se casou, e para complementar a renda iniciou a confecção de brinquedos em um pequeno atelier caseiro. Armando Zenaro relata que confeccionou seu primeiro brinquedo quando tinha uns quinze anos e que em Salto Veloso fez um caminhãozinho para o filho do patrão e desde então produz uma diversidade de brinquedos que já foram utilizados por diversas gerações. 

Sempre aproveitou sobras das madeireiras, utilizando madeiras nobres para garantir segurança, qualidade e durabilidade aos brinquedos.  Conta com a ajuda da esposa, Delurdes Zenaro para fazer o acabamento e a pintura das peças.

“Nos primeiros anos em que comecei a fazer, eu vendia uns vinte brinquedos por ano. A época que mais vendi foi entre 1980 a 2000 onde a média era de 50 a 80 brinquedos por ano. Agora diminuiu um pouco as vendas, devido aos brinquedos eletrônicos, mas continuo vendendo e faço isso porque gosto e vou continuar até que Deus me der forças.”

Jair José Pasin jair jose pasin 

Reconhecido em 2020, pelo Conselho Municipal de Política Cultural, como Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso na categoria Memória, contação de histórias e outras narrativas orais por seus relatos orais da história de Salto Veloso e região.

“Feliz o Homem que tiver história para contar e levanta de manhã tem um rumo pra pegar”

Jair José Pasin, nasceu no dia 23 de fevereiro de 1948, na localidade de Três Barras, em Treze Tílias. Morou na Comunidade de Linha São Vicente, Salto Veloso, até 18 anos, sempre trabalhando na roça e ajudando no sustento e criação da família. 

O Sr. Jair foi e é reconhecido pelo seu rico conhecimento e gosto pelas histórias e pela música tradicional da nossa região. Seu conhecimento, memória e testemunho são fundamentais para os que precisavam de informações sobre seus antepassados nos mais diversos temas como: paternidade, propriedade ou aposentadoria. Auxilia com informação para livros das comunidades locais, na contação de história nas escolas, em especial sobre os Caboclos da região e de seu modo de vida e sobre a Guerra do Contestado.

É o organizador da “Cavalgada Família Pasin”, evento que está na 11ª edição e que reúne mais de 300 pessoas, no qual são servidas mais de 500 refeições e onde acontece o tradicional Gaitaço com mais de 40 gaiteiros. Em 2020, Jair Pasin foi agraciado com o Prêmio Municipal “Sal da Terra”, concedido aos cidadãos destaque do município.

José Carlos Correa jose correa

Reconhecido em 2020, pelo Conselho Municipal de Política Cultural, como Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais de Salto Veloso na categoria Ofícios ou “modos de fazer" tradicionais por ser serralheiro que confecciona artesanato em ferro.

José Carlos Correa, nasceu no dia 5 de abril de 1964 em Catanduvas/SC, reside em Salto Veloso desde 1970. Formado pelo SENAI como torneiro mecânico, tornou-se um habilidoso profissionale trabalhou em fábricas em diversos estados brasileiros.

 Em 1995 abriu sua empresa de móveis tubulares, posteriormente passou a atuar em serralheria, confeccionando os mais diversos artefatos, desde grades, portas, janelas, corrimões, etc. atendendo a várias regiões de Santa Catarina, e outros estados como Paraná e São Paulo.

Profissional criativo e engenhoso gosta de criar peças com arabescos e em 2018 iniciou a realização de um sonho que era criar um carro com arabescos, projeto que desenvolveu sozinho sem um projeto inicial. O Fusca foi inaugurado em dezembro de 2019, na Festa de Emancipação Política de Salto Veloso participando da chegada do Papai Noel. Também participou de feiras de automóveis onde sua criação sempre fez muito sucesso, recebeu troféu de destaque no Encontro de Carros Antigos de Luzerna/SC.

 


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