Adoção de coração
Eles sabem ser extremamente convincentes quando acionam seus olhinhos pidões e os utilizam para pedir comida ou carinho na barriguinha. Eles tem personalidades variáveis e entram na nossa vida de maneiras inusitadas e se tornam companheiros fiéis. Ter um animalzinho de estimação exige responsabilidade e muitos cuidados. Dar comida e água apenas, não basta, é preciso muito mais. Uma coisa é indiscutível, eles são fofinhos e falam muito bem uma língua que é universal, o bom e velho amor.
Todos os dias me dirijo ao trabalho a pé. Faço um trajeto de um pouco mais de quinze minutos, que me permite observar muitas coisas ao longo do caminho que faço. Tenho por hábito, utilizar fones de ouvido e escutar algumas músicas que me façam sentir coisas boas e tornam o trajeto mais rápido e fácil de se fazer. Nesse caminho encontro algumas pessoas todos os dias, algumas delas se dirigem a mim com cumprimentos, enquanto outras estão tão perdidas em seus pensamentos que nem prestam atenção ao que acontece ao seu redor. Nesse contexto uma dupla me chamou a atenção desde o primeiro dia que os vi. Uma senhora de meia idade caminha todas as manhãs pelo mesmo caminho que faço e vem seguida por um mini cachorrinho que parece ser de “marca” vira-lata. Ele caminha como se rebolasse e em seu rostinho posso jurar ver um sorrisão, todos os dias. Quando eles precisam atravessar a rua, param cuidadosamente na calçada e quando o caminho está livre, “apostam corrida”, para ver quem chega primeiro ao outro lado. Quando eles param na padaria para comprar algum lanche, o amigo fiel, espera pacientemente do lado de fora, sentadinho perto da porta, sem tirar os olhos da sua melhor amiga, pronto para defendê-la se qualquer coisa acontecer.
Minha amiga trabalha em um mercado. E por lá sempre aparecem alguns animais em situação de abandono. O pessoal do mercado acaba cuidando deles e dando comida, água e atenção e acionando as ONGs de Proteção Animal para encontrar o dono ou buscar um lar para o animalzinho. Dessa forma eles ficam por ali, com toda a educação do mundo, não entram no estabelecimento, só buscam um petisquinho e um pouquinho de atenção. Nessas andanças surgiu uma cadelinha amarela, que eu apelidei carinhosamente de Baunilha. Algumas noites ela acompanhava minha amiga do trabalho até em casa e ficava por lá até o dia seguinte, quando ela voltava para o trabalho. Embora seja extremamente dócil, ela é muito desconfiada e sobre circunstância nenhuma me deixava passar a mão nela. Ela repetia esse trajeto e esse processo muitas vezes na semana e a busca por um lar para ela se iniciou. Certo dia, vindo para o trabalho a avistei do outro lado da rua, mas segui meu trajeto, afinal ela não havia me dado nenhuma atenção. Quando senti um focinho na minhas pernas me empurrando para frente. Assustada olhei para trás e vi ela ali, sorrindo para mim e pedindo um carinho. Fiz carinho nela e ela me acompanhou até o trabalho, onde ganhou comida e água. No mesmo dia repetimos a publicação que buscava um lar para ela. E para a nossa felicidade, no mesmo final de semana ela ganhou uma casa e um espaço no coração de tutores responsáveis e amorosos e foi rebatizada como Natalina.
A Baunilha foi adotada, assim como um gatinho franzino de cerca de cinco meses branco e cinza que tinha um M na testa e um miadinho insistente, que chegou na porta do meu antigo prédio, sabe-se lá Deus de que maneira e que em dois dias já se sentia em casa e dormia na minha cama. Ele foi batizado como Logan por sua lealdade e mau-humor. Depois de um tempo surgiu uma gatinha preta que chegou com um mês, colocando ordem na casa e mostrando que ali quem mandava era ela, que é um terremoto destruidor de sofás e caçador de moscas e que gosta de dormir de conchinha. Quando chegou ganhou o nome de Salem, até descobrirmos que a bonita era mesmo uma menina, que foi rebatizada como Agnes.
A história da Baunilha/Natalina, do Logan e da Agnes teve o aclamado final feliz que sempre esperamos, mas nem sempre é assim que acontece. De acordo com dados do Instituto Pet, a população pet no Brasil é de cerca de 140 milhões de animais e é composta por cães, gatos, peixes, aves, répteis e pequenos mamíferos. Dessa população o maior número é de cães tendo 54,2 milhões, seguida pelos gatos que compõe 23,9 milhões nessa estatística. Desses, 5% dos animais estão em Condição de Vulnerabilidade o que representa o número de 3,9 milhões de pets. Os animais considerados em Condição de Vulnerabilidade são aqueles que vivem sob a tutela de famílias classificadas abaixo da linha da pobreza ou que vivem nas ruas, mas recebem alguns cuidados das pessoas que se compadecem com a sua situação.
É importante ressaltar que não estão inclusos nessa lista os animais abandonados, que vivem por um determinado tempo nas ruas e sem tutor. Esses animais em situação de rua ou que sofrem maus tratos são atendidos e vivem sob a tutela de ONGs que são voltadas diretamente a proteção animal e mesmo com dificuldade assumem a responsabilidade de manter esses animais e promover a adoção voluntária e responsável. O Instituto Pet Brasil, apurou a existência de cerca de 370 ONGs atuando na proteção animal em todo o Brasil. Dessas, 46% estão na região Sudeste, seguida pela região Sul com 18%, Nordeste 17%, Norte 12% e Centro-Oeste com 7%. Essas instituições tutelam mais de 172 mil animais, desses 96% são cães e 4% são gatos.
É constatado que 4% dos animais em situação de vulnerabilidade evoluem para o abandono completo. Todos os dias os índices de abandono evoluem consideravelmente e mais gatos e cachorros vão parar nas ruas, sem comida e proteção. As ONGs e Lares Temporários já estão lotados e tem dificuldade para abrigar e auxiliar todos os animais. Embora angariem cada vez mais voluntários, não conseguem atender tantos animais, principalmente sem todo o recurso necessário. Outra questão que fica em pauta com o abandono é a saúde veterinária. Dados apresentados pelo IBGE divulgam que o Brasil vacina cerca de 75% da população de cães e gatos. Acredita-se que em 2018 mais de 59 milhões de animais foram vacinados em todo o território brasileiro. Esse resultado revela que cerca de 19 milhões de animais não foram imunizados contra a raiva. A região com maior índice de vacinação é a sudeste com 84% e a com menor índice é a região Sul com 63,5%.
Os animais abandonados, tornam-se alvos constantes de maus-tratos, violência, acidentes e perigos, além de acabarem doentes pela falta de comida e água. Todos os cidadãos integrantes da sociedade podem mudar essa realidade divulgando a importância da adoção e auxiliando animais abandonados ou as ONGs de Proteção Animal. Se você está interessado em adotar algum animal abandonado ou em situação de vulnerabilidade, primeiro certifique-se de que ele não tem um tutor, ou de que o tutor quer repassar a tutela do animal a você. Visite também as ONGs, abrigos protetores de animais voluntários e independentes e entidades de defesa e proteção animal que realizam trabalhos sérios de resgatar animais, cuidar deles fornecendo cuidados médicos, alimentação e carinho e além de encaminhar os animais para adoção responsável acompanham os adotantes em todo o processo de adaptação do animal para certificar-se de que ele ficará em boas mãos.
Mas e depois da adoção, quais cuidados devem ser tomados com o seu animalzinho de estimação? O tutor precisa saber que ao adotar um animalzinho estará assumindo uma grande responsabilidade, sobre uma vida que precisa de atenção, dedicação, tempo, cuidado e amor.
Antes de adotar um animal é preciso prestar atenção a alguns detalhes básicos e importantes. O primeiro dele é consultar as pessoas que moram com você, sobre a presença de um amigo de quatro patas. Certifique-se de que todos os familiares concordam com a adoção e que ele será bem tratado por todos da casa. É importante verificar também, se ninguém da sua família tem algum problema de saúde que pode ser agravado com a presença de um bichinho, como as doenças respiratórias.
Avalie bem as condições em que vive para saber se a família tem condições de compartilhar a vida e o espaço com mais um integrante. Essa avaliação consiste em verificar o orçamento doméstico e as finanças da família, pois para cuidar de um animal existirão despesas com: alimentação, produtos de higiene, vacinação, vermifugação, castração e consultas veterinárias periódicas.
A alimentação dos animais é um tema que tem estado em pauta, pois está em alta a onda de alimentação saudável também para os pets e isso inclui comida de verdade, comida de “gente”. Alguns animaizinhos tem doenças tão severas que exigem que a alimentação seja regrada e regada a verduras e carnes sem condimentos. Algumas clínicas veterinárias já fornecem essa alimentação balanceada e nutritiva para o seu melhor amigo. Antes de fazer escolhas sobre a alimentação dele, verifique o que se encaixa melhor para o seu organismo.
Lembre-se que todo o animal precisa de um espaço adequado para se desenvolver e viver com liberdade. Criar animais sem liberdade e em locais apertados e abafados pode gerar no bichinho distúrbios de comportamento, estresse e doenças graves. Se você mora em apartamento e deseja adotar um animal é importante verificar o porte dele e se ele terá espaço suficiente para se movimentar dentro da sua casa. Lembre-se: mesmo animais de porte pequeno, precisam de pelo menos uma caminhada diária, pois a falta de movimentação causa problemas sérios à saúde como a obesidade, problemas articulares ou osteo-musculares.
Os bichinhos precisam de atenção e carinho. Se você passa o dia todo fora e não tem uma pessoa responsável para compartilhar as responsabilidades de ter um animalzinho em casa, é recomendável que repense antes de adotar. Quando eles ficam muito tempo sozinhos podem vir a ficar tristes e amuados a ponto de desenvolverem alguma doença ou distúrbio comportamental. Além deles se sentirem sozinhos podem desenvolver comportamentos estranhos para chamar a atenção do dono, como destruir algum objeto de valor, tentar entrar em algum cômodo ou móvel proibido e chorar muito.
O seu animal deve ficar protegido e em segurança. Como eles precisam de espaço e gostam de dar umas voltinhas para desbravar novos ambientes, esteja atento a ele. Não deixe que saia das redondezas do seu quintal. Se mora em apartamento é aconselhável telar as janelas, para não ocorrem acidentes. Os riscos de animais nas ruas, são: atropelamentos, ingerir comida deteriorada ou envenenada no lixo, entrar em algum local que tenha iscas alimentarem com veneno, se envolver em brigas com outros animais, serem maltratados ou furtados.
Os animais não são brinquedo e ter um, exige responsabilidade. As crianças em geral gostam de apertar os bichinhos por os acharem fofos e muito bonitinhos e nessa “brincadeira” e forma de demonstrar afeto podem acabar machucando o animalzinho. Cabe aos pais explicar que os animais também sentem dor, choram e ficam tristes quando machucados e apertados, mesmo que sem intenção. Além de exigir responsabilidade e comprometimento para alimentar, passear e cuidar em qualquer momento da vida, afinal ter um pet exige tempo e paciência principalmente no processo de adaptação ao novo lar e membros da família.
Em geral os animais são muito sociáveis e gostam de interagir com humanos e outros bichinhos, por isso os passeios e brincadeiras são tão importantes e saudáveis, mesmo quando seu animal já atingir uma certa idade é importante continuar incentivando e estimulando ele a caminhar e brincar. Esteja preparado, os animais também envelhecem e necessitam de cuidados especiais. Fique atento às mudanças de hábitos que ele terá e sempre acompanhe a sua saúde, para que ele possa ter qualidade de vida também quando for um animalzinho idoso. O abandono de animais idosos é uma crescente devido a necessidade de cuidados maiores e a diminuição da pro-atividade do bichinho.
Nós sabemos que adotar um animal exige todas essas responsabilidades e muito mais, mas nada compara ao amor e carinho recebidos de volta pelos nossos melhores amigos, que sempre encontram uma maneira de ser gratos pelo que fazemos por eles diariamente. Mas, nesse processo é preciso lembrar que existem requisitos e cuidados básicos necessários para adotar um animal e essas são questões muito bem avaliadas pelas ONGs e protetores de animais. É preciso ter condições de dar ao animal uma boa alimentação, oferecer educação e carinho, promover a limpeza do local onde ele vive e dorme, fazer a higiene frequente dos ouvidos, dentes, pelos e unhas, dar banhos periodicamente, proporcionar brincadeiras e diversão para mantê-lo ativo e feliz, dar carinho, atenção e proteção, fazer vermifugação e vacinação periódica e dar acompanhamento veterinário para prevenção de doenças.
Os benefício de adotar um animal e conviver com ele geram satisfação, alegria e bem-estar, como: você salvará uma vida e se sentirá gratificado e realizado pelo bem-estar que pode proporcionar a esse animal, terá dele a total gratidão, carinho, alegria e confiança; a convivência com os animais traz benefício para a saúde e já foi comprovado cientificamente, por exemplo, que pessoas com depressão se recuperam convivendo com os animais; a diminuição de animais abandonado nas ruas e mais espaço nas ONGs para resgatar animais em condições de vulnerabilidade ou abandono; adotar um bichinho de rua, ao invés de comprar não fomentam os locais clandestinos que trabalham como fábricas de filhotes e não se preocupam com a qualidade de vida dos animais; a convivência com os bichinhos nos ensina sobre valores como a pureza, confiança, alegria, espontaneidade, amizade, reciprocidade, simplicidade, gratidão e muitos outros.
Caso você simpatize muito com a causa, mas mesmo assim não possa adotar um animalzinho por qualquer questão que seja, você ainda pode ajudar de alguma maneira. Ajudando financeiramente as ONGs da sua cidade; visitando os animais nos abrigos e doando um pouco do seu tempo e carinho ao brincar com eles; ajudando com serviços voluntários nas ONGs em multirões de castração ou feirinhas de adoção; socorrendo animais em perigo, nas ruas e encaminhando-os para algum lugar seguro e de confiança; doando mantimentos, como ração, medicamentos, produtos de higiene e potes para as ONGs; divulgando campanhas de adoção e pedidos de ajuda para resgate de animais de rua; conscientizando com mensagens e conversas educativas sobre a importância da adoção de animais e do combate ao abandono.
Seja um grande apoiador dessa causa e se permita viver o amor que só um animal é capaz de lhe dar.
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