A paixão de uma vida - Márcio Brancher
Uma bola nos pés e um coração no alto. Na garganta, o grito da vitória. No estômago, as borboletas do cotidiano. No corpo todo, em cada fibra, a dedicação para dar o melhor de si em qualquer desafio. Este é Márcio Brancher, natural de Videira, um atleta profissional que encontrou no futsal a sua paixão e cruzou o Atlântico para elevar sua carreira ao máximo.
Márcio Brancher era um jovem estudante da EEB Governador Lacerda quando conheceu os esportes. Em um tempo em que era mais comum ver crianças brincando na rua do que sentadas em casa, foi na escola que teve o contato com várias modalidades esportivas e descobriu que uma bola apresentava inúmeras possibilidades.
“Praticávamos vários esportes na escola. Com o Professor Tufi jogávamos Handebol; com o Professor Eli praticávamos Basquete e Atletismo. O Futsal não era praticado nas escolas porque ainda não era (e continua não sendo) um esporte olímpico”, conta o atleta.
Mas o gosto pelo esporte falou mais alto. Márcio começou a jogar futsal no time do Misto E. C., comandado pelo professor Adelmo Albiero, e depois passou a jogar na SERPerdigão. Entendendo que seria impossível, na época, se dedicar exclusivamente ao esporte, Márcio passou a trabalhar durante o dia e treinar com o time juvenil na parte da noite. No ano seguinte, decidiu se desafiar e fez um teste para integrar o Joinville E.C., time de futebol de campo. Ao ser aprovado, ingressou numa nova rotina de estudos e treinos em Joinville.
“Em 1985, quando fui para o Joinville, comecei a pensar que meu futuro poderia ser o futebol de campo. Entretanto, o destino me fez regressar a Videira e ingressei no time de futsal da SERPerdigão mais uma vez. Treinava com o time adulto de manhã e de tarde, enquanto à noite voltava a treinar com o juvenil. Foi treinando com o time adulto que tive aquele momento de iluminação e percebi que era aquilo que eu queria: jogar futsal. É claro que já sabia que queria me dedicar ao esporte, pois já era um gosto desde criança, mas a clareza da modalidade me proporcionou muito mais foco, pois me permitiu traçar um caminho mais claro de para onde iria e o que precisaria fazer para chegar lá”, explica Márcio.
Depois de jogar na SERPerdigão, Márcio integrou os times Banfort (CE), AABB (SP), Bordon (SP), Inpacel (PR), Itaqui (RS), Enxuta (ES), GM (SP), Ulbra (RS), ACBF (RS), Londrina (PR), Joinville (SC) e Seleção Brasileira. Com o destaque nacional após a passagem por tantos clubes, Márcio se deparou com uma proposta que mudaria a sua vida: a chance de jogar fora do país. Na Itália, onde reside, jogou pelo Arzignano Grifo C5, Luparense C5, Marca Trevigiana C5, Arzigano Futsal e Real Futsal Arzignano, todos times da primeira divisão.
Ao olhar para trás, Márcio relembra algumas dificuldades.
“Quando decidi que queria ser jogador de futsal tive que provar para todos do time que eu não estava ali só porque era da cidade. Como um adolescente de Videira jogando num time de Videira, tinha que provar o tempo todo que estava no time porque tinha mérito no meu trabalho. Eu sabia que o que eu fazia, por melhor que fosse, ainda seria pouco para alguns. Isso me ensinou a buscar ainda mais, me esforçar ainda mais, por que embora eu soubesse que o fato de ter nascido na cidade não tinha peso nenhum na minha permanência no time, era algo que os colegas observavam bastante”, conta.
Essa consciência, entretanto, vem acompanhada do amadurecimento e de uma base de valores sólidos o suficiente.
“Existe uma história que me marcou muito e que sempre uso quando falo aos jovens atletas. Alguns dos meus treinadores diziam que eu não conseguia fazer três embaixadinhas sem deixar a bola cair. Era uma forma de dizer que eu não tinha talento para jogar, porque não conseguia fazer brincadeiras e artes com a bola. Entretanto, esses mesmos treinadores sempre me queriam nos seus times. O que isso mostra? Isso revela que talento sem dedicação, suor, sofrimento e abstinência não fará de você um vencedor. Se eu tivesse acreditado que era um mau jogador e não tivesse notado que as ações deles eram contrárias ao discurso, se não tivesse me dedicado para seguir esse sonho, com certeza teria desistido”, explica Márcio.
Com um exemplo acessível de determinação, o atleta cumpre a função de estimular a próxima geração a buscar o seu melhor enquanto ele próprio busca superar seus limites em quadra.
Lições como esta são passadas de pai para filho. Márcio tem a possibilidade de assistir seu filho jogar futsal no Sporting Altamarca.
“Meu filho do meio, João Victor, não joga profissionalmente, mas treina e demonstra ter a paixão de um profissional. Minha relação com ele e com o esporte sempre foi de orgulho, primeiro em função do modo como se comporta em campo e com os adversários e segundo pelas conquistas que obteve. Ele enfrentou outras barreiras por ser filho de um jogador ‘importante’. Sempre fizeram (ainda fazem) comparações absurdas com relação ao desempenho, mas ele sabe controlar isso com uma grande personalidade e carisma”, diz.
Falar no futuro, entretanto, é mais delicado. Jogadores encerram suas carreiras ainda muito jovens, pois tendem a ter quedas no rendimento a partir de uma certa idade considerada cedo para quem não depende do desempenho físico. Quem de nós, que não somos atletas, poderia cogitar mudar o direcionamento da carreira aos 35 anos? Mas isso muda de acordo com a área em que se atua.
“Sei que daqui a pouco tenho que parar e começar um novo trabalho depois dos 35 anos. Gostaria de atuar na área do futsal, mas sei também que trabalhar como orientador ou treinador requer muita qualificação. Se esse for o meu futuro, espero que seja repleto de alegrias e muito trabalho”, finaliza Márcio.
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