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Um sinal de alerta e uma possível solução


Olhe para a geladeira de sua casa. Agora olhe para os armários. Você sabe me dizer quais desses alimentos tem alto teor de açúcar? Você sabe dizer qual porção é adequada para o seu dia? Mas certamente você sabe que uma alimentação adequada, com baixo teor de açúcar e com a ingestão de alimentos não processados reduzem as chances de desenvolver pré-diabetes e da condição evoluir para o diabetes tipo 2. E se eu disser que essas informações tão relevantes podem parecer na embalagem dos produtos? A questão não é se, mas quando.

 

O ano de 2018 não apresentou descanso para ninguém, muito menos para quem acompanhou a batalha pela mudança na rotulagem de alimentos. Informações sobre os níveis de açúcares, sódio e gorduras entraram em questão nas discussões sobre como é possível melhorar a saúde geral da população e reduzir doenças como o diabetes tipo 2 ou apenas suas consequências.

Mas antes da diabetes, existe a pré-diabetes. É quando o corpo começa a dar sinais, especialmente através dos exames de sangue, mostrando que os níveis de açúcar (glicemia) e insulina estão elevados. Este estado é conhecido como um estado de resistência à insulina, ou seja, quando o pâncreas passa a produzir muita insulina na tentativa de controlar os níveis de açúcar. Já falamos sobre isso antes e certamente você ouviu falar muito na mídia digital, escrita ou falada.

A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas e que, depois de liberado na corrente sanguínea, liga-se aos canais transportadores de glicose nas células dos músculos, fígado e gordura. Isso quer dizer que a insulina estimula os músculos a captar a glicose e queimar para gerar energia ao mesmo tempo em que estimula as células de gordura a transformar a glicose em gordura e a bloquear a sua quebra. Este recurso permite que em casos de pouco consumo energéticos, o corpo consiga utilizar essas reservas para se manter ativo.

Entretanto, quando o corpo possui resistência à insulina, os músculos não conseguem captar a glicose do sangue e para resolver o problema, o pâncreas produz mais insulina. As células de gorduras, por sua vez, estimulam o armazenamento daquela glicose que não foi para o sangue e bloqueia a queima da gordura reservada. Assim, se uma unidade de insulina poderia tirar cinco unidades de glicose do sangue, passam a ser necessárias duas unidades para a mesma quantidade. Com o tempo, as duas viram três, quatro, cinco e o pâncreas já não pode mais suprir a demanda. Ao mesmo tempo, se as suas células não recebem energia da quebra da glicose, você tende a comer mais (e aumenta a quantidade de glicose no sangue) e seus músculos já não respondem adequadamente, causando falta de energia em pouco tempo.

E se isso estiver acontecendo e, sem saber, você buscar repor a sua energia com algum item da sua despensa? O Ministério da Saúde recomenda evitar o consumo de alimentos ultraprocessados que tenham altas concentrações de açúcar, gordura e sódio, pois eles podem colaborar para a prevenção da doença. A recomendação está no Guia Alimentar para a População Brasileira, direcionada para os habitantes desse país, os quais consomem 50% a mais de açúcar do que o recomendado segundo a UNS. Nós consumimos, em média, 18 colheres de chá de açúcar por dia, enquanto o recomendado é de até 12 colheres. Não é por acaso que a Pesquisa Vigitel 2017 apontou um crescimento de 54% de diabetes nos homens e 28,5% nas mulheres. E se estes números não são suficientes, a Sociedade Brasileira de Diabete estima que 40 milhões de brasileiros seja pré-diabéticos e 25% desse total pode desenvolver diabetes tipo 2.

 

SÓ A ALFACE SALVA

A alimentação do pré-diabético não é muito diferente da chamada alimentação saudável, que deve orientar toda a população. A opção deve ser por água, leite e frutas ao invés de biscoitos recheados, bebidas lácteas e refrigerantes. Na dúvida sobre poder comer ou não, prefira sempre aquela comida feita na hora e deixe de lado o produto que dispense preparação como as sopas “de pacotinho”, produtos congelados prontos para aquecer, molhos industrializados, etc. Para a alegria geral da nação, brigadeiro de panela de vez em quando é muito melhor do que brigadeiro de panela de vez em quando é muito melhor do que brigadeiro “de potinho”.

A recomendação para evitar os alimentos ultraprocessados caminha no sentido de evitar o alto teor de açúcar desses alimentos ultraprocessados caminha no sentido de evitar o alto teor de açúcar desses alimentos, pois é ele que, combina com o sal, gorduras e realçadores de sabor, garante aquele gosto forte e pujante. A inserção destes itens no processo produtivo é ampliar a palatabilidade ou aceitação pelo paladar para a maioria da população. Entretanto, sua agressividade danifica os processos que sinalizam o apetite e a saciedade, provocando o consumo excessivo e despercebido.

O Guia ainda recomenda que as refeições sejam feitas em horários semelhantes todos os dias e consumidas com atenção e sem pressa para favorecer a digestão e evitar o consumo desnecessário, já que os mecanismos que regulam o apetite dependem de vários estímulos e levam tempo até sinalizarem que comemos o suficiente.

Caso o diagnóstico aponte a necessidade de tratamento medicamentoso, o brasileiro pode contar com a oferta de atenção integral e gratuita pelo SUS, inclusive com a distribuição de medicamentos pela Farmácia Popular.

 

NA DÚVIDA, LEIA O RÓTULO

Não há outra maneira de saber o que se consome que não seja lendo o rótulo. Já falamos sobre isso em outras edições, mas volto a frisar que sem a leitura da lista de ingredientes é impossível fazer uma compra consciente. A ANVISA pleiteou a aprovação da nova rotulagem de alimentos no segundo semestre de 2018, mas a cruzada não encontrou solução.

As novas regras da rotulagem de alimentos é uma recomendação da ANVISA elaborado a partir da análise de modelos sugeridos à agencia e de outros adotados em outros países, com foco na inclusão de símbolos e mensagens de alerta para a alta quantidade de substancias críticas caso sejam consumidas em excesso.

As mudanças propostas dialogam com todos os tipos de produtos. A principal mudança é a inclusão de um selo de advertência na parte frontal da embalagem de alimentos processados e ultraprocessados para indicar excesso de nutrientes críticos como açúcar, sódio, gorduras totais e saturadas, bem como adoçante e gordura trans em qualquer quantidade. A sinalização busca apresentar a informação de forma sucinta, visível e compreensível para ajudar o consumidor e fazer escolhas alimentares mais saudáveis.

A diferença primordial, que talvez cause um grande impacto no consumo, será a proibição de qualquer comunicação mercadológica voltada para crianças de produtos que recebem o selo de advertência. Não serão permitidos o uso de personagens, desenhos ou brindes e nem mesmo de informações complementares como “rico em fibras” ou “0% gordura trans”, que poderiam induzir a uma imagem saudável do produto. Já ingredientes culinários passam a contar com fases de advertência com relação ao uso moderado.

O Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) ainda propõe a padronização de exibição dos elementos obrigatórios como a lista de ingredientes e a tabela nutricional, prevendo-se tamanho mínimo de letra e tipografia, fundo branco e espaçamento adequado entre os itens. Na lista de ingredientes, a proposta prevê tornar obrigatória a declaração do número total de ingredientes, tornado mais visível o grau de processamento dos produtos. Também se busca apresentar a tabela nutricional em porções reais e comparáveis em termos caseiros.

O cenário regulatório internacional se divide entre modelos interpretativos e semi-interpretativos. Os primeiros usam amplamente os selos de saúde e critérios de ranqueamento (similar ao selo de eficiência dos eletrodomésticos). Este não é o modelo preferido pela ANVISA por se tratar de uma metodologia difícil de ser elaborada, revisada, explicada e utilizada, além de não facilitar a compreensão do conteúdo nutricional do alimento, embora chamem atenção do consumidor. Já os modelos semi-interpretativos vistos nos alertas e semáforo nutricional, são de fácil visualização, permitem a compreensão do conteúdo nutricional e respeitam a autonomia do consumidor para julgar o teor nutricional do alimento. Mesmo que ANVISA e as indústrias de alimentos estejam de acordo com o uso de modelos semi-interpretativos, as propostas do setor produtivo e de outras entidades são divergentes.

Em maio de 2018 a ANVISA publicou um relatório preliminar sobre o assunto, afirmando que os modelos que utilizam alertas na frente das embalagens são os mais adequados. Os alertas defendidos pela agencia são formas geométricas pretas ou vermelhas com a informação “Alto em açucares” ou gorduras saturadas ou sódio posicionados na parte frontal da embalagem. A medida foi adotada no Uruguai. O Canadá, por sua vez, pretende adotar o sistema prevendo um benefício de 3,19 bilhões de dólares canadenses em 10 anos gralhas a uma redução de 1,5% no custo de doenças crônicas no sistema de saúde.

Em contrapartida, a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) batalha por outra forma de representação: o semáforo. Com este sistema, utilizam-se as cores verdes, amarelo e vermelho para os nutrientes críticos e suas porcentagens. Adotado pelo Reino Unido em 2006, passou por sucessivas avaliações. Ao contrário do parecer dos técnicos da ANVISA, o novo presidente se posicionou favorável ao semáforo em setembro.

Seja como for, a aprovação da medida deve acontecer em breve já que o diabetes avança no país, especialmente entre os consumidores com menor escolaridade, segundo a Pesquisa Vigitel. Na condição de consumidores, seja como diabéticos, pré-diabéticos ou longe da doença, nos cabe acompanhar e pressionar as autoridades para que possamos ter sempre as melhores e mais claras informações.

 

Alimentos in natura ou minimamente processados: Aqueles que não sofreram alterações industriais após deixar a natureza ou que sofreram alterações mínimas. Frutas, legumes, folhas, tubérculos, raízes, leite e cortes de carne.

 

Ingredientes culinários: São fabricados a partir do alimento in natura ou presentes na natureza.  Óleos vegetais, gorduras, sal e açúcar com a finalidade de temperar alimentos (nunca consumimos isoladamente)

 

Alimentos processados: Feitos essencialmente com a adição de sal, açúcar, óleo ou vinagre para aumentar o tempo de conservação do alimento. Conservantes de legumes, peixes salgados, carnes salgadas, queijos, pães, frutas em calda.

 

Alimentos ultraprocessados: Passam por técnicas e processamentos com alta quantidade de sal, açúcar, gorduras, realçadores de sabor e texturizantes. Enlatados, embutidos, congelados, preparados instantâneos, refrigerantes, salgadinhos, frituras, doces, gelatinas industrializadas, refrescos em pé, margarinas, achocolatados, etc.

 

Larissa Lucian


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