Conheço-me logo existo
Somos seres emocionais. A maneira que agimos está diretamente ligada a nossas emoções. Toda ação gera em nós uma reação emocional diferente, que interfere completamente no tipo de pessoa que nos tornamos. A compreensão de quem somos e de onde queremos chegar, vem a partir da nossa inteligência emocional. Dessa forma a Redação da Êxito conversou com a Pedagoga com pós-graduação em Psicopedagogia Marinês Ap. F. Patel, que trabalha com aula de filosofia e autoconhecimento no Centro Municipal de Educação Básica “Vereador Avelino Biscaro” de Salto Veloso, sobre a importância dessas aulas na visão de mundo e no comportamento de crianças.
O conceito de inteligência emocional foi popularizado em todo o mundo por Daniel Goleman, estudioso da área que através do livro Inteligência Emocional publicado 1968, definiu o estudo como “a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e o dos outros, de nos motivarmos e de gerir as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos”.
Para ele a inteligência emocional é dividida em cinco habilidades, sendo elas: Autoconhecimento emocional (capacidade de reconhecer as próprias emoções e sentimentos), controle emocional (habilidade de lidar com os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida), automotivação (capacidade de dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal), reconhecimento das emoções em outras pessoas (habilidade de reconhecer as emoções no outro e ter empatia de sentimentos), relacionamentos interpessoais (capacidade de interação com outros indivíduos que consegue controlar suas emoções também consegue desenvolver melhor sua inteligência. Embora existam pontos determinantes no temperamento, muitos circuitos cerebrais da mente humana são maleáveis e podem sim ser trabalhado, por isso não existe uma carga genética que define quem serão os “vitoriosos e fracassados” da vida.
Levando isso em consideração, vale frisar que é de extrema importância que a escola envolva-se no desenvolvimento emocional das crianças, afinal os benefícios serão muitos, porque a psicologia infantil já comprovou que crianças capazes de regular suas emoções tendem a ter uma capacidade maior de concentração, colocam mais esforço na tarefa, possuem níveis menores de estresse e tendem a medir conflitos de forma sensato e amena.
Pensando nisso conversando com a Pedagoga Marinês Ap. F. Patel, professora no Centro de Educação Básica “Vereador Avelino Biscaro” em Salto Veloso que atua com aulas de filosofia e autoconhecimento. Como profissional na área, possui cursos junto ao projeto “EDU Coração” assim como na área de Biopsicologia. Atua como instrutora de Yoga na Educação de pequenos Yogis, além de ser Massoterapeuta, DeekshaGiver e ter formação em Reiki nível III e florais de Sant German.
Como você analisa a percepção das crianças sobre seus sentimentos e sobre os sentimentos dos outros?
Ao pensar em crianças, pensamos em doçura, alegria, esperança, pureza. São seres em crescimento físico, emocional e espiritual. Suas necessidades são específicas e singulares. São bombardeadas pelas tecnologias, muitos estímulos aos quais as deixam agitadas, ansiosas e inquietas muitas vezes sem condições de lidar com seus próprios sentimentos e sem tolerância para com os sentimentos dos outros.
Por que o autoconhecimento é importante no desenvolvimento das crianças quanto seres humanos?
O desenvolvimento do ser humano vem acompanhado por fases, sendo todas elas muito importantes e com características próprias. Essas fases vêm carregadas de aprendizado e conhecimento desde a fase do aprender a respirar sozinho, a se alimentar, engatinhar, balbuciar as primeiras palavras, caminhar. Vão crescendo, fazendo a transição da infância para a adolescência, muitas inquietações/transformações, fase de conflitos consigo mesmo e com os outros e muitas vezes as famílias não sabem lidar com essas situações, então é importante que a escola proporcione momentos de autoconhecimento para que quando as crianças chegarem nessa transição, saibam lidar principalmente com as mudanças de seu corpo. Precisamos pensar nelas, acima de tudo como seres sociais.
Como esses ensinos são implantados na escola? Quais os métodos?
São implantados através de projetos, como por exemplo o projeto “EDU CORAÇÃO” que consiste em ensinar/educar com o coração. É olhar para o aluno/criança com os olhos, mas também com o coração, procurando entender ou captar quais são suas necessidades no momento. Quando olhamos com os olhos do coração conseguimos adentrar em seu ser perceber como está se sentindo, como está seu emocional.
Semanalmente os alunos participam de uma aula de 45 minutos, dos quais são realizadas várias vivências de autoconhecimento, cito aqui alguns que considero de suma importância: exercícios de Biopsicologia associados a respiração consciente, os quais atuam nas glândulas endócrinas responsáveis pela secreção hormonal que se encontra acelerada na pré-adolescência, trazendo equilíbrio: A automassagem que leva a criança a dar uma atenção especial ao seu corpo sentindo respeito, carinho e acima de tudo aprender a ser grato pela perfeição que é o seu corpo; A automassagem tem inúmeros benefícios principalmente para a criança que permanece por muito tempo sentada na sala de aula: Alívio das tensões musculares, alívios das tensões emocionais, estimula os terminais nervosos, estimula a circulação sanguínea e o sistema linfático; Respiração consciente, relaxamento e meditação que consiste em desfrutar das maravilhas do silêncio, aquietar o corpo e acalmar os pensamento. Esse conjunto de ações faz com que a criança entre em sintonia consigo mesma, aliviando na concentração, ajudando a lidar com sentimentos de medo, raiva e frustração.
Você acha que a crianças precisam apender sobre responsabilidades e inteligência emocional, para crescerem menos frustradas e mais preparada?
Aprender sobre valores e virtudes e ensinar com diálogo e exemplo continua sendo dever dos pais, porem sabemos que devido a desestruturação em que as famílias se encontram atualmente nem sempre isso acontece. Cabendo então à escola não é ensinar, mas estar sempre reforçando a importância da honestidade, humildade, tolerância, empatia, a responsabilidade para que possam seguir a vida com menos frustrações e mais sucesso e realização pessoal. Depois cabe a cada um escolher o caminho a seguir sabendo que para cada “ação há uma reação”. É importante que saibam que quanto maiores forem, maior serão suas responsabilidades.
Existem uma mudança de comportamento e percepção dessas crianças quando começam a apender sobre estas questões?
Hoje me sinto muito feliz e realizada de estar plantando essas sementes no coração de muitas crianças com a certeza de grande colheita. A colheita que desejo é que cresçam pensando mais em “SER” do que “TER”, diminuindo assim as decepções e frustrações, tornando-os em jovens/adultos mais alegres, pensantes e reflexivos. Essa é a mudança que esperamos. Sempre compartilho com meus alunos um conhecimento que adquiri a muitos anos e que virou rotina na minha vida. Sempre que vejo algo na vitrine e desejo comprar, antes de entrar na loja me pergunto: Eu preciso ou eu quero? Se eu somente quero então nem entro, pois eu não preciso. Isso nos impulsiona a pensar que não precisamos de acúmulos para viver, o que precisamos é valorizar e ser feliz com o que temos. Só assim aprenderão a lidar com decepções e frustrações.
Eles são ensinados/incentivados a externalizar sentimentos e conversar sobre com os familiares, professores e amigos?
Quando o conhecimento é internalizado e passa a fazer parte de sua vida a externalização acontece de forma natural.
Como a empatia é abordada e ensinada?
A empatia deve ser iniciada em casa, na família desde muito cedo e posteriormente complementada na escola. É importante que as crianças aprendam a lidar com as emoções, sendo elas positivas ou negativas. Ensinar empatia implica em fazer com que a criança, diante de um conflito, seja aconselhada a entender o que levou o outro a tomar tal atitude ou ter tal comportamento e se colocar no lugar do outro antes de agredi-lo e julgá-lo, fazendo-o entender que um comportamento agressivo não é legal, que não faz bem a ninguém e não deve ser repetido. Porém nem sempre nós educadores vamos estar presentes em seus conflitos, então costumo ensinar a eles nesses momentos, que uma terceira pessoa deve ser o soldadinho da PAZ e apaziguar a situação. A empatia é uma forma de nos ligar uns aos outros, sentir o que a outra pessoa está sentindo. Ensinar a empatia na escola e estar preocupado com o desenvolvimento do indivíduo como um todo e acima de tudo como sendo um ser social, proporcionando uma melhor relação dele com os colegas dando espaço para pôr em pratica o diálogo, a cooperação, solidariedade, a compreensão.
Você observa se os pais e comunidade compreendem a importância de falar sobre sentimentos?
Acredito que sim. Muitos pais até vem a escola pedir para que isso seja feito porque muitas vezes eles nem sabem como abordar tais assuntos. Atualmente e infelizmente percebo que o pais estão sentindo grande dificuldade de dialogar com a adolescência, muitos preferem dar mais atenção aos “amigos” do que os familiares. Precisamos resgatar isso. Sempre digo isso a eles que, os nossos, melhores e mais verdadeiros amigos e que nunca vão nos abandonar são nosso pais. Então procura ajuda-los a valorizar seus familiares, conhecer a si mesmos e a lidar com seus conflitos. Isso é muito importante para o desenvolvimento emocional e mental. Sempre me coloco a disposição dos nossos alunos não só como educadora, mas como amiga, que está sempre disponível e disposta a orientá-los, tirar suas dúvidas, enfim, para dialogar dentro e fora da escola. Eles precisam confiar em pessoas de bem que os conduzam no caminho do amor.
Ainda existem dificuldade de implementação das competências de inteligência emocional no sistema educacional brasileiro. Seja por falta de tempo dentro da rotina escolar ou até mesmo pela falta de conhecimento sobre essa nova temática, porém aos poucos e com muito incentivo as instituições de ensino vêm tentando abrir espaço para o desenvolvimento dessa área. Pesquisas comprovam que há redução de casos de bullying em ambientes em que se trabalham essas competências. Os aspectos cognitivos do aprendizado escolar também apresentam melhoras visíveis, já que os alunos passam a lidar melhor com frustrações e dificuldades de aprendizagem.
COMENTÁRIOS