Do sertão para a pole position
O sonho era antigo. Andar, correr ou competir com algo relacionado ao automobilismo era um sonho de Rafael Possenti. A paixão pelos carros conduziu sua trajetória até o acesso ao primeiro kart aos 20 anos. Desde então, o sonho deu espaço à realidade em que as competições automobilísticas fazem parte da sua vida.
Do primeiro kart aos 20 anos até a vitória em Interlagos, Rafael Possenti conviveu com uma escolha: seguir em frente. "Consegui acesso ao kart em Caçador, onde fui muito bem acolhido pelo pessoal do kartódromo. Eles me ensinaram muito e indicaram a possibilidade de iniciar essa nova fase da vida competindo em capeonatos amadores e profissionais durante três anos", conta. Ao entrar em contato com a categoria de corrida com carros, Rafael teve certeza de que o seu futuro estava traçado. "Consegui comprar um carro de corrida, era um Gol já pronto para corrida que pertencia a um amigo, Rafael Balestrin, que já corre há muito tempo, e em 2020 deixei certo que ia correr. Tinha tudo pronto: carro, equipe, apoiadores... e veio a pandemia", lembra Possenti. Com a suspensão dos eventos, o ano de início da nova fase teve apenas uma corrida.
Mas se o piloto não tinha desistido ainda, não seria naquele momento que o sonho perderia força. Em 2021, Possenti participou da categoria Turismo (considerada a porta de entrada no automobilismo de competição de alto nível, cujas classes A e B são destinadas a pilotos iniciantes e intermediários, e a Super para competidores de nível avançado e profissional) nas oito etapas do campeonato no Paraná. "Estava muito perdido nas primeiras corridas" recorda, "porque o carro é muito diferente do kart, mas fui pegando o jeito até que nas últimas corridas estava disputando na ponta. Nas duas últimas corridas já tinha conseguido a pole position, ganhando a melhor volta. Foi quando percebi que estava preparado para correr em um campeonato maior".
Entre um campeonato e outro, porém, há que se continuar vivendo. Fora das pistas, a combinação entre a corrida profissional não remunerada e o trabalho do dia a dia é um equilíbrio tênue. "Não temos tempo para treinar com o carro, então normalmente treino com um simulador de corrida. Já nos dias de corrida, também não há muito tempo de sobra, pois tenho responsabilidades na empresa e preciso estar presente. Apesar disso, é importante ressaltar que é possível equilibrar tudo e viver essa experiência do automobilismo mesmo morando longe das grandes cidades, como é o nosso caso. As corridas tem um intervalo de tempo interessante entre si, o que nos permite manter a agenda bem organizada com os compromissos profissionais", ressalta Possenti.
Apesar da dificuldade do tempo, ele não é o maior vilão dessa história. Possenti explica que a pior parte para conseguir acesso às corridas é a financeira, pois a conta final é bem pesada para quem não tem apoio. Segundo o piloto, os custos de um final de semana de corrida giram em torno de R$ 5.000 a R$ 7.000 para o kart; de R$ 7.000 a R$ 10.000 para campeonatos estaduais de carro ; e de R$ 12.000 a R$ 15.000 na categoria Gold Turismo, com pilotos profissionais em que corre atualmente.
No início de 2022, Possenti foi convidado para participar do campeonato Gold Turismo, junto com os melhores pilotos do Brasil na categoria. "Cheguei com um pouco de medo, pois as pistas eram diferentes e o nível dos oponentes mais alto. Porém, minha equipe Roger Preparações, de Itajaí, deixou o carro impecável. Some isso ao meu preparo e o resultado foi a vitória nas duas primeiras corridas em Interlagos", conta. Nas etapas seguintes, com uma preparação ainda maior e, desta vez, mais conhecimento da pista, Possenti conseguiu largar na primeira posição em quase todos os treinos. Na corrida, liderou a primeira prova inteira, porém teve a infelicidade de receber uma punição por queima de largada, o que o fez terminar a prova na terceira colocação. Já na segunda etapa, um pneu furado no início da corrida decretou sua permanência no meio do pelotão. "Não dá pra desanimar. Agora estou me preparando para a próxima etapa, que será em Cascavel (PR), com o intuito de manter a liderança do campeonato", projeta.
Ganhar uma corrida, para Possenti, é o resultado de um processo de preparação que começou muito antes da demonstração na pista. Mas ganhar em Interlagos logo na primeira vez que correu na pista não tem preço ou explicação. "A maioria das pessoas que curtem automobilismo, nem que seja um pouco, ou que já acompanharam algo sobre a Fórmula 1, tem vontade de conhecer Interlagos. Ela é a casa da F1 no Brasil, o principal autódromo da América do Sul. É muito emocionante correr na pista por onde já passaram os meus maiores ídolos, na casa do Ayrton Senna", explica o piloto.
Para além dos planos de correr a próxima etapa em Cascavel, Possenti ainda estuda a possibilidade de dar um passo ainda mais ousado: correr a Mercedes-Benz Challange. A categoria é uma das principais do país no momento, com transmissão pela televisão, exclusiva para carros da marca. Enquanto busca patrocinadores para concretizar o novo desafio, o piloto não deixa de treinar.
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