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1899 X Black Silence: plágio, inspiração e limites


A série 1899 sagrou-se como a mais vista da Netflix em 55 países no último domingo, 20. Produzida pela roteirista de Dark, também virou polêmica quando uma autora e quadrinista brasileira acusou a Netflix  de copiar seu conteúdo.

Em um doloroso fio no Twitter, Mary Cagnin expõe similaridades entre a série e seu quadrinho Black Silence, publicado em 2016, e apresentado à comunidade internacional em uma oportunidade única: na Feira do Livro de Gotemburgo, a maior cena cultural do livro e da biblioteca nos países nórdicos a convite da Embaixada Brasileira em 2017.

 Na época, Mary participou de paineis, deu palestras e falou sobre seu livro para pessoas influentes da área, além de distribuir exemplares traduzidos em inglês para editores e pessoas do ramo. Logo, não é difícil traçar um caminho para a existência de uma influência, para dizer o mínimo.

Mas existem similaridades mesmo?

Sim.

Na obra da brasileira, uma equipe de astronautas é convocada para fazer reconhecimento de um planeta que pode ser a única chance de sobrevivência dos seres humanos. No planeta, uma pirâmide negra. Na nave, uma tripulação multinacional, mortes, coisas estranhas e símbolos nos olhos dos personagens. Escritas em códigos, vozes chamando, tudo está na série e está nos quadrinhos.

Mas você pode pensar: eu já vi um montão de séries com esses elementos, por que seria uma cópia agora?

Porque não se tratam apenas de elementos. A interpretação da questão é mais profunda nesse caso, já que a série se aproveita do mesmo conceito, de detalhes do processo de desenvolvimento e, inclusive, usou o quadrinho como storyboard (sequência de desenhos quadro a quadro com o esboço de diversas cenas para um conteúdo em vídeo).  As coincidências são muitas e, mais importante, o padrão estético é o mesmo.

Veja só. Se eu criar uma série de superheroi em que o personagem principal usa um uniforme azul, com um losango no peito onde se pode ver uma letra e uma capa vermelha, pouco importa se a letra em questão for um S ou um L, a intenção de imitar o Superman é clara. Eu posso dizer que foi uma inspiração? Lógico que poderia, mas seria um consenso que o meu superheroi ultrapassou o limite. Quem acreditaria?

Com a obra da brasileira, embora alguns elementos tenham sido substituídos, a semelhança estética também é muito clara. Em termos narrativos, enquanto Black Silence viaja em uma nave para o espaço, 1988 fica na Terra, em um navio de imigrantes de nacionalidades diferentes à caminho de NY, esperançosos por uma nova vida em uma terra distante. No caminho, se deparam com outra embarcação que havia sumido meses antes e um grande mistério para resolver.

Os autores da série negam as acusações de plágio, afirmando desconhecer a existência da obra brasileira até ontem, quando o caso viralizou na internet. Segundo eles, a ideia da série veio

Outros casos de "inspiração"

Secos e Molhados X KISS

Se você viveu os anos 1970 certamente se lembra da maquiagem usada pela banda Secos e Molhados: uma forte base branca e olhos e lábios ou parte do rosto destacada com formas em preto. A banda de Ney Matogrosso abusava da maquiagem pesada três anos antes do lançamento da banda americana Kiss, igualmente popular por sua maquiagem pesada com fundo branco e destaques em preto.

Especula-se que um produtor teria tentado levar a banda brasileira aos EUA, mas não teve sucesso. O mesmo produtor, porém, estaria envolvido no início da carreira da banda Kiss.

Rod Stewart X Jorge Ben Jor

Em 1978, o hit de Rod Stewart "Da Ya Think I'm Sexy?" tem seu ponto alto uma referência bastante clara ao hit brasileiro "Taj Mahal" de Ben Jor. O brasileiro abriu um processo e o britânico reconheceu o plágio, chegando a um acordo amigável.

Gotye X Luiz Bonfá

Em 2012, "Somebody that I used to know" tocava sem parar nas rádios usando duas notas de "Seville", lançada pelo violonista brasileiro Luiz Bonfá em 1967. A família entrou com um pedido e Gotye concordou em pagar royalties.

Adele X Toninho Geraes

Em 2021, a música "Million Years Ago" do álbum de retorno de Adele chamou a atenção pela semelhança com a popular música "Mulheres", famosa na voz de Martinho da Vila. Duas notificações extrajudiciais foram enviadas à cantora e ao outro compositor. A gravadora e o grupo Sony Music também estão cientes.

As aventuras de Pi X Max e Os Felinos

O livro de 2001 "Life of Pi" escrito pelo canadense Yann Martel, e que virou filme 2012 é um plágio do livro brasileiro "Mas e Os Felinos", escrito pelo gaúcho Moacyr Scliar, lançado em 1980 no Brasil e em 1990 no Reino Unido.

 

O livro ganhou o Prêmio Man Booker em 2002 e o filme faturou uma série de prêmios do Oscar, ao Globo de Ouro. Posteriormente, Martel admitiu ter se baseado na mesma premissa do livro brasileiro e inseriu uma nota de agradecimento no prefácio da obra.

 

A prática parece ser comum, mas espera-se que a artista brasileira de Black Silence seja reconhecida artistica, intelectual e monetariamente.


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