Celíacos: quem são?
Ela possuí alguns sintomas claros e outros que não seriam relacionados a ela, sem conhecê-la. Tem relevância no sistema digestivo, no processo de aprendizagem, interfere no sono e no desenvolvimento do organismo e absorção dos nutrientes. É uma doença autoimune e é muito confundida com uma intolerância. A doença celíaca está entre os assuntos mais populares da atualidade relacionados a alimentação, porém ainda existem muitas dúvidas acerca dela e da sua verdadeira história. Vem aprender com a gente.
Quando eu ainda era um bebê e a introdução alimentar começou a ser realizada pela minha mãe, ela notou que eu passava muito mal quando ingeria alguns alimentos. Eu tinha dores de barriga constantes e sofria bastante. Chorava dia e noite e não tinha sossego. Ela me levou ao pediatra, que não conseguiu descobrir de forma alguma o que acontecia comigo. Fosse por negligência, falta de conhecimento técnico e até mesmo por falta de informação sobre tal doença, que há 25 anos ainda era pouco estudada e difundida.
Eu fui crescendo e as dores de barriga e estômago sempre foram uma constate na minha vida. Quando eu tinha 11 anos, era um tiquinho de gente comparada aos meus colegas de classe. Tinha pouco mais de 1,30 metros e pesava uns 50kg. Sim, assustador! Muito pequena e muito gorda. Minha mãe começou a se preocupar de fato nessa época. Acabou trocando de pediatra e essa por sua vez, nos encaminhou a uma endocrinologista, essa nos explicou sobre doença celíaca e idade óssea e nos pediu um exame chamado antiendomísio e voilá, ali estava ela que ficou desconhecida por anos incomodando meu pobre sistema digestivo, a doença celíaca.
A primeira coisa que precisa ficar clara é que a doença celíaca ocorre por conta de uma predisposição genética. Se algum membro próximo da sua família tiver, as chances de você ou seus filhos adquirirem essa doença é grande. No meu caso iniciou-se uma “caçada”, meu tio que sempre teve problemas digestivos e meus pais foram os primeiros a serem chamados para realizar o mesmo exame. E ficou claro que meu tio sofria da mesma condição que eu. Não descobrimos qual dos nosso tios-avós possui essa condição, mas até o momento somos três: Eu, meu tio e uma das minhas primas. Por isso sempre fique atento ao histórico de saúde da sua família, eles podem lhe ser úteis e importantes no futuro. Depois disso, eu faço uma dieta restritiva (de forma bem displicente) e acompanhamento com meu gastroenterologista de tempos em tempos, para realizar novos exames e controlar a doença.
A doença celíaca ocorre quando as células de defesa imunológicas agridem as células do organismo causando um processo inflamatório que ocorre na parede interna do intestino delgado e ocorre a atrofia das vilosidades intestinais, causando prejuízos relacionados a absorção dos nutrientes, sais mineiras e água. Essa inflamação é causada pelo glúten, uma proteína presente no trigo, cevada, centeio, aveia e malte.
A doença celíaca é dividida em três tipos:
Clássica: É muito comum na infância. Se manifesta entre o primeiro e o terceiro ano de vida, quando se introduz a alimentação. Tem como características a diarréia crônica, desnutrição, emagrecimento e falta de apetite, distensão abdominal (barriga inchada), vômitos, dor abdominal, osteoporose, esterilidade, abortos de repetição, glúteos atrofiados, pernas e braços finos, apatia, entre outros.
Não Clássica: Apresenta poucos e discretos sintomas gastrointestinais. Ocorre anemia resistente a reposição de ferro, irritabilidade, fadiga, pouco ganho de peso e estatura, obstipação crônica, manchas no esmalte dos dentes, esterilidade e osteoporose antes da menopausa.
Assintomática: Nesse caso específico, não há manifestação aparente. O diagnóstico é feito apenas com pesquisa de anticorpos em familiares de primeiro grau. A doença assintomática se não for tratada pode evoluir com complicações como o câncer do intestino, anemia, osteoporose, abortos de repetição e esterilidade.
As principais complicações relacionadas a doença celíaca são: desnutrição (como o intestino delgado não pode absorver nutrientes suficientes, a desnutrição pode levar a anemia e perda de peso); perda de cálcio e densidade óssea (a má absorção de cálcio e vitamina D pode levar a um amolecimento dos ossos relacionados ao raquitismo e osteomalácia em crianças e osteoporose em adultos); infertilidade e aborto (a má absorção de cálcio e vitamina D pode contribuir para problemas reprodutivos); intolerância a lactose (um intestino delgado danificado pode causar dores abdominais e diarréia após a ingestão de laticínios que contêm lactose, mesmo esses tendo a ausência de glúten); câncer (celíacos que não seguem a dietade forma correta correm um risco muito maior de desenvolver várias formas de câncer); problemas neurológicos (alguns celíacos podem desenvolver problemas neurológicos como convulsões ou neuropatia periférica). Em crianças a doença pode levar a falta de desenvolvimento, retardo da puberdade, perda de peso, irritabilidade e defeitos do esmalte dentário, anemia, artrite e epilepsia. Além dos sintomas clássicos da doença celíaca, ela está associada a alguns problemas respiratórios, a perca recorrente de cabelo, diminuição do apetite e lesões na pele.
O cuidado com as dietas restritivas é muito importante e gera grande diferença na vida do celíaco. Porém, você conhece a contaminação cruzada? Se classifica como a transferência de micro organismos de um ponto a outro no ambiente. Fatores como higiene local, pessoal, material e processos de armazenamento e operação ajudam a evitar essa contaminação.
Existem maneiras de evitar a contaminação cruzada: peça para que todos as pessoas que convivem contigo lavem e limpem muito bem os utensílios domésticos e evitem colocar seus alimentos próximos aos que você vai consumir, seja na geladeira ou despensa; tente separar os ambientes onde seus alimentos sem glúten serão preparados; procure ter utensílios e equipamentos de cozinha exclusivos; não utilize garfos, facas e colheres para manusear alimentos com e sem glúten e lave-os muito bem antes de usar; antes de preparar suas comidas sem glúten armazene todos os itens que contenham farinhas com glúten, pois sua poeira pode contaminar alimentos, bancada e utensílios (não é exagero, as partículas do trigo podem ficar até 24 horas em suspensão no ambiente); evite fritar alimentos sem glúten ao mesmo tempo e no mesmo óleo, que alimentos com glúten; busque ter produtos exclusivos em casa como a manteiga, pois ao compartilhá-los com os demais integrantes da casa a possibilidade de contaminação por resíduos de glúten aumenta; fique atento aos rótulos e priorize produtos frescos ou muito bem embalados na fábrica e perceba as instruções quanto aos traços de glúten.
Não caiam no mito de que o celíaco pode ingerir glúten em pequenas quantidades. Uma pequena porcentagem do produto já é muito prejudicial ao organismo. Evitar o glúten não significa só abrir mão de alguns produtos, mas é ficar atento a rotulagem de todos os produtos. Frisamos o quanto é importante realizar acompanhamento médico e nutricional, esses profissionais podem ajudar a identificar quais alimentos não contém glúten e a planejar uma alimentação saudável e equilibrada sem essa proteína.
A doença celíaca é uma condição autoimune, por isso ela pode ser apenas controlada e não curada. Os celíacos devem evitar de forma completa e permanente a ingestão de alimentos com glúten, afinal mesmo que a doença esteja controlada, se a proteína for introduzida novamente à alimentação o intestino voltará a sofrer danos e inflamações, piorando o quadro do celíaco.
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