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Gestão e foco no esporte


Esportes tradicionais e e-sport precisam de foco de todos os envolvidos e de muita dedicação para alcançar os resultados. 

"Depois eu falo com vocês" Essas foram as palavras de Bárbara Micheline do Monte Barbosa, a goleira do Kindermann e da Seleção Brasileira Feminina de futebol. Longe de ser uma atitude ruim, o ato de não falar com a imprensa durante o treino se chama foco.

Essas foram as palavras de Bárbara Micheline do Monte Barbosa, a goleira do Kindermann e da Seleção Brasileira Feminina de futebol. Longe de ser uma atitude ruim, o ato de não falar com a imprensa durante o treino se chama foco. E foco é algo muito presente na equipe do Kindermann. Ficamos assistindo ao treino por algum tempo, sob um sol escaldante que não impediu as atletas de jogar. Nós, que trabalhamos no ar condicionado, procuramos a sombra para admirar as defesas das goleiras e os passes das atacantes antes de poder conversar com as atletas.

A trajetória da equipe amarela e preta soma vitórias expressivas e aponta para uma grande promessa no cenário da bola. Mas como em qualquer outro segmento, só funciona bem porque possui uma gestão estruturada nos bastidores. O negócio esportivo (ou sport business, se você prefere falar em inglês) é uma indústria que movimenta enormes quantias todos os anos e cuja receita superou os R$ 100 bilhões entre 2016 e 2017. Mas esses números não acompanham todas as categorias e não garantem, sozinhos, a equidade entre os clubes ou dentro dos clubes. Esse fator é garantido com o comprometimento de todos os envolvidos no fortalecimento da equipe que vai para o campo. Em resumo, um time de futebol é muito mais do que 11 jogadores e um técnico.

Antes de mais nada, vamos voltar ao básico e lembrar que a equipe que entra em campo só consegue fazê-lo porque existe uma equipe que a acompanha e trabalha ativamente. Falamos além dos fisioterapeutas, nutricionistas e preparadores físicos: existem os pedreiros que constroem as instalações, fornecedores, empresários responsáveis pela gestão de carreira individual, assessores de marketing, publicitários, assessores de imprensa, advogados especializados em direito desportivo, comissão de arbitragem, dirigentes e apoiadores, que somam uma grande massa capaz de lotar um estádio e estremecer as estruturas com o grito de gol. Em Caçador, a trajetória do Kindermann teve início em 1997 com a modalidade masculina, passando pelo time feminino de futsal em 2004 e, por fim, para a modalidade de futebol feminino em 2008.

“Desde o início, o Kindermann demonstrou que seria um time de referência em Santa Catarina. No ano de estreia do feminino já conquistamos o Campeonato Catarinense e representamos Santa Catarina na Copa do Brasil, chegando até as semifinais. Até 2015 fomos a liderança do Campeonato Catarinense Feminino e retomamos o ouro em 2017. A missão de ser a melhor equipe do país começou com a busca para ser a melhor do Estado. Isso é planejamento. O futebol exige planejamento para que você atue com clareza. Além disso, você precisa cuidar bem das atletas para que elas permaneçam no time” explica o fundador da Associação Esportiva Kindermann, Salézio Kindermann.

Cuidar bem das atletas, no estilo mais paternal da expressão, significa proporcionar boas condições de vida para que elas possam se dedicar exclusivamente ao futebol. Por isso não nos espanta ver que algumas atletas não dão entrevista durante o treino, pois, tal como nós, elas estão trabalhando. “Nós fazemos um investimento nas atletas, pois elas são profissionais. Elas recebem tratamento profissional e o trabalho é muito sério. Ele precisa ser sério para se manter no mercado. Quando falamos de futebol, falamos de altos investimentos e de uma estrutura muito cara para que os jogos aconteçam. Não é barato receber uma equipe de arbitragem aqui em Caçador e a Federação, muitas vezes, envia árbitros de muito longe com um custo alto de deslocamento. Também sabemos que ainda não podemos contar com a receita da bilheteria, então se o trabalho não for sério e transparente, com um grande aporte financeiro, nenhum time consegue se manter por muito tempo. O Kindermann já soma praticamente 15 anos de história em Caçador e se mantém porque tem uma gestão séria e eficiente e porque cuida das atletas como uma família. Todas as atletas possuem acompanhamento médico, um bom alojamento, alimentação adequada e outros cuidados que necessitam. Também temos um diferencial que são as bolsas de estudo para graduação na Universidade do Alto Vale do Rio do Peixe, com acompanhamento direto de um Auxiliar Universitário, responsável por alertá-las sobre os documentos necessários para conseguir bolsa e incentivar o ensino. Assim, elas recebem mais um auxílio para suas carreiras”, aponta Salézio.

Estrutura e relacionamento entre a equipe e dirigentes tem sido parte da receita para atrair e reter talentos na equipe caçadorense. Das 23 atletas, não é difícil encontrar quem já teve mais de uma passagem pelo Kindermann ou desejava defender as cores da camisa. A volante e meia Julia Bianchi, de 20 anos, é um exemplo claro. “Eu queria ser atleta desde pequena, sempre gostei muito de esportes com bola e comecei no Kindermann aos 13 anos jogando pelo time de futsal. Como sou natural de Xanxerê, meus pais me acompanharam bastante, vieram conhecer a estrutura e deram muito apoio. Depois de cinco anos em Caçador, fui jogar no Centro Olímpico e passei outros dois anos no Ferroviária antes de jogar no Madrid CFF (Espanha) durante um ano. Por que eu voltei para o Kindermann? Porque aqui nós somos uma família e temos um estilo de jogo que eu gosto muito, pois prioriza o passe e as jogadas”, conta a atleta, cuja experiência ainda soma a conquista do Campeonato Sulamericano Sub-17 e Sub-20 com a Seleção Brasileira, o título de Campeã da Libertadores da América, Campeã Mundial Universitária e outros.

Julia, tal como outras atletas, ainda vê um grande caminho a ser percorrido pelo futebol feminino. “Eu tenho gestão de carreira, conheço meninas que também tem algum empresário e tal, mas sinto que algumas vezes a prioridade deixa de ser a carreira da atleta para se tornar uma disputa entre os próprios empresários. Isso é ruim. Na verdade, deveria ser o contrário e a atleta deveria ser colocada em primeiro lugar. Isso existirá em qualquer modalidade, tanto no masculino, quanto no feminino. Eu acredito que o feminino tenha um crescimento maior agora e mais visibilidade em função de todas as decisões da FIFA, Conmebol, Profut e CBF”, esclarece Julia.

Com diversos sotaques, a equipe preta e amarela abriga em Caçador mulheres de todas as partes do país, com passagem por muitos clubes diferentes. Entre as falas diferenciadas, ganha destaque a cautela de Kirara Fujio, a japonesa que ingressou no time em 2019 e que ainda não domina o português. O que ela domina é a bola e presumimos que é isso o que importa por enquanto. Aos 20 anos, a jogadora iniciou a carreira no Japão aos cinco anos e desembarcou no Brasil em 2017 para jogar no Sport Club Recife. A opção pelo Kindermann veio depois de jogar contra a equipe e gostar do ritmo de jogo.

“O Kindermann está crescendo, é claro. Temos um cenário favorável no momento, com o incentivo da FIFA ao futebol feminino e à ampliação do número de mulheres nos comitês das associações e também da própria Federação. Em 2019, entra em vigor a regra da Conmembol que exige que os clubes interessados em disputar suas competições tenham investimentos em torneios femininos. Ao mesmo tempo, a CBF tornou obrigatório que clubes da Série A tenham participação em competições femininas. É possível que os times da Série A, por exemplo, se associem aos clubes que tenham equipes femininas formadas. Essa regra tornou possível uma parceria entre o Kindermann e o Avaí para o futebol feminino, que pode nos dar um grande investimento financeiro para melhorias e manutenção da equipe, além de mais destaque para as atletas”, pontua Salézio.

 

DOS CAMPOS PARA A TELA 

 

Se a indústria do futebol teve uma movimentação significativa, o mercado dos games não deixa a desejar. O e-sport movimentou US$ 1,5 bilhão em 2018, uma cifra 15,3% maior do que a movimentação do ano anterior, segundo dados da Newzoo. Com uma história mais recente, a indústria de jogos eletrônicos teve início entre as décadas de 80 e 90, com o lançamento de games clássicos como Super Mario Bros, Sonic, Castlevania, Metroid e outros. Quem nunca se aventurou pelo mundo do encanador de bigode talvez não consiga compreender como esses jogos foram revolucionários, mas a maioria de nós com certeza não duvida do seu potencial.

Foi em meio a esses games clássicos que Mateus Lazzari Bellozupko viu despertar o interesse pela área. “Aos 11 anos, pedi aos meus pais um console de vídeo game como presente de aniversário. Na época, o Super Nintendo tinha sido recém lançado. Porém, para o meu desgosto, ganhei um computador ao invés do console. Não sabendo muito o que fazer com ele, descobri que poderia instalar jogos utilizando disquetes. Logo, o computador estava cheio de jogos e alguns deles tinham editores de fases. Essa foi a primeira vez que tive um vislumbre de como funcionava o desenvolvimento de um jogo”, conta Mateus.

Atualmente, o bacharel em Ciências da Computação pela Open University atua com arquitetura e desenvolvimento de software e é o CEO da Bellosoft, empresa com operações no Brasil e Reino Unido. Depois de participar de campeonatos de Counter-Strike na adolescência, Mateus começou a desenvolver jogos como um hobby. “Tenho muitos anos de experiência nas áreas de arquitetura e desenvolvimento de software, e mesmo tendo a curiosidade e vontade de produzir jogos, isso só se tornou viável há alguns anos. Veja, hoje temos Game Engines disponíveis como Unity3D e Unreal. Uma Game Engine é um software que auxilia na criação de jogos da mesma forma que o Word auxilia a criação de textos e o Excel cria planilhas. A Game Engine auxilia a organização do código, a renderização 2D e 3D, entre outros. No passado, para desenvolver um jogo, era necessário criar a sua própria Game Engine, pois o custo de compra de uma era muito alto e somente grandes estúdios tinham possibilidades de comprar. Hoje, é possível desenvolver um jogo com ferramentas gratuitas ou de baixo custo, o que tornou o mercado acessível para muitas stratups e estúdios de pequeno porte. Aqui na Bellosoft utilizamos o Unity3D como principal ferramenta no desenvolvimento de jogos”, explica.

Mas o caminho entre ser fã e se tornar um desenvolvedor não é nada simples. Tal como no futebol, em que o mero gosto pelo jogo não é suficiente para formar um atleta, o mundo do e-sport também exige altas doses de dedicação, estudo e comprometimento. “O mercado de e-sports, mesmo tendo um potencial gigantesco, ainda é pequeno em comparação com outros esportes. Com exceção de alguns poucos jogadores, é muito difícil trabalhar profissionalmente nessa área e conseguir viver somente com o dinheiro proveniente de campeonatos e patrocinadores. Meu conselho para aspirantes seria investir em uma segunda profissão, mas nunca desistir do sonho. Não é fácil conciliar estudos, trabalho e nossos sonhos, mas na vida, nada que valha a pena acontece facilmente”, orienta Mateus.

O melhor aliado do gammer ou desenvolvedor é, sem dúvida, o planejamento. O início da carreira de um gammer não passa longe de muito treino e da disputa de campeonatos pequenos para que haja aprendizado e desenvolvimento da autoconfiança. Ao progredir nos campeonatos, pode-se vislumbrar oportunidades de patrocínio e a participação em times do game escolhido. Alguns times de futebol como o Santos (incluindo equipe feminina), Flamengo, Vitória, Athlético Paranaense, ABC Futebol Clube, Bragantino, Rio Branco – ES e Vasco da Gama também formaram equipes para disputar campeonatos como o CBLoL, o FIFA, Counter Strike, entre outros. O catarinense Avaí fechou uma parceria com a equipe Jimmy e-Sports em 2017 para disputar torneios de LoL, Hearthstone, FIFA 18, PES, PUBG e Magic cuja gamming house ou centro de treinamento dos e-atletas fica dentro do Estádio da Ressacada, na capital. “Existem empresários para atletas de e-games, mas não na mesma proporção que existe para os esportes tradicionais. Entretanto, algo que existe somente nos e-sports, porém, é que jogadores fazem streaming de suas partidas no YouTube ou Twitch e assim conseguem rentabilizar suas partidas. Alguns até conseguem uma boa soma com streaming. É claro que é interessante participar de campeonatos locais. Em Videira, por exemplo, a Inventário Games promove campeonatos e workshops para incentivar o e-sport na região”, diz Mateus.

Começar com circuitos estaduais é uma excelente alternativa para os novos gammers. Mas para os desenvolvedores, as dicas são diferentes. Mateus destaca que o maior erro que um estúdio ou desenvolvedor solo pode cometer é tentar criar um jogo maior e mais complexo do que a sua capacidade, pois “na hora da concepção de um jogo, é muito fácil estimar incorretamente o tamanho do projeto, o que muitas vezes faz com que o jogo nunca seja concluído. Uma regra universal para quem está começando é desenvolver jogos muito pequenos, como variações de Tetris, Pacman ou o mais recentre Flappy Bird. Após a criação de dezenas de jogos pequenos, daí sim é possível começar a planejar jogos de médio porte. É sempre bom lembrar que jogos AAA, como os do Xbox e Playstation, são normalmente desenvolvidos por centenas de pessoas e tem milhões de dólares de orçamento”.

No e-sport ou no esporte tradicional, atletas e gammers, equipe técnica e desenvolvedores tem algo em comum: foco no resultado.

 


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