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Se você andou pela sua cidade sem esbarrar em pelo menos uma barbearia vintage, sua cidade está na década passada. Nos últimos anos, as barbearias explodiram pelo país com uma releitura da proposta antiga em que barbeiros faziam a barba e o cabelo, com toalhas quentes e navalhas. Com o Brasil em segundo lugar no mercado da beleza mundial, a expectativa é que o segmento de moda masculina alcance um faturamento global de U$ 78,6 bilhões em 2023.

Manhã de sábado e os clientes começam a chegar na Barbearia Estilo Moderno, localizada na cidade de Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Trata-se de um local espaçoso com quatro cadeiras para clientes, sofás, um aparelho de televisão, geladeira com algumas cervejas e uma mesa redonda para seu consumo. Há ainda, nas paredes, uma série de cartazes e fotografias emolduradas que comunicam uma perspectiva de masculinidade, como, por exemplo, a fotografia em um close da face de um leão. Enquanto alguns dos clientes são atendidos pelos três profissionais em três das quatro cadeiras, os demais aguardam sua vez sentados nos sofás. O televisor é usado tanto para filmes como também para a reprodução de músicas, ao mesmo tempo que a interação acontece entre todos os presentes.

É assim por aqui e na sua cidade com certeza existem um ou mais locais semelhantes. Isto porque as barbearias cresceram, mudaram e atraem cada vez mais pessoas.

Felipe Castro, 23 anos, atua no ramo de barbearia há 6 anos, destaca que a barbearia já tem um público-alvo de clientes e por isso, pode direcionar sua atenção às formas de fazer esse cliente se sentir confortável. “Muitas vezes o cliente vem para cortar o cabelo, mas chega antes para passar a tarde inteira conversando”, revelou.

Trabalhando na cadeira ao lado, Alisson Luiz de Moura, 22 anos, pontuou que neste mercado bastante concorrido alguns pontos são pilares para se manter em atuação: qualidade do serviço, propaganda e ambiente.

Ter um espaço confortável e agradável para o público é uma certeza de que os consumidores vão voltar não só para cortar o cabelo e fazer a barba, mas também para desfrutar do local. “Quando se aumenta a quantidade de espaços é importante sempre inovar para se manter forte no mercado”, ressaltou.

Um dos clientes, João Pedro Rodrigues, 14 anos, já tinha ido outras vezes ao local. Ele contou que viu a barbearia no Instagram e chamou o pai para conhecer. Desde então tornaram-se clientes. “Eles cortaram bem e eu gostei daqui”, comentou.

Começo de carreira

Para muitos desses profissionais o começo na carreira acontece bastante cedo. Felipe Castro conta que a primeira cobaia foi ele mesmo, por volta dos 17 anos. Ele lembra que até aquele momento o profissional que o atendia era bom na execução, porém nunca entendia exatamente o que ele pedia, por isso, um dia decidiu pegar uma máquina que tinha em casa e cortou o próprio cabelo. “Quando cortei meu cabelo não ficou bom, mas os amigos curtiram e começaram a pedir para cortar o cabelo deles também e isso foi passando confiança”, comentou.

Mas para seguir na carreira não poderia ficar só achismo, foi quando começou a fazer cursos de formação. “O primeiro curso foi aqui no estado, mas depois a gente precisou ir fazer em outros estados para sempre se manter atualizados e à frente de outros espaços. Isso até hoje, pois sempre tem coisa nova”, revelou.

Quem também começou cedo a se interessar pela área foi a barbeira Maria Laura de Araújo Cruz, 17 anos. Apesar da idade, ela já tem a bagagem de ter trabalhado em outras barbearias. “Comecei aos 15 anos. Na época eu gostava de olhar os conteúdos no Instagram e um amigo me chamou para fazer um curso, eu decidi fazer e tomei mais gosto pela atividade”, disse.

Mulheres barbeiras

Entre os muitos homens no local, Maria Laura é uma das profissionais responsáveis pelos cortes de parte dos clientes. Ela desde que começou na carreira vem percebendo um aumento no número de barbeiras. Laura, assim como o próprio espaço, também está preocupada em se manter sempre atualizada e diversificar suas atividades, por isso, atualmente já faz cursos para outras atividades como sobrancelhas e pigmentação. “Já fui convidada a trabalhar em um lugar pois o dono fazia questão de ter uma mulher como parte de sua equipe”, comentou.

Universo Online

Para Felipe Castro, as redes sociais são o maior potencializador para alcançar novos clientes. Usar boas fotografias, bem iluminadas e estabelecer uma boa comunicação estando sempre presente é, segundo o profissional, a melhor maneira de atrair novos clientes. Ele destaca que o “boca a boca” também é importante e tem seu valor no aspecto de fidelização. “O boca a boca é mais sólido, mas enquanto ele pode trazer um ou dois, as redes sociais trazem 10”, comparou.

Influência da cultura pop

A jornalista, pesquisadora de moda e cultura vintage, Ulyana Lima, destacou que um dos pontos do crescimento de barbearias no país e também da procura por este serviço é a evolução no comportamento do homem em relação a sua aparência, bem como que o mercado da beleza e entretenimento promovam hábitos que os tornem mais vaidosos e adquirindo hábitos como cuidar da pele, do cabelo e da saúde em geral.

“Os hábitos de rotina de beleza, seja de mulheres ou homens, são influenciados pelo o que está na moda, e é aí que entra o boom das barbearias. Elas surgem no momento em que voltou com força a moda dos homens com barba”, completou.

Ulyana comenta que o que antes era um referencial estético de intelectuais ou hispter, o uso de barbas vem se tornando cada vez mais comum nos mais diversos grupos sociais. Um dos pontos que ela usa para pontuar esse resgate da cultura vintage é a constante presença nos espaços da cultura pop como moda, música e cinema.

“Um bom exemplo disso é a série Peaky Blinders. Fazia tempo que uma produção não tinha tanta influência no mercado masculino de moda e beleza. E já que estamos falando de barbearia, não tem ilustração melhor pois o cabelo dos protagonistas é a principal característica estética deles. Chamado de undercut, o corte é basicamente o raspado nas laterais e atrás. Virou febre nas barbearias e encheu o Google de tutoriais”, finalizou.

Everson de Andrade
eversonsdeandrade@gmail.com