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A missão de registrar - Marilei Sebastiana Gomes dos Santos


Ela nasceu no dia do santo e como era tradição na época recebeu seu nome em homenagem. Marilei ganhou as bênçãos de São Sebastião, o santo protetor da fome, da peste e da guerra, e embora ela não tenha lutado em uma guerra armada travou uma verdadeira batalha para unir os acervos dos Cartórios do Distrito de Lourdes e de Rio das Pedras. Agora longe das escrituras, Marilei Sebastiana Gomes dos Santos está pronta para viver uma nova aventura.

Nascida em Videira, especificamente na localidade de Rio das Pedras, Marilei teve o prazer de receber bons incentivos para estudar. Aos cinco anos de idade, em 1965, mudou-se com a família para Lebon Régis, onde foi alfabetizada e estudou no Colégio Frei Caneca. “Tenho muito orgulho de ter recebido uma formação cultural e humana inicial nesse colégio e nessa cidade. Era um colégio de freiras, na época, com ensino gratuito de excelente qualidade. De volta a Videira, estudei na EEB Professora Adelina Régis e Colégio Salvatoriano Imaculada Conceição. Também me orgulho por fazer parte da primeira turma do Curso de Direito da UNOESC Videira, cuja formatura aconteceu em 13 de dezembro de 1996”, conta. Depois da graduação, Marilei ainda fez a Escola de Magistratura, Pós-Graduação em Processo Civil e Pós-Graduação em Letras/Espanhol.

Foi durante o curso de Direito que sua vida mudou. O ano era 1994, em uma manhã de inverno em pleno mês de julho, quando a notícia de que abrira um edital de concurso para preencher duas vagas em Serventias da Comarca chegou ao seu conhecimento. Dois meses depois, Marilei assumiria a Serventia (Cartório) do Distrito de Lourdes. “O fato de assumir o Cartório foi um desafio porque coincidiu com o início do período de transição do antigo para o novo modelo de prestação dos serviços de cartório do Brasil. Eu assumi em setembro e em novembro entrou em vigor Lei Federal nº 8935, que trouxe um novo modelo para o serviço, começando pela própria denominação. Cartório, no meu caso, deixou de existir e passou se chamar Escrivania de Paz”, lembra.

Conciliar o antigo com as novidades trazidas pela Lei era uma prova diária, mas estava longe de ser a única. “Tínhamos que conquistar a confiança das pessoas. Em um trabalho como esse, devemos transmitir tranquilidade ao cliente prestando um serviço de qualidade, adequado às normas, que cumpra as exigências legais, focando sempre na segurança jurídica”, explica Marilei.

O que Marilei não sabia, ao começar seu ofício na década de 1990, era que sua maior batalha ainda estava para começar. Por acreditar que deve correr um risco proporcional ao tamanho do que se deseja alcançar, a Oficial deu início a uma jornada de mais de 10 anos de argumentação junto à Justiça e o Legislativo do Estado de Santa Catarina para conseguir promover a junção do acervo do Cartório do Distrito de Lourdes com o Distrito de Rio das Pedras. “Tornamos possível a prestação de serviços notariais e de registro civil na localidade de Rio das Pedras, facilitando a vida das pessoas do bairro. O que isso significa é que passei a fazer parte da vida das pessoas. Quando se exerce uma função que envolve os extremos de alegria e de tristeza das pessoas, não há alternativa humana senão exercer a capacidade de se unir aos envolvidos. Em muitos casamentos eu mesma toquei uma música na escaleta, em outra ocasião joguei pétalas de rosas. E se isso vale para a alegria, nos momentos de dificuldade como em uma escritura de inventário ou de tristeza quando há necessidade de lavrar uma certidão de óbito, temos que demonstrar nossa solidariedade. A questão burocrática acaba ficando no retrovisor; o que guardamos é a emoção no momento das assinaturas”, salienta Marilei. E se as emoções se acumulam no coração, é também nele que estão guardados os dias de luta e de vitória que acompanharam sua carreira, em um o caminho nem sempre foi calmo e florido. “As dificuldades existem em todas as profissões. Elas nos ensinam a ser profissionais cada vez melhores e a promover até mesmo melhorias nos processos. Mas não adianta olharmos apenas para elas, senão acabaremos esquecendo de tantas coisas boas que acontecem no dia a dia”, diz.

Entre as coisas boas, Marilei pode citar diversas ocasiões que lhe encheram o coração de alegria. “Foi muito emocionante ser convidada para participar do desfile comemorativo em alusão aos 75 anos do município de Videira, onde desfilei carregando a primeira escritura que lavrei. Além disso, carreguei comigo toda minha ancestralidade, meu passado, meus familiares, o histórico que minha família guarda com o Rio das Pedras e com toda região do Contestado. Essas são marcas invisíveis da minha trajetória, mas que também me constituem como cidadã. Em outra ocasião, fui convidada para as comemorações do aniversário de 80 anos da escola de Rio das Pedras, ocupando um lugar na mesa de honra para representar meus familiares que fundaram a escola e lecionaram nela no passado, quando quase não havia ensino formal. Essas duas experiências foram fundamentais para que eu me desse conta de que tinha alcançado alguma coisa, alguma notoriedade, alguma experiência”, ressalta.

E se no triângulo do sucesso de Marilei as bases são o passado e o presente, o terceiro vértice só poderia ser o futuro. Enquanto no passado a Escrivania engatinhava para se informatizar, como todas as demais do país que substituíam progressivamente os livros manuscritos por escrituras no computador, e foi uma das primeiras clientes de um provedor de internet que iniciava suas operações em Videira, sua evolução não parou nem mesmo com a pandemia. “Em agosto foi lavrada e assinada uma escritura totalmente online, elogiada por uma das partes de Florianópolis por estar a ‘Escrivania de Rio das Pedras na ponta da tecnologia, prestando um excelente trabalho’. Isso nos alegra muito!”, diz Marilei, cuja caneta está aposentada e que agora pode olhar para o futuro com a certeza de que ainda há muito o que viver e fazer.

Marilei renunciou ao cargo de Oficial em 1º de março de 2020, porém, devido à pandemia, a transferência do acervo só foi efetivada em outubro. Segundo ela, o cartório representou o cumprimento de uma missão. “Se eu lançar um olhar externo, posso afirmar que: se é verdade que todo ser humano vem para cumprir uma missão, sem sombra de dúvidas a minha missão foi ter sido Oficial de Cartório por 25 anos, cinco meses e sete dias! Deixo os mais sinceros agradecimentos à  comunidade de Lourdes, onde firmei sinceras amizades, e de Rio das Pedras, onde estão as raízes dos meus antepassados e uma grande parte da minha vida. Por fim, me reporto à Bíblia, no Livro II, de Timóteo 4:7, que diz: ‘Combati o bom combate, cumpro minha missão, guardei a Fé’”, conclui.

 

 


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